O Silêncio das Crianças

O Silêncio das Crianças

O vilarejo de **Monte Alto** nunca teve maternidade. Isolado entre montanhas, a população encolhia ano após ano, os jovens partindo para cidades maiores. Mas então, algo mudou.

As mulheres começaram a engravidar.

Mesmo as que não tinham parceiros. Mesmo as que já eram idosas.

E todas deram à luz na mesma noite.

Trinta e sete crianças nasceram em Monte Alto, e nenhuma delas chorou ao sair do ventre. Seus olhos eram de um negro profundo, sem reflexo, sem fim.

As mães tentavam amamentá-los, mas os bebês **não comiam**. Não dormiam. Ficavam apenas sentados, observando.

Uma semana depois, as primeiras mães desapareceram.

Os pais, desesperados, procuraram pela vila, mas encontraram apenas os bebês, imóveis em seus berços, olhando para o teto. Na manhã seguinte, um homem jurou ter ouvido sua esposa chamá-lo do bosque.

Ele entrou.

E nunca voltou.

Os habitantes tentaram abandonar Monte Alto, mas todas as estradas estavam bloqueadas por um nevoeiro denso, impossível de atravessar. As bússolas giravam sem parar. Os celulares não ligavam.

As crianças cresceram rápido. Em um mês, pareciam ter cinco anos. E começaram a **falar**.

**“Eles estão voltando.”**

Quando perguntaram **quem**, os pequenos sorriram.

**“Os que estavam aqui antes de vocês.”**

Naquela noite, alguém bateu à porta do prefeito.

Ele abriu.

E finalmente viu as mães.

Mas não eram mais **humanas**.

(Eduardo Andrade)
Enviado por (Eduardo Andrade) em 01/03/2025
Código do texto: T8275098
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