O canto do cisne
Celso ia como vão todos que sabem do que se trata ainda que ignorem o medo de ter clareza a respeito do destino, mas ainda assim se cagam todos diante do inevitável.
Chegou diante da lápide, jogou a moeda para cima, esta girou, girou e girou sobre seu eixo, como a vida de quem pensa que a angústia é um privilégio do sofredor, e caiu sob o dorso da mão enrugada pelo tempo.
Ahá! Gritou Celso. E, também gritou a certeza de que moedas a parte é com a indiferença do mundo que temos que conversar, ainda que esta tenha ouvidos enormes, mas seja surda.
O coveiro encontrou Celso jaz de lado, como um jazz mal feito que fez sucesso na indústria torta do entretenimento fácil.
Chamou quem tinha que chamar.
Algum tempo após, alguém lhe foi prestar homenagem, largando flores em cima do simplório túmulo. Viu uma moeda luzindo a fraca luz do sol de fim da tarde. Tardezinha. Agachou e pegou. Automático como o pau que sobe ao ver uma pulcritude em roupas íntimas, jogou-a para cima. Ela girou, girou. E girou.
Caiu. E, é isso. A vida não dá lá muita bola pro acaso.