A Sétima Testemunha
A Sétima Testemunha
Na delegacia de uma cidade esquecida pelo tempo, o detetive Marcos revia as fitas de segurança de um crime impossível. Seis testemunhas relataram o ocorrido, mas seus depoimentos não coincidiam. Não porque mentiam—mas porque cada uma viu algo diferente.
No vídeo, um beco sujo, iluminado por uma lâmpada trêmula.
Um homem entra.
E então, algo acontece.
O vídeo sempre falhava no mesmo ponto. Um chiado estático, um pulso estranho na tela, como se a própria realidade tivesse se dobrado por alguns segundos.
Quando a imagem retornava, o homem não estava mais lá.
As testemunhas contaram versões diferentes.
Uma disse que ele foi puxado para cima, como se algo invisível o tivesse agarrado.
Outra jurou que ele começou a derreter, a pele se dissolvendo sem gritos.
Uma terceira disse que ele se virou para a câmera, e seus olhos estavam vazios, sua boca se movendo como se falasse com alguém que não estava ali.
Cada testemunha viu uma verdade diferente.
Mas a fita não mostrava nada.
Marcos passou noites obcecado com o caso, assistindo ao vídeo repetidas vezes. Até que, na madrugada de domingo, ele pausou a gravação no momento exato da falha.
E viu algo novo.
No canto da tela, entre sombras que antes pareciam vazias, um sétimo par de olhos o observava.
Não piscavam.
Não pertenciam a ninguém registrado.
E então, a imagem se mexeu.
Não o vídeo.
A coisa dentro dele.
Ela virou lentamente a cabeça, como se percebesse que havia sido notada.
O computador desligou sozinho.
No silêncio do escritório, Marcos sentiu a presença atrás de si.
Alguém... ou algo... que não deveria estar ali.
Ouvindo.
Esperando.
E então, em um tom que não era humano, veio a voz:
*"Agora você também testemunhou."*
Ele não teve tempo para gritar.
Quando encontraram sua cadeira, ainda girava lentamente, vazia.
A fita foi confiscada.
E, agora, existe uma sétima versão do que aconteceu naquela noite.
Mas ninguém nunca poderá ouvi-la.