O Lugar Onde a Terra Acaba

O Lugar Onde a Terra Acaba

No mapa, a vila de Porto Branco não existia.

Os pescadores falavam dela como uma lenda — um povoado antigo, escondido entre falésias, onde o mar sussurrava em uma língua esquecida. **Ninguém ia até lá.** Ninguém voltava de lá.

Mas Miguel não acreditava em superstições.

Ele era geólogo e tinha uma missão: estudar o estranho sumiço da costa ao sul. Satélites mostravam que a linha do litoral mudava sem explicação. Como se algo estivesse **engolindo** a terra, pouco a pouco.

No terceiro dia de expedição, encontrou Porto Branco.

A vila era uma ruína de madeira cinzenta e pedras cobertas de limo. As casas estavam vazias, mas os móveis ainda estavam ali, como se os moradores tivessem simplesmente desaparecido. Redes de pesca estavam secas ao vento. Pratos comidos pela ferrugem repousavam sobre mesas.

E então, Miguel ouviu.

**O mar respirava.**

As ondas não quebravam na praia. Elas subiam e desciam ritmadas, como um peito arfando lentamente. O som era profundo, abafado, como algo **enorme** dormindo sob as águas.

Na areia, encontrou pegadas.

Mas não eram humanas.

Eram fundas demais. Longas demais. Como se algo **grande demais para andar na terra** tivesse tentado rastejar para fora do oceano.

Então, no horizonte, a névoa se ergueu.

No meio dela, um vulto alto, magro, de braços impossivelmente longos, emergiu das ondas. Não caminhava. **Deslizava.**

Não tinha rosto. Apenas uma boca que se movia devagar, como se sussurrasse algo antigo. Algo que fazia o próprio ar tremer.

Miguel tentou correr. Mas o chão sob seus pés não era mais sólido.

A terra estava afundando.

Porto Branco não estava desaparecendo.

**Estava sendo levado.**

E o mar queria mais.

(Eduardo Andrade)
Enviado por (Eduardo Andrade) em 23/02/2025
Código do texto: T8270782
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