O HOMEM TATUADO

 

Era uma noite chuvosa, as ruas estavam desertas e o frio ameaçava virar uma segunda pele em quem se aventurasse sair de casa.

 

Apenas quatro pessoas estavam naquele pequeno bar quando o homem tatuado ali entrou.

 

Todos se viraram para ver quem é que estava entrando. O casal que havia brigado o dia inteiro, o entediado dono do bar e a sua ajudante, que usava um perfume forte que impregnava o ambiente. Todos olharam ao mesmo tempo quando o estranho apareceu ali.

 

Logo perceberam que ele tinha muitas tatuagens espalhadas pelo corpo. Seus braços musculosos eram cobertos de desenhos variados, a camisa entreaberta, e levemente molhada de chuva, mostrava uma parte do que deveriam ser muitas tatuagens. Difícil não ser levado a pensar que todo o seu corpo era coberto por elas.

 

Lentamente o homem tatuado dirigiu-se ao balcão e pediu uma bebida qualquer. Sentou-se em uma das três únicas mesas existentes. Seu rosto muito alvo, com olhos de um escuro intenso, não parecia prestar atenção em ninguém ali presente.

 

A ajudante do dono do bar, ao servir-lhe a bebida, olhou com mais atenção para as tatuagens e teve a nítida impressão que uma delas se parecia com ela.

 

Discretamente o casal brigão olhou para as gravuras no homem estranho. Ambos ficaram em silêncio. Havia algo nelas que fazia referência a eles.

 

Para o dono do bar aqueles desenhos pareciam se mexer. Com horror, achou que um deles estava olhando diretamente para ele.

 

O homem tatuado terminou sua bebida, deixou uma nota graúda em cima da mesa, e foi embora sem olhar para ninguém.

 

A chuva passou, o dono do bar fechou seu estabelecimento, e todos foram para as suas casas.

 

Ao chegar em sua humilde casa, a mulher que usava perfume forte chorou. Todas as carências e futilidades, que compunham a sua vida, emergiram naquela noite.

 

Deitados um ao lado do outro o casal decidiu que não haveria futuro para eles.

 

O dono do bar, sem conseguir dormir, não parava de pensar o quanto a sua existência era tola e sem sentido.

 

A noite avançava e um homem tatuado dobrava uma esquina qualquer...

 

 

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 23/02/2025
Reeditado em 02/03/2025
Código do texto: T8270678
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