O Último Degrau
O Último Degrau
A escadaria não estava lá ontem.
Eduardo passava todos os dias pelo mesmo caminho, uma trilha de terra batida no Parque das Rochas Negras, um lugar antigo demais para pertencer ao mundo dos homens. Mas, naquela manhã, entre as árvores torcidas e os arbustos ressequidos, algo novo se erguia: uma escadaria de pedra escura, subindo em espiral, sem apoio, sem destino visível.
Não havia marcas no chão, nenhum sinal de construção recente. Apenas aquela escada impossível, como se sempre tivesse estado ali.
A polícia foi chamada, mas ninguém conseguiu explicar. Estruturas assim **não deveriam se sustentar sozinhas no ar**. Geólogos tentaram analisar a pedra, mas os instrumentos falharam. Alguns diziam que parecia basalto, outros afirmavam que não era de material conhecido.
O primeiro homem a subir não voltou.
Chamava-se Ramiro, um turista curioso demais. Subiu os degraus sem hesitar, contando-os em voz alta. *Um, dois, três…*
Quando chegou ao trigésimo segundo, desapareceu. Não houve grito, não houve queda. Apenas **sumiu**, como se tivesse pisado para fora da realidade.
A escadaria permaneceu.
Nos dias seguintes, os que subiam além do trigésimo segundo degrau não voltavam. Tentaram jogar cordas, mandar drones, mas tudo que ultrapassava aquele ponto simplesmente… deixava de existir.
Eduardo não conseguia dormir. Ele sonhava com a escada, com um **som** que vinha de cima dela.
Algo o chamava.
Na noite sem lua, sem dizer a ninguém, começou a subir.
Cada degrau parecia absorver o som de seus passos. O mundo ao redor escurecia, como se a escada existisse numa fenda entre o real e o que vem depois.
Quando chegou ao trigésimo segundo degrau, **viu**.
O céu acima não era o céu. Era um vazio pulsante, um oceano de sombras vivas. E dentro dele, algo descia. Algo que **não tinha forma fixa**.
Mil olhos se abriram e **o notaram**.
A escada nunca levava para cima.
Ela era um **convite para baixo**.
Na manhã seguinte, Eduardo não estava mais ali.
Mas um novo degrau havia surgido.
E agora, quando o vento passa pela escadaria, ele traz uma voz distante, murmurando…
*"Suba."*