O Armazém no Fim da Estrada
O Armazém no Fim da Estrada
A cidade de Hollow Creek não existia em nenhum mapa moderno. Um lugar esquecido, com ruas esburacadas e um céu que parecia sempre cinza, independentemente da previsão do tempo.
Era o tipo de lugar onde coisas desapareciam. E onde as pessoas sabiam não fazer perguntas.
Mas Owen McCallister não era uma dessas pessoas.
Ele era repórter de um jornal falido e, depois de receber uma dica anônima sobre estranhos desaparecimentos na cidade, decidiu investigar. Todas as pistas o levaram a um único local: **o Armazém 16, no fim da estrada 88**.
Um prédio sem janelas, de concreto desbotado. Não havia registros de sua construção. Nenhum nome na fachada. Apenas uma porta metálica, sempre entreaberta.
Owen passou pela porta hesitante. O ar lá dentro estava abafado, com um cheiro de eletricidade e algo levemente adocicado, como carne velha.
As prateleiras estavam cheias de caixas, algumas abertas, revelando conteúdos absurdos:
- Uma fita cassete com ruídos que causavam náuseas, mesmo sem fones.
- Um espelho que refletia o armazém, mas sem Owen.
- Uma fotografia amarelada de uma cidade que **não existia**, pois o céu na imagem estava… errado.
Ao fundo, uma mesa. E atrás dela, uma figura.
O homem era magro, muito alto. Seu terno estava alinhado, mas feito de um tecido que Owen nunca tinha visto antes. Parecia brilhar de um jeito que os olhos não conseguiam focar.
— Você chegou cedo demais — disse a voz, sem pressa.
— O que é este lugar?
O Arquivista sorriu, os dentes finos e translúcidos.
— Um ponto de coleta.
— Coleta do quê?
O homem apontou para as caixas ao redor.
— De tudo o que não deveria existir.
Owen sentiu um arrepio.
— Mas… quem decide isso?
O Arquivista inclinou a cabeça, como se a pergunta fosse infantil.
— Você acha que a realidade é estável, senhor McCallister? Acha que o mundo segue regras fixas?
Ele se levantou, e Owen viu algo **errado**. As sombras atrás do Arquivista não o seguiam corretamente. Algumas se moviam antes dele, outras demoravam um pouco demais para reagir.
— Há coisas que… escapam. Conceitos, imagens, sons que nunca deveriam ter surgido. Nós recolhemos esses fragmentos **antes que as mentes humanas se quebrem tentando entendê-los.**
Owen sentiu a boca secar.
— Então por que me deixou entrar?
O Arquivista sorriu de novo.
— Porque hoje, senhor McCallister, um novo arquivo chegou.
Ele empurrou uma pasta de papel envelhecido na direção de Owen.
Havia apenas uma folha dentro.
E nela, uma única foto.
Era Owen.
Sentado à mesa.
Com um sorriso **largo demais** para ser humano.
E atrás dele, sombras que não se comportavam corretamente.
Ele olhou para o Arquivista. Mas o homem não estava mais ali.
A porta de metal estava fechada.
E, em algum canto do armazém, **alguém novo estava chegando.**