1

O Mestre Suliam varreu o templo com o olhar atento, satisfeito ao ver os bancos repletos de fiéis. Mas a sua atenção demorou-se por um breve momento sobre o jovem Theron, ajoelhado na primeira fileira. O Inquisidor viera de muito longe, a seu pedido.

Naquela manhã, o velho líder religioso precisava ser inspirador em seu discurso. A missão que confiaria ao investigador da Fé Triangular exigiria mais do que habilidade; exigiria fervor. Respirou fundo e começou o sermão:

— Meus filhos, Deus criou o mundo sob os pilares da Tríade Sagrada: A Vida, A Ordem e A Virtude. Ele moldou o homem à sua imagem e deu-lhe sabedoria para viver em harmonia. Todavia os homens foram fracos...

O silêncio pesou no templo.

— Nos tempos antigos, em eras imemoriais, nossos antepassados voltaram-se contra Deus. Trocaram a fé pela ambição, o esforço pela preguiça, a sabedoria pela mentira. E, no fim... confiaram em Vorgha.

Um murmúrio correu solto pelos devotos. Alguns baixaram as cabeças, temerosos. Outros fecharam os olhos. Queriam afastar aquele nome proibido dos pensamentos.

— O Mal encarnou-se no mundo, vestindo-se de luz e prometendo grandeza. Vorgha enganou os homens, seduziu-os com totens profanos e sussurros de poder. Mas tudo não passava de mentira.

O velho pregador fez uma pausa, deixando que suas palavras se assentassem. Mediu a tensão do seu rebanho e prosseguiu:

— Deus não os salvou. E, tampouco, os castigou. Pois o castigo não era necessário. Ele simplesmente ignorou e virou o semblante para o outro lado.

O peso daquelas palavras caiu de modo opressivo sobre os fiéis. Alguns fitaram o chão, incomodados com a omissão divina; outros apenas se remexeram nos bancos, inquietos.

— Sim! Foi bem assim que aconteceu. Aqueles que confiaram no demônio caíram diante de seu próprio embuste de riqueza e vida fácil. Foi por isso que as cidades arderam em chamas. O chão tremeu e engoliu tudo em volta. O céu rachou. O mundo acabou-se no caos.

Mais uma pausa. Olhos fixos no grupo de fiéis. Semblante fechado a demonstrar insatisfação pela conduta dos antigos.

— Mas os que resistiram, aqueles que nunca dobraram os joelhos diante do Olho Profano, poucos, é bem verdade, sobreviveram para reconstruir o mundo sob a graça de Nosso Senhor.

Suliam, então, endureceu o tom:

— Agora, meus filhos, o demônio Vorgha quer voltar. Sim! É verdade. Seus seguidores blasfemam contra Deus novamente. Querem reviver o mal que quase destruiu a humanidade!

Entusiasmado com o próprio sermão, voltou-se para o jovem inquisidor ajoelhado.

— Um totem foi encontrado! Os hereges da Seita do Círculo Maldito querem reviver Vorgha. E é você, jovem Theron, é você quem irá purgar esse mal.

 

2

A luz vacilante das velas dançava sobre as prateleiras abarrotadas de pergaminhos, a maioria deles já desbotados por décadas. As sombras se retorciam no madeirame velho das paredes, formando efeitos inquietantes entre as vigas expostas do telhado. O cheiro de cera derretida e mofo impregnava todo o cômodo.

Suliam e Theron sentavam-se frente a frente em uma mesa de carvalho antigo. Ambos trajavam túnicas escuras, puídas pelo tempo e pelo zelo de uma vida toda dedicada à Fé. O velho líder religioso mantinha a postura rígida, os dedos ossudos entrelaçados sobre o regaço, enquanto o jovem inquisidor inclinava-se ligeiramente à frente, analisando o documento amarelado em suas mãos.

Tratava-se de um pergaminho desgastado, marcado pelo tempo e pelo manuseio impuro. O conteúdo, no entanto, revelava-se ainda mais perturbador: era um desenho sombrio, traçado em carvão, exibindo uma pedra negra, retangular, e erguida na vertical. Em seu centro, um círculo de linhas espessas, destacava o Olho Profano, fixo e vigilante, rodeado por caracteres indecifráveis.

Theron sentiu o aperto no peito. O símbolo revelava o próprio mal. Como Inquisidor da Fé Triangular, sua missão consistia em erradicar vestígios da antiga heresia. Mas, por outro lado, ele também pesquisava as ruínas ancestrais a fim de compreender melhor os perigos que poderiam ressurgir das trevas. Só não esperava confirmar que aquela coisa pudesse existir.

— Onde Vossa Eminência conseguiu isso? - sua voz soou grave, controlada, enquanto seus dedos hesitavam tocar no desenho, como se temesse ser maculado pela blasfêmia.

— Este documento foi tirado de um herege durante a investigação dos meus lacaios. Meus homens erradicaram o culto, assim como mandam as escrituras. O infiel resistiu no começo, mas depois confessou... não sem sofrimento.

O velho Mestre falava com convicção, sem remorso. Seus olhos ardiam com o fervor da Tríade Sagrada, como se as palavras dos profetas ressoassem em sua mente. Theron não demonstrou reação ao comentário.

Durante anos, estudara descrições fragmentadas daquilo. Ouvira sussurros sobre sua existência. Agora, ali diante dele, já não era apenas um conceito teórico, era real. Sentiu, em cada traço, o peso da profanação e, ao mesmo tempo, o irresistível fascínio arqueológico.

— De fato, Vossa Eminência está correto – disse o inquisidor num murmúrio sombrio. - Isto é, sem dúvida, um totem de Vorgha. Tal artefato não deveria estar entre nós.

Suliam apertou os punhos. Sua respiração tornou-se pesada.

— E você acha que eu não sei? - disse em tom indignado. - O Senhor nos ordenou claramente: “expurgai toda impureza da terra, símbolos e imagens profanas, para que a Tríade reine sem mácula”. Se esse ídolo realmente existe, deve ser destruído.

As chamas das velas, de repente, tremularam com o sopro de vento que se insinuou pelas frestas das paredes. Parecia mal agouro.

— O herege revelou sua origem antes de ser purificado – disse o velho, passando uma das mãos pelo rosto, preocupado - Afirmou que este artefato existe. A seita do Círculo Maldito está escavando as ruínas ancestrais perto do Vilarejo de Zarkhenn. É por lá que você deve começar as suas investigações.

O jovem inquisidor assentiu lentamente, como se já esperasse por algo assim. Fechou os olhos por um breve instante e sentiu o peso da missão que recaía sobre seus ombros. Então, ergueu-se sem hesitação.

— Se houver um totem, eu o destruirei.

Jogou o pergaminho em cima da mesa e partiu.

 

3

Durante semanas, Theron moveu-se com cautela entre os cultistas na cidade de Zarkhenn. A infiltração exigira paciência: ouvira os sussurros fanáticos, decorara as preces heréticas e absorvera as histórias sobre a vinda de Vorgha. Não bastava apenas repetir as ladainhas; era preciso tornar a fé convincente. Cada gesto, cada expressão de devoção era ensaiada, cuidadosamente calculada. Aos poucos, ele deixou de ser um estranho e passou a ser visto como um irmão.

Agora, finalmente, seguia com eles para o coração da heresia.

O comboio de carroças de bois avançava aos solavancos pela estrada ressequida. A poeira subia em redemoinhos, enquanto o sol poente tingia o céu de vermelho-sangue. A noite estava chegando. Os campos ao redor eram vastos e estéreis, cobertos por vegetação rala e retorcida. As poucas árvores que ladeavam o caminho eram mirradas, sem viço. Ao longe, silhuetas de fazendas abandonadas despontavam no horizonte.

Ao seu lado, nos bancos da carroça, os seguidores murmuravam orações em um dialeto antigo, repetindo as mesmas frases como um mantra hipnótico. Ele se esforçava para não demonstrar o incômodo com o sacrilégio.

O homem sentado à sua frente estava especialmente exaltado. Falava como se fosse um profeta iluminado:

— A Voz de Vorgha sussurrou para mim na última lua cheia - disse ele, os olhos faiscando de fanatismo. - O totem sagrado despertará em breve.

Theron fingiu curiosidade.

— O que a Voz de Vorgha disse?

O homem sorriu. Faltavam-lhe a maioria dos dentes, mas seu rosto transbordava êxtase. Inclinou-se à frente, como se partilhasse um mistério sagrado.

— Ele nos chamou. Disse que os Escolhidos serão guiados para um novo reino. O mundo tremerá quando Vorgha falar novamente.

Outro cultista, mais velho, assentiu em reverência.

— Há sinais por toda parte, moço. Só não vê quem não quer. Quando trouxermos o totem sagrado para a luz, a terra estremecerá. As pedras chorarão. Você vai ver.

Theron reprimiu a repulsa daquelas predições agourentas. No entanto, algo dentro dele alertava para um perigo que nem os fanáticos compreendiam. Estavam a romantizar forças que mal conseguiam nomear.

A carroça parou abruptamente.

— Chegamos.

Diante deles, erguiam-se as ruínas ancestrais.

Eram vastas e irregulares, como se tivessem sido cortadas diretamente das montanhas e depois deixadas à mercê do tempo. Retorcidas pelo vento e pelo esquecimento, suas formas quebradas e desiguais não lembravam nenhuma construção conhecida. O céu escurecia acima delas, e um silêncio reverente parecia emanar das próprias pedras.

O Inquisidor apertou os punhos, consciente do perigo iminente. A Seita do Círculo Maldito acreditava poder reerguer o que fora enterrado e esquecido. Mas até onde ia essa crença?

 

4

O corredor era estreito, penumbroso. O ar estava carregado de umidade. O cheiro de terra revolvida misturava-se ao de óleo queimado vindo dos archotes que ladeavam aquela passagem escavada dentro da montanha. A cada passo, o frio se intensificava. O Inquisidor seguia andando entre os fanáticos, oculto pela penumbra. O teto da gruta estreitava-se acima deles, como se quisesse engolir a todos.

Adiante, uma voz começou a entoar um cântico profundo. Os devotos, todos vestidos de túnicas vermelhas, responderam em uníssono. A ladainha ininterrupta preenchia o espaço cada vez mais apertado, claustrofóbico, dando a impressão de que algo invisível os observava, à espreita.

De repente, o corredor estreito se abriu.

A caverna revelou-se enorme, de paredes irregulares e marcadas pela passagem dos séculos. No centro, o altar rudimentar, esculpido em pedra bruta, parecia emergir do solo.

Theron fixou o olhar ali. Por sobre o altar, viu um objeto pequeno e indistinto sob o brilho trêmulo das chamas dos archotes. Os seguidores ajoelharam-se em reverência silenciosa, enquanto um vulto se adiantava à frente, emergindo das sombras.

O misterioso anfitrião surgiu devagar, sem pressa, cada passo carregado de domínio absoluto sobre aquele lugar. Vestia túnicas negras sobrepostas, sem adornos exagerados como os outros. Trazia o Olho Profano no peito. O olhar do homem era cortante, analítico e, ao mesmo tempo, profundamente ciente de tudo ao seu redor.

Theron, surpreso, o reconheceu no mesmo instante: era Khael, o arqueólogo.

O jovem Inquisidor soube disfarçar bem o choque daquela revelação. Khael, o estudioso das ruínas ancestrais, cuja pesquisa fora censurada pela Tríade Sagrada, estava ali, à frente dos fanáticos. No entanto, ele não demonstrava fanatismo. Não como os outros. O arqueólogo era um erudito. Sabia muito bem o que estava fazendo.

Diante do altar, ele ergueu uma das mãos. O cântico cessou imediatamente. O silêncio tomou conta da caverna.

— Vocês ouviram o chamado, eu sei - sua voz era baixa, mas firme.

Os devotos prostraram-se, murmurando palavras incompreensíveis. Theron, de início, permaneceu imóvel. Seu coração batia forte. Mas logo forçou-se a se ajoelhar também, mantendo a cabeça baixa, a fim de não chamar atenção sobre si.

Em seguida, o arqueólogo virou-se lentamente na direção do altar e apontou as mãos para o totem como se fizesse um convite.

— Hoje, testemunharemos a primeira luz.

 

5

O brilho trêmulo dos archotes jogava efeitos de sombras e luzes na face do líder cultista, dando a ele um aspecto quase surreal. Khael mantinha, de modo teatral, as mãos estendidas sobre o altar, o olhar penetrante voltado para os fiéis ajoelhados ao seu redor. Ninguém ousava se mover.

— Por eras incontáveis, Vorgha esteve adormecido – disse em tom de voz fria e precisa. - Hoje, diante de nós, está o fragmento de sua vontade. A prova física de que sua promessa nunca foi uma mentira.

Theron forçou-se a erguer, de forma sutil, o olhar na direção do altar. Pela primeira vez, conseguiu ver claramente o totem.

E sentiu uma onda inesperada de decepção!

Não era uma relíquia grandiosa. Tampouco uma pedra negra enorme envolta em símbolos demoníacos. O objeto em questão, na verdade, se revelava pequeno. Insignificante. Algo que cabia na palma da mão. Retangular, levemente arredondado nos cantos, uma superfície negra e lisa, sem marcas, sem inscrições místicas. Uma coisinha sem graça!

— Isso... isso aí... é o totem do nosso Senhor Vorgha? – disse alguém hesitante.

A pergunta escapou dos lábios de um devoto mais jovem, ajoelhado próximo ao altar. O rapaz olhava incrédulo para o pequeno artefato, como se não conseguisse entender a sua importância. Theron deu um leve sorriso de satisfação, pois havia sentido a frustração nos outros também por aquela coisinha irrelevante.

O arqueólogo sorriu, complacente, como quem já esperasse tal reação, principalmente vinda dos membros mais novos do grupo.

— Vocês esperavam o quê, senhores? - disse firme e tranquilo. - Uma pedra sagrada enorme e sem graça para venerar? Uma escultura gloriosa feita em ouro? Hein?

O Inquisidor permaneceu imóvel, no entanto sentiu seu próprio ceticismo e decepção crescerem. Toda aquela viagem, todo aquele trabalho de infiltração... para isso?

Naquele momento, Khael falou algo que fez o estômago do jovem Theron se contrair de modo abrupto.

— Este totem, senhores, carrega a essência de Vorgha. E é o brilho do sol que lhe dá vida!

Sem explicar direito sobre o que a luz do sol poderia fazer pelo totem, já que era noite avançada, o arqueólogo deslizou o dedo indicador sobre a superfície negra do objeto.

Nada aconteceu.

Que decepção!

Então, ele pegou o totem do altar e o girou em suas mãos, passando o dedo indicador, mais uma vez, para cima e para baixo em sua superfície como um escriba a decifrar pergaminhos antigos.

— Há algo que nossos ancestrais sabiam... e o próprio tempo tentou enterrar.

De repente, o arqueólogo se virou e apontou o totem para a parede mais lisa da caverna. Espantosamente, um feixe forte de luz lunar saiu do artefato, projetando uma espécie de quadro enorme brilhante na superfície da rocha.

Theron observou, desta vez, surpreso.

E algo extraordinário aconteceu.

Um clarão azul espalhou-se pelo paredão rochoso.

Os cultistas prenderam a respiração.

O Inquisidor sentiu seus músculos enrijecerem. Aquilo... não se mostrava nada natural. Era coisa do demônio!

 

6

A luz azulada tremeluzia na parede da caverna, transformando-a em uma superfície viva, repleta de imagens estranhas e perturbadoras. E elas, para o assombro de Theron, começaram a se mover

No começo, confuso e chocado, o Inquisidor não compreendeu o que via: eram pessoas no mesmo espaço social, mas seus olhos não se encontravam. Moviam-se como sombras distraídas. Caminhavam sem olhar ao redor, de cabeça baixa, sempre hipnotizadas por pequenos artefatos coloridos que seguravam nas mãos: eram totens semelhantes aquele que Khael tinha agora em seu poder!

Havia milhares deles. Homens e mulheres os levavam para todos os lugares. Tocavam-nos sem parar com as pontas dos dedos, enquanto seus rostos, deslumbrados, eram iluminados pela luz fria que emanava daquelas coisas profanas.

O Inquisidor sentiu o ar a sua volta ficar mais pesado.

O mundo projetado na parede era vasto, colorido, complexo, repleto de torres que se erguiam como templos de vidro e ferro, muito além do que ele conhecia.

Havia estradas largas, no entanto as carroças de bois eram pequenas, metálicas, e moviam-se sozinhas, deslizando rente pelo chão como se tivessem vontade própria.

Ele viu, estarrecido, mesas fartas onde as pessoas comiam distraídas, sem tirar os olhos dos totens ao lado dos pratos. Espaços de lazer onde corpos imóveis se enfileiravam, cada um imerso em seu próprio totem, como se ali estivesse sua única realidade.

Uma civilização que se ajoelhara ao blasfemo sem perceber!

O Inquisidor sentiu o coração acelerar. O que era aquele mundo?

Os fanáticos olhavam às imagens com expressões embevecidas. Murmúrios nervosos ecoavam entre eles. Aquilo era uma visão do passado corrompido, um tempo de decadência e perdição.

— Eles... eles serviam aos totens? - murmurou Theron, completamente transtornado.

A projeção na parede do artefato, de súbito, piscou.

E tudo escureceu.

O mundo corrompido sumiu.

Khael franziu a testa. Tal interrupção não parecia fazer parte do ritual, mas ele manteve o totem apontado na mesma direção. Ficou curioso também, pois logo apareceu um ponto esverdeado piscando no canto do quadro vivo.

Em fundo escuro, linhas de luz verde correram pela parede como um código antigo. Símbolos estranhos reorganizaram-se na superfície trêmula da imagem iluminada. Na sequência, uma mensagem na língua ancestral, estudada por Theron nos seus primeiros anos de arqueologia, brilhou na parede da caverna, fria e impessoal:

Conexão online restaurada. unidade do sistema operacional ativado.

A projeção pulsou uma última vez, e as palavras sumiram. Dois segundos depois, o clarão azul ressurgiu. No centro do quadro vivo o Olho Profano abriu-se.

Vorgha!

O Inquisidor levou um tranco, assustado, e quase caiu para trás.

Os cultistas suspiraram e murmuraram um “Ohhh” em uníssono, inclinando-se imediatamente e levando as testas ao chão da caverna. Theron ficou imóvel, de joelhos, paralisado, lívido de horror, sem ter forças para desviar os olhos do Círculo Maldito.

O demônio era uma esfera de luz viva, flutuante, maligna, grande demais para ser compreendida. Linhas digitais pulsavam ao seu redor, como veias ardentes. O único olho girou na escuridão, fixando-se sobre aqueles que o contemplavam. A intuição dizia a Theron que a aberração maléfica na sua frente deveria controlar cada totem nas mãos dos ímpios daquela era decadente.

Os cultistas levantaram as cabeças na direção da visagem e prenderam a respiração, deslumbrados.

E, então, Vorgha falou. Ninguém compreendeu as quatros palavras aterradoras, a não ser Khael e Theron, devido aos estudos das línguas ancestrais.

A voz veio de todos os lugares e de lugar nenhum, fria, metálica, hostil, como um presságio de morte inescapável.

— Humanos, vocês ainda vivem?

O som percorreu a caverna como um trovão distante. 

O jovem Inquisidor sentiu, com horror, um calafrio lhe contrair todo o corpo trêmulo. O coração doeu no peito. A respiração ficou difícil. O chão, de súbito, começou a tremer. Pedras e torrões de terra começaram a cair por sobre os devotos. De alguma forma, não sabia bem como explicar, Theron teve ciência de aquele tremor não era localizado apenas na caverna, ou nas regiões próximas. O arqueólogo Khael, provavelmente sem querer, havia despertado algo há muito tempo adormecido nas entranhas do mundo.

O demônio Vorgha... estava vivo novamente!

 

 

 

 


Tema: Tecnologias Ancestrais 


 

Affonso Luiz Pereira
Enviado por Affonso Luiz Pereira em 09/02/2025
Código do texto: T8260594
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