O Poço que Canta na Escuridão
O Poço que Canta na Escuridão
O vento do Atlântico sussurrava entre as ruínas do vilarejo de Baile na nGaill, onde as pedras ancestrais sussurravam lendas antigas. Entre as sombras de um céu encoberto, Ciarán O’Daly avançava hesitante, os passos afundando na lama úmida. Ele viera por insistência de um professor da universidade, que falava de uma canção esquecida, um cântico murmurante ouvido apenas pelos loucos e pelos condenados.
No coração das ruínas, encontrou uma fenda na terra, um poço natural cujas águas eram negras como óleo. O povo local falava dele em tons de temor, chamando-o de **Tobar na gCnámh** — o Poço dos Ossos. Quando Ciarán se inclinou para observar, uma ondulação quebrou a superfície… e então, a voz começou.
Baixa, gutural, sem palavras discerníveis, mas carregada de uma agonia tão profunda que fez seu sangue gelar. Seu corpo reagiu antes de sua mente—ele tropeçou para trás, o coração martelando. **Era apenas o vento? Apenas a água?** Mas então, algo emergiu da escuridão.
O primeiro a surgir foi um osso longo e esverdeado, deslizando lentamente para a margem. Então, um crânio deformado, com marcas como de tentáculos, escorregou para fora, gotejando um lodo opalescente. Mais e mais ossos surgiram, se reunindo como se uma coisa invisível estivesse sendo moldada na lama. Ciarán tentou correr, mas sentiu o ar ao seu redor se tornar espesso, como se mãos fantasmagóricas segurassem seus tornozelos.
A voz… a **canção**… ficava mais alta, e então ele compreendeu.
Não era um som natural. Era **um chamado**.
Os ossos não eram ossos. Eles **estavam se movendo**.
De dentro do poço, uma silhueta se ergueu, costelas rangendo como cordas desafinadas de uma harpa de pesadelo. Não era humano, nem animal, mas uma coisa esquecida, um **fóssil vivo de tempos antes dos deuses da Irlanda**. O que quer que fosse, **cantava**, sua boca inexistente proferindo versos de um idioma que a mente de Ciarán não conseguia compreender, mas seu corpo sim—ele sentiu as articulações queimarem, os músculos travarem, sua própria carne responder ao cântico como se estivesse sendo **reescrita**.
Ele tentou gritar, mas sua voz foi roubada.
Antes que a noite o engolisse por completo, um pensamento final cruzou sua mente já quebrada: **a canção nunca para. Ela apenas espera pelo próximo a ouvir.**
E em Baile na nGaill, sob a lua sem luz, o poço permaneceu. Aguardando. **Chamando.**