A Casa Sem Portas
A Casa Sem Portas
No vilarejo de Hollowbrook, havia uma casa que ninguém ousava mencionar. Ela ficava na Rua dos Salgueiros, entre duas residências antigas, mas ninguém lembrava quando fora construída. Seu telhado era baixo, suas janelas escuras, e o mais estranho: ela não tinha portas.
Mesmo assim, à noite, luzes acendiam-se lá dentro.
Jeremy Clarke, um arquiteto forasteiro, chegou à cidade para estudar suas construções históricas. Quando ouviu sobre a casa sem portas, ficou intrigado. Como alguém poderia morar ali? Os moradores apenas desviaram o olhar quando ele perguntou.
— Ela sempre esteve ali — disse uma mulher idosa. — Não pergunte mais.
Isso só aumentou sua curiosidade. Naquela noite, Jeremy levou uma lanterna e foi até a Rua dos Salgueiros. A casa estava lá, imóvel, como se esperasse por ele. A lua projetava sombras retorcidas em suas paredes rachadas.
Ele circulou a construção, tocando suas superfícies frias. Nenhuma entrada. Nenhum sinal de rachaduras ou passagens escondidas. Apenas pedra sólida.
Mas, de repente, luzes amareladas se acenderam dentro da casa.
Jeremy recuou. Como aquilo era possível? Então, ele ouviu passos lá dentro.
Alguém se movia. Alguém estava vivendo ali.
Aproximou-se de uma das janelas e espiou. O vidro estava embaçado, mas algo se movia lá dentro — sombras dançavam, alongando-se de maneira errada, como se os corpos ali dentro não tivessem uma forma fixa.
E então… um rosto surgiu.
Era pálido e enrugado, mas seus olhos eram negros e fundos, como buracos perfurados no tecido da realidade. A boca se abriu devagar, revelando dentes finos e pontiagudos que se estendiam até onde não deveriam.
Jeremy tropeçou para trás, seu coração martelando no peito.
E foi então que ele percebeu.
A casa agora tinha uma porta.
Uma porta que não estava lá antes.
E ela estava aberta.
Um vento frio soprou de dentro da casa, carregado com um cheiro de umidade e carne podre. Algo murmurava em seu interior, vozes impossíveis sussurrando seu nome.
Jeremy queria correr, mas seus pés estavam presos ao chão, como se raízes invisíveis o segurassem.
A porta escancarou-se ainda mais.
Uma sombra deslizou pelo chão como um líquido, avançando em sua direção. A última coisa que viu foram dezenas de mãos saindo da escuridão, dedos finos e alongados agarrando seu corpo.
No dia seguinte, a casa estava novamente sem portas.
E, naquela noite, as luzes voltaram a acender-se.