A Mãe das Profundezas
A Mãe das Profundezas
O farol de Blackwater Point estava abandonado há décadas. Cravado na beira de um penhasco, resistira ao tempo como um cadáver esquecido, sua estrutura corroída pela maresia. Mas, naquela noite, Thomas Everly precisava estar ali.
Ele era oceanógrafo e tinha recebido um chamado anônimo sobre um estranho fenômeno na costa. Relatos falavam de um brilho esverdeado emergindo da água, de ruídos impossíveis captados por sonares de pesca, de peixes encontrados mortos com suas entranhas reviradas e olhos fundidos em uma massa gelatinosa. Curioso e cético, Thomas pegou seu gravador, um caderno de anotações e foi até o farol, onde a vista era perfeita para observar o mar.
A lua estava oculta por nuvens pesadas, e o vento soprava em rajadas úmidas e cortantes. Ele montou seu equipamento perto da beirada do penhasco e mirou os olhos para o oceano. Tudo parecia normal — até que um som emergiu das profundezas.
Não era o uivo do vento, nem o rugido das ondas. Era um chamado, um lamento vibrante que atravessava o ar como um sussurro dentro da própria mente. Thomas sentiu um arrepio escorrer por sua espinha. Então, a água se agitou.
Algo estava subindo.
Primeiro veio o brilho, uma luminescência esverdeada que pulsava sob a superfície, como se um coração gigantesco batesse nas entranhas do mar. Depois, formas emergiram: longos tentáculos negros, resvalando na rocha como se testassem o terreno. Eram lisos, mas cobertos por olhos minúsculos e famintos, piscando em desordem.
Thomas recuou, mas não conseguiu tirar os olhos da criatura. Ela se erguia lentamente, revelando uma massa informe, pulsante e disforme. No centro de sua carcaça bulbosa, uma boca começou a se abrir—mas não era uma boca comum. Era um buraco espiralado, um túnel de carne que girava para dentro, sugando a própria luz ao redor. O som ficou mais alto, reverberando dentro da cabeça de Thomas, que caiu de joelhos, ofegante.
Ele sentiu quando sua mente começou a se desfazer.
O chamado era uma canção, uma voz materna que sussurrava segredos antigos, promessas de pertencimento. Thomas compreendeu, então, que não era um visitante ali. Ele sempre fora parte daquilo. A criatura não era um monstro, não era um ser hostil.
Ela era a Mãe.
E ela havia voltado para buscá-lo.
Com um sorriso ausente, Thomas se ergueu e caminhou até a beira do penhasco. A criatura abriu seu ventre, e os tentáculos o envolveram com um toque suave. Quando ele foi puxado para dentro daquela vastidão escura e úmida, soube que nunca mais voltaria.
Na manhã seguinte, o farol continuava lá, solitário e apodrecido.
Mas no fundo do oceano, a Mãe das Profundezas pulsava em êxtase, sussurrando para aqueles que ainda sonhavam com o chamado.