A Coisa Que Caminha Atrás
A Coisa Que Caminha Atrás
O Dr. Alan Whitmore era um antropólogo renomado, especializado em mitos e lendas esquecidas. Quando recebeu uma carta anônima falando sobre o "Passo Invisível" — uma entidade que só pode ser percebida pelo som de seus passos atrás de você — ele achou que era apenas mais uma superstição perdida no interior da Nova Inglaterra.
A carta era direta:
*"Ela só caminha quando você não está olhando. Se ouvir um passo atrás de você, jamais vire para ver. Apenas continue andando."*
Intrigado, Alan viajou até a cidade mencionada na carta, Black Hollow, uma vila cercada por densas florestas. Quando chegou, encontrou casas vazias, janelas fechadas e ruas desertas. Os poucos moradores que restavam se recusavam a falar sobre o assunto.
Apenas um velho, Samuel, concordou em conversar.
— Nós ouvimos os passos pela primeira vez há cinquenta anos — sussurrou, suas mãos trêmulas segurando um copo de chá frio. — No começo, era só uma sensação… Como se alguém estivesse atrás de você. Mas quando você parava, o som parava também.
— E se alguém tentasse olhar? — Alan perguntou.
Samuel empalideceu.
— Eles desapareciam. Nunca encontramos os corpos. Apenas pegadas... Pegadas que terminavam do nada.
Alan decidiu testar a lenda naquela mesma noite. Caminhou pela estrada deserta nos arredores da vila, seu gravador ligado, captando cada som. A floresta ao redor era densa e sufocante, os galhos torcidos parecendo mãos esqueléticas apontando para ele.
Então, aconteceu.
Um passo.
Exatamente atrás dele.
Ele parou. O som cessou.
Seu coração martelava no peito. Tentou convencer-se de que era apenas um eco dos próprios passos. Respirou fundo e continuou andando.
Passos.
Dois. Três.
Cada vez mais próximos.
Alan acelerou o passo. O som atrás dele também.
O terror cresceu em sua garganta como uma garra invisível. Algo estava ali. Algo caminhava com ele, mas não deveria existir.
Foi então que ele cometeu o erro.
Virou-se.
Por um instante, nada estava lá. Apenas a estrada vazia, a floresta e a escuridão infinita. Mas então… ele percebeu.
A estrada à sua frente… não era a mesma.
As árvores estavam erradas. As estrelas haviam desaparecido. O ar era denso, pesado, preenchido por um silêncio sufocante. O mundo que conhecia não estava mais ali.
E então ele ouviu.
Não um passo, mas dezenas. Centenas.
Caminhando em sua direção.
No dia seguinte, encontraram o gravador de Alan caído no meio da estrada.
A última coisa registrada foi um único sussurro, baixo e distorcido:
*"Agora, sou eu quem caminha atrás de você."*