Um homem morto
Todo seu comportamento se fundava na avaliação minuciosa do que pode, ou não, um cadáver, que não passa da realidade de todo homem e mulher em seu adiamento, como escreveu o poeta.
Nos flancos de cada esquina de sua existência o olhar oblíquo alcançava todas as alternativas e delas erigia a erótica certeza das justificativas que explicam cada gânglio apodrecido daquilo que somos e fazemos questão imperial que os outros, por extensão, também o sejam.
E, como aquela punheta regular, ordinária, que transborda numa ejaculação muito da frustrante, que decidimos por a alcunha de vida, que um dia alguém vai explicar melhor o que é, é muito da caprichosa, açorou-lhe as desgraças findas e os insultos para todo sempre, coisas só vistas alhures, porque em alhures todos acabamos.
Olhava através da vidraça engordurada da lanchonete ainda mais, encarando sem ver a chuva torrencial que o céu cagava sobre a cidade. Cria. Isso lhe enfiava numa, e outra, reflexão a respeito de tudo aquilo que sua ignorância havía garantido ser o que nunca é nestes casos.
O café chegou. Sentiu seu cheiro chegando ao poderoso narigão por meio das volutas clássicas da atemporal bebida.
Sorriu. Um sorriso pra dentro. Sem os dentes que sorrisos parecem exigir.
Entornou o líquido azeviche, fumegando a garganta e tossindo-lhe a alma.
Ces't lá fucking life.