O Chamado das Profundezas

O Chamado das Profundezas

No coração do Atlântico, uma pequena ilha chamada Aravés surge esporadicamente nos mapas náuticos, desaparecendo como um espectro em meio à névoa. Dizem que marinheiros que a encontram jamais retornam, e aqueles que a veem de longe relatam ruídos sibilantes que parecem entoar palavras antigas. Em 1937, o oceanógrafo Dr. Elias Moreau, intrigado pelos relatos, lidera uma expedição financiada por uma sociedade esotérica francesa conhecida como "Ordo Tenebris".

Após semanas de navegação, Moreau e sua equipe avistam a ilha, um monólito de rochas negras coberto de musgo bioluminescente. A água ao redor da ilha é estranhamente viscosa, refletindo o céu de forma distorcida. Ao desembarcarem, encontram inscrições em línguas desconhecidas gravadas em pedras dispersas, formando o que parece ser um mapa ou padrão cósmico.

Uma estranha sensação de vigilância permeia o ar. A equipe relata pesadelos na primeira noite, ouvindo um coro distante de vozes que não podem ser humanas.

Explorando o interior da ilha, Moreau encontra uma caverna oculta por videiras pulsantes. Lá dentro, um altar maciço de obsidiana parece emanar calor, embora o ambiente seja frio. Inscrições no altar descrevem uma entidade chamada Ith’ur’zeh, “O Olho que Devora”, uma força adormecida além do espaço e do tempo. A lenda sugere que a ilha é um ponto de interseção entre dimensões, onde o véu entre o real e o incompreensível é mais fino.

Entre os artefatos no altar, está uma esfera translúcida que reflete visões de galáxias colapsando e mundos sendo consumidos por uma escuridão líquida. Ao tocá-la, Moreau experimenta visões perturbadoras: figuras titânicas rastejando no vazio, olhos que se multiplicam infinitamente e sussurros de uma linguagem impossível de compreender.

A esfera começa a emitir pulsos de luz que ressoam com o oceano ao redor da ilha. De repente, o chão da caverna desmorona, revelando um abismo que parece não ter fim. Das profundezas, uma forma começa a emergir: uma entidade amorfa composta por milhões de olhos flutuantes, cada um refletindo uma versão alternativa da realidade.

A equipe, aterrorizada, tenta escapar, mas a criatura consome a mente de alguns membros, forçando-os a recitar cânticos incompreensíveis. Cada palavra distorce o ambiente, com o céu mudando de cor e as estrelas girando em padrões insanos.

Moreau descobre que a esfera é tanto um artefato de observação quanto uma âncora dimensional. Ele teoriza que destruir a esfera pode selar a conexão entre Ith’ur’zeh e o mundo deles. Porém, ao tentar destruí-la, é confrontado por visões de si mesmo em realidades alternativas, todas fracassando. A entidade, em sua vastidão, já vive em todos os momentos possíveis simultaneamente.

Desesperado, Moreau percebe que a única forma de conter Ith’ur’zeh é oferecer sua própria mente como um receptáculo temporário. Ele recita um cântico inscrito no altar, absorvendo fragmentos da consciência da criatura. Isso faz com que a entidade recue para as profundezas, mas deixa Moreau insano, balbuciando sobre a vastidão do vazio e a inevitável decadência de todas as coisas.

A ilha desaparece novamente no oceano, levando consigo os horrores que testemunharam. Apenas um sobrevivente, o jovem assistente Jean Marchand, retorna à civilização, carregando o diário de Moreau. O diário, porém, está escrito em uma linguagem que nenhum linguista consegue decifrar. Algumas noites, Jean ainda ouve os sussurros de Ith’ur’zeh e vê, em seus sonhos, o Olho que Devora aguardando pacientemente no vazio.

(Eduardo Andrade)
Enviado por (Eduardo Andrade) em 24/01/2025
Código do texto: T8248200
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