Poeira e Sangue - HISTÓRIAS DO VELHO OESTE
O sol escaldava o deserto, tingindo a areia de dourado, como se queimasse por dentro. Lupita seguia pela trilha com a mão repousada no coldre, sentindo o peso do revólver. Aquilo não parecia uma arma, mas um fardo.
— Vamos acabar com isso, Lee — murmurou. O nome do irmão soava como um lamento no ar seco.
Havia apenas um caminho. Colt Madsen estava em algum lugar nas montanhas ao norte, escondido em um acampamento que mais parecia uma ferida aberta na terra. Lupita sabia que não voltaria sem vingar Lee.
De volta a San Diablo, o médico a havia alertado.
— Você precisa de descanso, senhorita, não de vingança.
Ela havia respondido com um sorriso amargo.
— Descanso é para quem não tem contas a acertar, doutor.
A cidade havia ficado para trás, engolida pelo horizonte ondulante. A poeira subia a cada passo do cavalo. Lupita sabia que o tempo não estava a seu favor. Madsen era perigoso, e seus homens, ainda piores. Mas ela aprendera algo em suas andanças: até os mais brutais sangram quando feridos.
As montanhas surgiram à distância, escuras e ameaçadoras. Quando alcançou o vale, a noite já havia caído. A fogueira do acampamento era visível, lançando sombras grotescas nas paredes de pedra. Lupita desmontou e guiou o cavalo para um arbusto antes de seguir a pé. A areia estava fria sob suas botas, mas o calor em seu peito era um lembrete constante: raiva e dor.
Ela ouviu vozes antes de ver os homens. Risos abafados, palavras trocadas e o tilintar de garrafas. O som poderia ter assustado Lupita quando mais jovem. Agora, era apenas parte do Oeste — onde cada riso escondia uma faca, e cada promessa, uma traição.
Madsen estava no centro do grupo, sentado em um tronco com o chapéu jogado para trás. Uma arma descansava em seu colo, quase como um troféu. Sob o brilho irregular da fogueira, ele parecia maior do que realmente era. Lupita sabia que isso era ilusão. No final, ele era só um homem. E homens caem.
— Vai ficar aí até o amanhecer ou vai se juntar à festa? — A voz dele cortou o ar como um chicote.
Lupita congelou, mas percebeu que ele não falava com ela. Um dos homens riu em resposta, mas o som fez a pele de Lupita se arrepiar. Não havia como entrar despercebida. O momento de planejar havia acabado.
Ela deu um passo à frente.
— Colt Madsen! — Sua voz ecoou pelo vale, firme como a lâmina de uma faca. — Vim buscar o que você tirou de mim.
O silêncio desceu pesado sobre o acampamento. Madsen se levantou devagar, os olhos estreitos enquanto procurava pela voz. Quando viu Lupita, um sorriso frio se formou em seu rosto.
— Ora, se não é a viúva fantasma. Pensei que tivesse desistido.
— Você matou meu irmão. Vai pagar por isso.
Ele riu, um som baixo e vazio.
— Lee era um bom homem, mas fraco. Fracos não sobrevivem no Oeste, Lupita. Você sabe disso.
Ela apertou o revólver, sentindo o metal frio contra os dedos.
— Talvez seja por isso que o Oeste também não precise de você, Madsen.
Os homens ao redor do fogo se levantaram, as mãos buscando armas. Mas Madsen ergueu a mão.
— Vamos resolver isso do jeito certo. Você e eu. Agora.
Lupita assentiu, sua garganta apertada com a tensão.
— No seu tempo, Madsen.
Eles se posicionaram a poucos passos um do outro, como dois vultos contra o céu escuro. A mão de Lupita tremia ligeiramente, mas seus olhos não deixavam os de Madsen.
O disparo cortou a noite, seguido pelo som surdo de um corpo caindo. Quando a poeira baixou, Lupita estava de pé, sua arma ainda fumegando. Madsen estava de joelhos, uma mão pressionando o peito ensanguentado.
— Isso... não muda nada. — A voz dele era um sussurro áspero. — O deserto não perdoa.
Lupita se aproximou, ajoelhando-se para que ele pudesse ouvir.
— Não é o deserto que decide, Madsen. São as escolhas que fazemos.
Ela se afastou e observou enquanto a vida deixava seus olhos. Os homens ao redor hesitaram, e então começaram a recuar. Alguns fugiram, outros ficaram parados como estátuas. O líder estava morto, e com ele, sua autoridade.
No dia seguinte, Lupita cavou uma cova para o irmão nas montanhas, longe do barulho e da violência. Quando terminou, olhou para o horizonte. O sol nascente tingia o deserto de dourado suave. Ela sentiu o peso do revólver, o sangue seco ainda nas mãos.
O Velho Oeste não oferecia redenção. Mas talvez, apenas talvez, ela tivesse encontrado um pouco de paz.