Um homem de bem
Frederick Douglas escreveu que quando o escravizado se compraz da sua situação, algo nele estiou a ponto de morrer.
Eu arrisco que foi a capacidade de pensar sobre sua condição e, por consequência, se conformar com a moral de uma sociedade alienada pelo discurso que alimenta a massa.
Foi assim que ele enfiou-se numa floresta de certezas com as copas encerradas uma nas outras, impedindo que a luz da razão penetrasse no solo de seu bom senso.
Tudo começou como sempre tudo começa em situações assim. Um assim tão óbvio que é exatamente por isso impossível de enxergar a trama estúpida que foi cosida ali.
Quando o prato chegou a mesa e a comida que ele amparava não se apresentou na temperatura que considerava ideal, um furor de indignação logo transmutou-se em ódio e vilipêndio físico. Primeiro contra a louça, depois em direção as mãos de quem ali lhe alcançou a comida. Das mãos ao resto foi um átimo.
Atrás daquelas barras, de um metal insofismável em sua decisão, fleumático em sua função, ele gritava contra um país imiscuido num regime intolerante! Tonitruava de encontro a uma caterva (assim cria) que, garantia, era toda corrupta em comum.
Primaveras se passarão. Muitas. E várias.
Um dia ele, sentado em sua franciscana cama, com seu companheiro de ilegais comportamento roncando na de cima, chegou a uma conclusão. Ao menos é o que versa a lenda, pois são lendas todos que um dia já pisaram por aí.
Ei-la: acho que fui enganado.