Despertar

O Despertar em um Novo Mundo

 

A Queda do Telhado

 

Quando criança, ele vivenciou uma experiência que mudaria sua vida para sempre. Ao tentar salvar os pequenos filhotes da gatinha que alimentava todos os dias, ele subiu ao telhado de sua casa, com gesto delicado e vagaroso para não machucá-los nem os assustar, quando pisou uma telha de vidro, tudo aconteceu rapidamente; ouviu um "puuuuf", som que os bichinhos emitiram em uníssono ao quebrar a telha e, em seguida, caiu no meio da grande sala. Durante a queda, segundos pareceram uma eternidade, enquanto sua vida passava diante de seus olhos.

Ele havia ouvido falar que isso acontecia com pessoas em situações de perigo iminente, mas jamais imaginou que experimentaria algo assim.

 

Kamaloka 

 

Esse evento marcou profundamente sua vida e, aos 22 anos, ele decidiu explorar os mistérios dos momentos que antecedem a morte. Fascinado pelo desconhecido, procurava entender o que realmente acontecia com a mente e a alma nessas ocasiões. Pois, também, muito antes de cair do telhado, havia passado por uma experiência de quase morte. Um problema nos rins quase o levou, tinha “ausências” na cama, convalescendo, pois já não havia mais forças, acordava com a mãe sacudindo e chamando. Enquanto estava “ausente”, parava num lugar com luz branca fosforescente e via uma cesta vazia toda despedaçada. Anos depois um mago disse que sua alma foi parar no primeiro Kamaloka. Segundo a Wikipédia “Kama-Loka é um termo sânscrito que significa "o lugar do desejo". Na filosofia teosófica, é um plano semi-material, invisível e subjetivo, onde as formas astrais, ou Kamarupa, permanecem até que se esgotem os efeitos dos impulsos mentais que as criaram.

Kama-Loka é a etapa que precede o devachan, ou avitchi no caso de uma personalidade malvada. Após serem despertados de seu torpor pós-morte, as "almas" recém-traduzidas vão para o devachan ou avitchi, dependendo de suas atrações.

Para a Revista Bodisatva, as identidades surgem dentro de bolhas e de acordo com os referenciais de Kama-Loka. A mente pode desaparecer e surgir outra em outro lugar, a ponto de a pessoa não se reconhecer mais. “

 

O Encontro com o Mar

Um dia, decidiu entrar no mar. Sabia nadar, conquanto uma correnteza inesperada o puxou com força para baixo. Enquanto lutava para respirar, foi tomado por um desespero avassalador. Porém, de forma paradoxal, também sentiu uma paz inexplicável. Pensou nas flores que anualmente oferecia a Yemanjá na virada do ano, como agradecimento e pedido de bênçãos. Nesse estado de transe, sorriu no fundo do mar azul cristalino, cercado por peixes e sentiu a presença de entidades místicas como sereias, ninfas e ondinas.

 

 

 

O Despertar em um Novo Lugar

 

De repente, um arrebatamento o trouxe de volta à realidade. Quando abriu os olhos, estava deitado na areia, recebendo massagens cardíacas dos salva-vidas.

Ao seu redor, aplausos ecoavam pela praia, celebrando seu retorno à vida. Ele se levantou, contudo algo estava diferente. A praia não era a mesma, o país parecia outro, e as pessoas ao seu redor eram estranhas. Apenas sua mente permanecia inalterada.

Uma Nova Jornada

Estava confuso, mas também curioso. O que havia acontecido? Teria atravessado portais para dimensões paralelas ou era apenas um efeito colateral de sua experiência de quase morte? Até riu sozinho, para espanto de todos, com o pensamento que teve, depois, entre eles, conversaram e concluíram que não era maluquice nem nervosismo. Estava sim feliz por sobreviver. Julgamentos naturais, comentários de quem quer comentar e muitas vezes não domina nem o pensamento nem o uso da língua. Muitos querendo se sociabilizar, outros paquerar, uns aparecer, mostrar que são inteligentes...

Determinado a descobrir a verdade, decidiu explorar esse novo mundo que se apresentava diante dele. Assim, começava uma jornada, repleta de mistérios a serem desvendados e desafios a enfrentar.

 

Dispensou os curiosos e caminhou sozinho pela beira da praia. Onde estariam seus pertences? Para onde caminharia? Foi a pergunta que se fez depois de andar por uns dois quilômetros, andou por dias naquela praia interminável, na beira d’água.

Viu drones, ovnis, foo fighters, bolas de luz. O que seria tudo aquilo? Teria morrido? Uma solidão avassaladora. A cor do mar mudou. Agora era de um azul muito escuro com bichos e seres marinhos jamais vistos. Ondas gigantescas. “Quero voltar!” Disse em voz alta. E mergulhou cortando as ondas.

 

Foi puxado para cima e viu uma luz muito forte, puxou o ar, tossiu engasgado com a água. Estava no mesmo lugar de antes. Ficou feliz, pois sobreviveu.

Falou alto e todos riram na praia: “Yemanjá não me quis e me devolveu!”

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Feliz ano novo, colegas!