O beco - mini conto.
...tropecei, quase fui ao chão. Senti um empurrão, um chacoalho muito grande. Queria ver o que tinha acontecido, mas que nada. Talvez uma pessoa com pressa, um cão em disparada, algum bêbado nas últimas, uma possível perseguição de forças de segurança, nada ...
Só me lembro, que quase ao chão, cambaleante pelo solavanco relatado, vi por cantinho dos olhos, como se diz soslaio, uma sombra umbria, túrgida, úmida, grotesca; a cor escura é interessante descrever: parece que a luz nada refletia para se obter uma distinção cromática; os olhos só viam uma nébula escura.
Ela se escondeu entre um muro caiado horrivelmente e uma árvore de tronco tortuoso, de cascas escamosas. Parecia que sabia muito bem o que estava fazendo, já tinha pleno conhecimento do local, tal qual feito várias vezes.
Sumiu, desapareceu, desintegrou-se como um relâmpago.
Um homem de aparência arrogante, maligna; estendeu-me a mão, reparei-me na postura e pus-me de pé rapidamente; refutei a ajuda, percebi o destilo de ódio emanado de seus olhos. Sua pele tinha um suor saburroso, unguentoso e... curiosamente, aqueles repentes que a gente não sabe de onde vem, nem para onde vai; percebi que este homem necromante não tinha sombra, olhei para o chão...para ele...para o chão...senti a pele tisnar com um calafrio, um choque; me desvencilhei rapidamente, quando tornei o olhar, tinha sumido...evaporado, ogro nefasto.
Beco maldito, nunca mais ponho os pés ali. Já indo embora, olhei para o meu corpo, estava tudo inteiro, nada arranhado...nada rasgado. O sol já estava no seu descaso, não...não era noite, era o final de tarde...tardezinha. A minha sombra estava comigo, me acompanhava...não fui roubado dela. E a sua, está contigo?!, tem certeza...