Ainda
Sempre fomos vilipendiados na nossa dignidade. Física e psicológica. Sempre vivemos nessa penitenciária moral e estética na qual nos enfiaram e, com muita boa vontade, jogaram a chave fora. Sempre fomos alvo. O preferido. Nunca se levantaram em películas indignadas, onde a classe faz questão de dar o verniz a ser chorado pela hegemonia que organiza as regras. Regras que nunca foram feitas para nós. Sempre entraram e nossas casas, nossos corpos, nossas almas, sem pedir licença e sem uma única palavra de desculpa. Sempre nos violentaram nos direitos que nunca tivemos. E, ainda o fazem. Rotineiramente. Basta que, para isso, a gente ouse existir. Justiceiros de fardas estão prontos para reclamar a justiça de seus patrões, enfiados na burocracia de um poder que vive de herança.
Não, nós ainda estamos porque a memória nos esqueceu. Porque a memória nem mesmo se deu ao trabalho de nos lembrar. Afinal ela estava, e está, muito ocupada com a pele que jamais será ignorada.