VISÕES DO INFERNO
Na penumbra de sua casa, Tevinor lutava contra a insônia. A noite parecia interminável, com a alergia atormentando-o a cada respiração. Finalmente, exausto, cedeu ao sono profundo, um estado que logo se tornaria seu pior pesadelo.
No mundo dos sonhos, ele se viu caminhando por uma avenida familiar, mas havia algo de diferente no ar. O ambiente estava envolto em uma neblina densa, e ao se aproximar da igreja onde seu filho frequentava — um lugar que frequentemente criticava em voz alta —, notou uma multidão agitada do lado de fora. As pessoas filmavam, gritavam e se moviam em um frenesi inexplicável. A curiosidade o levou a se aproximar, e, sem pensar duas vezes, adentrou o templo.
Ao cruzar o limiar, a atmosfera se transformou. A música "Hoist the Colours" ecoava, mas a melodia era distorcida, como se fosse um hino de um culto sombrio. Os fiéis dançavam em uma coreografia erótica, suas aparências grotescas e assombrosas lembravam figuras saídas de um pesadelo. Vestidos com trapos esfarrapados, eles pareciam ter emergido das profundezas de uma floresta esquecida pelo tempo.
Tevinor sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao se deparar com os olhares vazios que o observavam. Eram como os zumbis da série "The Walking Dead", sem vida, mas cheios de uma fome inquietante. Ao tentar se afastar, uma das jovens irmãs agarrou seu braço, e ao olhar para ela, reconheceu a essência do terror: seu rosto era uma reminiscência da menina do filme "O Exorcista". O horror o envolveu, e ele, em um impulso desesperado, puxou o braço livre e começou a correr.
Mas ao se virar, outra figura grotesca o aguardava, seus olhos virando de forma sobrenatural, como uma marionete em um show macabro. O pânico tomou conta de Tevinor, e ele correu, tropeçando em seus próprios pés, mas a adrenalina o impulsionou a continuar. Com o coração disparado, conseguiu sair da igreja, mas o que viu acima de si o paralisou.
O céu estava transformado, como um aquário vasto e claro, onde anjos nadavam em um líquido transparente. Uma beleza perturbadora que rapidamente se tornou um cenário de horror. Mesmo admirado, o medo o empurrou a correr em direção a casa, onde encontrou sua esposa conversando com a vizinha, alheia à sua agitação.
Desesperado, ele tentou compartilhar sua experiência aterradora, mas ela apenas riu, ignorando suas palavras como se fossem meras infantilidades. Sentindo-se cada vez mais isolado, Tevinor buscou consolo nas páginas da Bíblia, mas ao abrir o livro sagrado, as ilustrações do Apocalipse pareciam ganhar vida, ecoando suas preocupações mais profundas.
A pergunta que o atormentava era: "Onde estão os demônios? Estão dentro da igreja ou espreitando do lado de fora?" O terror psicológico de sua noite não lhe dava trégua. A linha entre realidade e pesadelo se tornava cada vez mais tênue, e a inquietação o perseguiu até o amanhecer. A dúvida o consumia, e ele se perguntava se o verdadeiro horror não estava na sua mente, mas nas sombras que dançavam ao seu redor, disfarçadas de fé e inocência.