Um homem supérfluo

"Nada é mais inútil do que um homem ocupado"

(D. Frivolóvitch)

Quantos adjetivos você é capaz de entregar a todos aqueles que conhece? Ainda que não façam parte dos seus círculos íntimos e sociais? Arrisco, no mínimo, vários. Em tanta profusão de detalhes, inclusive, que um observador pouco atento, até mesmo, seria capaz de fazer deles um corolário de palavras suficiente para um novo léxico.

Pois, eu, não. A mim não seria possível encaixar nenhum. Os rótulos seriam defenestrados pela incompreensão da cegueira gramatical e ortográfica diante da minha figura em pleno desmanche. A não ser, é claro, que um rótulo concedesse a licença de em mim deitar, também, suas definições engessadas pelas normas de uma cultura acostumada a rir sem entender a piada.

Talvez estranhe, improvável leitor deste breve relato, essa espécie de reflexão sem alguma coisa a dizer que justifique o uso da palavra aí atrás, talvez estranhe, ia dizendo, o caráter perdulário no uso das palavras, para chegar a algo que poderia sem essa retórica. Vazia, afirmariam os mais competentes críticos. Mas, confesso que é por isso mesmo, tenho uma necessidade olímpica de acreditar, que não faço de outra maneira.

Então, deitado neste magro colchão, em um catre exíguo e de cor pálida, pois as outras iriam confessar não me querer por perto, assino o documento, lavrado no cartório da existência sem propósito, ao menos num mundo onde ele precisa mostrar os edifícios de seu valor, da minha exaustão.

Expiro como vivi. Olhando para frente, cheio de ideias, enfiado em elucubrações geniais, que terminaram morrendo antes de qualquer resultado que não o de me fazer feliz.