1938... CLTS 29

1938...

NO SHOPPING - 1995

Sheila ( se reportando ao grupo de amigos) diz - Cada ano que passa ficamos mais velhos...

- Minha cara, por favor, não me lembre este fato. Todos os dias penso na minha velhice que se avizinha, disse Alice sorrindo.

Lino – Olhem lá gente! A mulher que vem ali desfilando, lembra demais a Ellen, será ela?

Alice - Não sei, meu nobre Lino, está parecendo que sim. Não estou enxergando lá muito bem.

Lino – Se for ela, mudou a cor e o estilo das madeixas: está ruiva e com corte à la Joãozinho. Não consigo enxergar, a catarata prematura me impede, ratificou Sheila. Lino - Fico perplexo de saber disso, você completou 45 anos, é broto...

Lino - Acho que vou segui-la, esperem um pouquinho minhas lindas vizinhas ...

Sheila - Cruz credo, meu querido, isso não é de bom tom. - Ah, Sheila, é por uma boa causa, volto logo, não se preocupem....

O DIA EM QUE A TERRA PAROU - 1938

Cabelos loiros, passos rápidos, ela parecia querer bater asas, queria chegar logo em sua escola, a tradicional Boston Latim School.

Naquele dia 30 de outubro de 1938, seu coração de quinze anos estava sacolejando. A arritmia ressurgiu, porém ela se mantinha lúcida. A maior preocupação da menina-moça era chegar no horário certo da prova de biologia, que começaria em exatos dez minutos. Estudiosa por demais. Aliás, ela nasceu voltada para o Sol, seu cérebro se preocupava com o conhecimento. com as conquistas e consequentemente com o poder...ela amava biologia.

Coordenadora -Hi, Ellen, hoje você está atrasada... O que houve? Pensei que falharia pela primeira vez, mas pelo jeito, minha previsão ruiu.

A garota olhou a coordenadora Susan com um olhar nada amistoso. E, tão logo proferiu: - I’ m sorry; mas agora preciso ir, falta cinco minutos para o início da prova.

Tudo correu bem, como sempre, a moçoila de “óculos fundo de garrafa”, e cabelos bem aparados na altura dos ombros, sempre obtinha excelentes resultados em suas aferições.

Ela chegou a casa uma hora mais cedo, estava satisfeita com seu desempenho na prova. Seu psicológico não foi nem um pouco abalado pelo atraso da manhã. Apesar das reclamações de sua mãe, Ellen não deu ouvidos, e sorriu: - Está tudo certo mãe, fui muito bem na avaliação.

Seus pais eram químicos, e apesar do machismo imperante no país, e no mundo, eles criavam a filha única para a conquista de um diploma de graduação e uma vida acadêmica de sucesso.

Na casa da família Stuart, o rádio ficava na sala, e o clã tinha o hábito de ouvir notícias. Naquela noite, haveria um programa de sucesso que agradava muito à família dos intelectuais; que gostavam de ouvir a CBS, rádio que tinha uma programação musical incrível a partir das 20 h.

De repente, a rede de rádio CBS (Columbia Broadcasting System) interrompeu sua programação musical para noticiar uma suposta invasão de marcianos. A "notícia em edição extraordinária", na verdade, era o começo de uma peça de radio teatro, que não só ajudou a CBS a bater a emissora concorrente, a NBC, como também desencadeou pânico em várias cidades americanas. "A invasão dos marcianos" durou apenas uma hora, mas marcou definitivamente a história do rádio. Orson Welles conseguiu se superar como ator, dramaturgo e escritor nesta noite fatídica.

A Senhora Stuart gritava, e garimpava suas joias; até mesmo, tentou arrastar: uma mesa e uma poltrona grande até o carro da família, com excesso de terror nos olhos. Ela queria se salvar e salvar sua família, e iria empreender a melhor fuga possível durante a invasão do planeta. Já o pai de Ellen ficou estático na cama, e só repetia: - Querida, não se aflija, eu acho que tudo não passa de um equívoco. Ellen resolveu pegar seu gato Chaplin, e correr para o jardim da Casa, foi quando viu algo inusitado: um ser que mudava de tamanho, forma e espécie. Ele se comunicou com ela pelo pensamento dizendo: “Não foi apenas um drama, ou um teatro, estamos aqui! eles não sabem, mas viemos! venho do planeta XAMOC.

E como você é a primeira humana que vejo após minha chegada ao seu planetoide, irei lhe presentear com o dom da eternidade. O homem era alto, forte, loiro, de olhos azuis e jovial, aparência de uns trinta anos. Ela ficou pálida, e vermelha ao mesmo tempo, e mesmo apavorada perguntou: - O que queres de mim? - Apenas dar-lhe a chance de nunca morrer. Afinal, sou um pleiadiano, mas fui sequestrado por xamoceanos, e eles não gostam de nós; acabei virando um escravo. Só posso assumir a forma pleiadiana, em versões humanas diversas, poucas vezes no mês. Depois me transformo em um xamoceano, mudando de forma, tamanho e espécie, por exemplo: de árvores falantes a “ressurretos cruéis”. Aí faço muitos estragos...

SÃO TOMÉ DAS LETRAS - 2024

Na cidade de São Tomé das Letras chove, a madrugada avança, e uma mulher caminha lentamente pelas ruas, ela não tem guarda-chuva, e tenta cobrir sua cabeça com uma manta. Ela está aflita, e reza o Pai Nosso. Se apressa, o mais que pode. Seu reumatismo está no auge, especialmente no joelho esquerdo.

- Ufa! Até que enfim cheguei, disse Ellen ao abrir a porta de uma graciosa casinha, onde morava há 30 anos. Nas paredes da moradia feita de pedra, estavam dependurados muitos quadros com pinturas de seres de cabeças alongadas, árvores com garras e seres humanos alados: fortes, altos e musculosos; enfim o estereótipo representativo de seres extraterrenos. A cidade respirava ufologia. Ellen se sentou no sofá, e fechou os olhos.

Cochilava agora, a mulher centenária. Seu cochilo durou meia hora. A ilustre cidadã norte-americana sonhou que estava dentro de um avião. No sonho, ela era bem jovem, mais ou menos vinte e três anos. Viu o céu azul de 1946, ao desembarcar no aeroporto do Rio de Janeiro. Ela acordou com batidas na porta de madeira da sala pequena. Ficou assustada, e muito confusa com o sonho: ajeitou o vestido estampado, e retirou a manta molhada de cima dela. Ficou intrigada, quem poderia ser àquela hora tardia...

A mulher se muniu de coragem foi até a porta para olhar pelo visor mágico. Foi quando viu um rapaz alto, ele parecia cansado e triste. Então ela perguntou – Quem é o senhor, o que quer aqui? Já estou recolhida. A voz quase sussurrou: Me ajude. Ellen avisou – Espere!

Ela caminhou até o banheirinho do andar de baixo da casinha jeitosa e trocou de roupa rapidamente; seu vestido estava molhado, ela passou álcool no corpo, para desinfetar-se da água da chuva, e vestiu uma roupinha leve. Depois foi direto à porta da sala e a abriu. O homem olhou para ela com impaciência, parecia em choque. A mulher o fitava contemplativa, ele era um jovem homem de um metro e oitenta, loiro, olhos azuis, e pele bronzeada. Estava com uma jaqueta jeans por cima do dorso, que exibia um tórax bem delineado, usava calça de malha branca, e chinelos de dedo.

Ela achou estranho, pois chovia muito, e o rapaz parecia não sentir frio. A mulher o convidou a entrar, ele parecia não entender a comunicação da senhora, que o segurou pelo braço, e o conduziu até o interior da sala, fechando a porta em seguida. O homem resolveu se sentar em um sofá pequeno, de dois lugares. Recostou a cabeça, e adormeceu imediatamente. Ellen, ficou observando aquilo com curiosidade, e certo receio. Ele parecia inerte, como uma rocha, porém ela viu que respirava.

Ellen estava muito fadigada, e se dirigiu ao seu quarto; onde dormiu profundamente. Depois de algumas horas se levantou duas vezes: uma para ir ao banheiro, e outra para olhar como estava o homem. Seu coração estava um pouco arrítmico, talvez pelo medo de abrigar uma pessoa desconhecida em sua casa.

Chegando à sala, levou um susto, o rapaz não estava no mesmo lugar, ela olhou na cozinha, e na área de serviço, e nada. Foi quando viu que ele estava colado ao teto da sala, ele respirava sofregamente, e perfazia um som de zumbido, bem atípico. O Relógio de parede antigo, um presente de sua mãe, bateu cinco vezes, ela viu que amanhecera. Ellen resolveu questioná-lo: - O que faz a aí, meu rapaz? O estranho virou-se rapidamente, e voou ao chão, com uma facilidade incrível.

- Quem é você? E ele respondeu em inglês: - I ‘m neighbor

Seu coração estava agitado, pois o vizinho a olhava com sede de amor e ódio. Ela pressentiu que algo estava errado. Porém era necessário continuar sua performance...

O “vizinho” partiu para cima da mulher, e ela gritou: - Me respeite, passei dos noventa anos, e hoje é meu aniversário. Ele gargalhou tirando a jaqueta jeans, e a abraçando com força. “Ela” gritou, e “ele” a socou fortemente.

“A senhora” mirou-se no espelho grande da sala, e o que viu foi uma mulher jovem, cabelos loiros, compridos, pernas bem torneadas, e um frescor juvenil. O “homem” disse – Está com medo? Ela estava com muita dor na face, que arroxeava... e se desvencilhou “dele” correndo para o andar de cima, o “homem” a seguiu, entrando no pequeno quarto. Lá “ele “viu uma silhueta com 2,0 m, mesmo assim buscou-a, e foi “golpeado”.

Quem golpeou o “rapaz” foi um ser enorme, braços longos, com quelíceras. Em seguida “Ellen, real” golpeada desce as escadas, com aparência antiga: cabelos curtos e ruivos, mas está machucada, e logo, logo se transfigurará...outra vez.

Ela vê que a mulher loura, de pernas bem torneadas se transformou em Lino, porém a verdadeira Ellen já está transformada em uma imensa espada de São Jorge alada. “Ellen real” transformada em vegetal impiedoso perfura John Lino no tórax, e ele se esvai, para sempre, sem chance de ressureição. Ele foi exterminado por uma humana rara, com D.N.A ressurrecto, único exemplar em todo o universo

Lá fora chovia e o corpo de Lino jazia... enquanto Ellen se restaurava. Ela agora está se transformando: cabelos curtinhos e ruivos do ano de 1995. Ela pensa que venceu, mas Sheila e Alice, ainda vivem...

UM DIA DE SOL - EM 1995

Um homem anda apressado, procura por alguém. Ele atravessa a Av. Atlântica, em Copacabana, Rio de Janeiro, parece cansado, mas não quer desistir de sua intenção de localizar uma grande amiga do passado.

Ele pensa ter visto ela no Shopping, que fica localizado no bairro vizinho: em Botafogo. A mulher misteriosa havia atravessado a avenida com muita pressa, tanta pressa que parecia levitar. O cabelo curtinho e ruivo ao longe, não se confundia com outras cabeças femininas que transitavam no calçadão. A mulher entrou em um restaurante.

Lino não pestanejou e falou: – Bingo! Ele chegou à porta do recinto chique, e foi acolhido pelo maitre, que o conduziu a um lugar aconchegante. Lino se sentou, mas seu olhar procurava por Ellen...foi quando percebeu que a mulher estava sentada de frente para ele, seus olhares se cruzaram. E aqueles olhos azuis, não deixavam dúvida de que era a mesma Ellen que ele conhecera no Texas, em 1938.

Ele percebeu que Ellen estava mais magra, e mais bonita, nada mudara, pernas bem torneadas, e uma elegância ímpar. Parecia ter os mesmos quinze anos que tinha quando se conheceram naquele trinta de outubro de 1938, véspera de Halloween. Ela estava sozinha e tomava uma Coca-Cola. O garçom chegou perguntando o que ele iria escolher, Lino pediu uma Coca-Cola também. Talvez para sinalizar a Ellen, que um reencontro estava à vista.

Ela fez um sinal ao garçom, que foi até a mulher, ela entregou um bilhete destinado a Lino. O garçom levou a ele, e o escrito dizia: “Jonh, senti saudades, sente-se aqui, ao meu lado”.

Ele se levantou, e saiu. Ela também levantou e seguiu o homem alto, cabelos alourados, e pele bronzeada, ele tinha uns 50 anos, mas sua aparência era de vinte e poucos ...

NO JARDIM DE ALAH – 1995

ELLEN E JOHN

No jardim de Alah, um casal apaixonado, se beija. O homem abraça com muito carinho aquela mulher de cabelos curtíssimos e avermelhados. O beijo durou meia hora.

Parecia cena de um filme. Um grito estridente é ouvido e preenche o ar, pessoas ficam assustadas e procuram de onde veio o som. Um jovem estudante que passava no local, escutou o urro, e deixou seus cadernos e livros caírem ao solo. Ele nunca ouvira um som como aquele...com certeza era um insectoide alienígena,

Como ele estudava ufologia, e era pós-graduado em sons e vocabulários de extraterrenos, ele identificou o grito/gemido que ecoou ali. Parecia um estertor. Ellen agora está correndo pelas ruas, parecia chorosa, seu semblante era de desespero, volte e meia surgia a imagem de um ser alado, com rosto de louva-deus, e com cabelos feitos de fogo; e altíssimo, mais de dois metros, ela chora e lembra, de quando ele engoliu seu pai, o senhor Stuart, no longínquo 1938.

Seu coração pulsa acelerado, e ela chega à porta de um prédio luxuoso, após quatro quarteirões de sua trajetória. Trêmula, ela abre o portão de entrada, e se dirige ao elevador, e sente um cheiro forte de flores de cemitério, mas não se importa, chega ao décimo andar, e já dá de cara com a porta de entrada de seu imóvel. Ellen a destranca e adentra com cautela e pavor. Olha todos os cômodos cuidadosamente, mas continua tremendo. Adentra o primeiro banheiro, tranca a porta, tira toda a roupa, e se deita na hidromassagem. Liga a água, e suspira.

O banheiro é grande, ela abre os olhos e vê seu corpo na banheira, assim como enxerga um Insectoide, com boca succional sugando seus órgãos internos. A cabeça de Ellen está em cima do tapete. Ela sorri, e diz – Perda de tempo meu caro, sei que me ama. Porém o transfigurado Lino, antes tão jovial continuava a desconstruir sua amada vítima, que dizia: - me reconstituirei em breve. O ser continua sugando... e estava com pressa...

A mulher está perdendo a consciência, morrendo; em breve não haverá mais ressureição para ela, ele decidiu assim; os olhos dela estão pesados. Sua vida se esvai, e Lino sorrindo diz: - Te amei, mas o amor pela cultura de meus pais, em Xamoc, foi maior. Continuarei aqui na Terra, me alimentando de outros terráqueos desavisados, agora tomarei sua forma e continuarei a viver eternamente.

O ser está indo para uma cidade ufológica, justamente para facilitar o contato com seu povo: São Tomé das Letras. Mas o que ele não sabe é que Ellen guarda o poder da ressureição, em seu D.N.A...e em suas pesquisas biológicas.

E antes de dar o último suspiro, ela sussurrou: – Mesmo que demore séculos, milênios, eu te acharei, seu maldito traidor...

A VOLTA DE LINO AO SHOPPING

1995

Quando John (Lino, no Brasil) voltou ao shopping e encontrou suas amigas e vizinhas, ele enxergou cada uma, em sua versão metamorfoseada.

Sheila: Aracnoide xamoceana de 2 metros e meio

Alice: um Insectoide e xamoceana de 2 metros

Todos no entorno, não tinham o mesmo poder e dom, eles viam duas mulheres bonitas, encontrando um humano charmoso (na verdade um (pleiadiano/xamoceano).

Sheila acena para Lino, bem eufórica, e Alice pergunta: - então, era ela? Lino responde: - sim, e já está consumado, minhas vizinhas lindas e monstruosamente invejosas...

- Agora preciso ir meninas. Conforme o homem andava, sua aparência mudava na sequência: Gray, Baobá retorcido e Ellen.

Fim

Valéria Guerra Reiter

Temas: Vizinhos suspeitos e ressurreição

Valéria Guerra
Enviado por Valéria Guerra em 26/11/2024
Reeditado em 09/12/2024
Código do texto: T8205980
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.