O Ente Obscuro - CLTS 29

 

 

"Há uma fome que nunca dorme,

uma escuridão que nunca sacia."

 

– Inscrição no subterrâneo do Largo São Francisco

 

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Proêmio

 

O semestre acadêmico começara em ritmo frenético para os estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Entre trotes, festas e baladas, o campus fervilhava de energia. Os veteranos lideravam as noites regadas a álcool, enquanto os calouros tentavam acompanhar a intensidade do novo mundo.

 

Na balada ThunderShock, três alunos da Pós Graduação em Direito Internacional riam e conversavam em uma mesa mais afastada. Uma garrafa de tequila quase vazia indicava que a conversa já começava a se perder no efeito do álcool.

 

Conrado e Gabrielle flertavam trocando olhares intensos, enquanto George, alheio ao clima entre eles, falava sem parar.

 

— Esse cara aqui! — George gritou, segurando o colarinho de Conrado. — Meu parceiro! Entramos na Polícia Federal, acredita?

 

Ei, cala a boca! — Conrado interrompeu, nervoso. — Ninguém precisa saber disso, ok?

 

George gesticulou como quem diz "entendido".

 

Gabrielle olhou surpresa.

 

— Sério? Vocês são policiais? — ela perguntou.

 

Sim. Mas isso é confidencial — Conrado respondeu. — Não queremos estragar as coisas por aqui.

 

Gabrielle deu um sorriso cúmplice.

 

— Relaxem, garotos. Segredo comigo está seguro.

 

— Que bom, porque se descobrirem, não nos chamarão para mais nada — completou Conrado.

 

George gargalhou com tanta força que quase caiu da cadeira.

 

— Acho que já vou indo — disse, levantando-se de repente. — Eu já estou bêbado o suficiente.

 

— Ei, espere aí! Eu te levo — Conrado se ofereceu, pegando a chave do carro.

 

— Nem pensar! Não vou andar com outro bêbado ao volante. Quer que eu te prenda? — George brincou. Todos riram. — Vou de Uber. Amanhã nos vemos.

 

Eles se despediram, e George cambaleou em direção à saída, desaparecendo em meio às luzes da balada.

 

Conrado e Gabrielle voltaram a se encarar, tocando as mãos de forma displicente. Não perceberam que uma figura sombria, distante, os observava. Vestido de preto e usando um chapéu coco, o homem baforava o cigarro enquanto acariciava a empunhadura dourada em forma de dragão de sua bengala.

 

— Quero ser diplomata — disse Gabrielle, explicando sua escolha de curso. — Pensei em Relações Internacionais, mas sou mais ligada ao Direito...

 

— Interessante — Conrado a interrompeu. — Que tal discutirmos isso melhor lá em casa?

 

Gabrielle sorriu entendendo as segundas intenções do outro. — Talvez numa próxima. — voltou a dizer, recusando o convite. 

— Bom... Acho que também já vou indo...

 

— Ei, relaxa! Eu te levo. — Conrado ofereceu balançando seu chaveiro com a chave do carro.

 

Gabrielle sorriu e aceitou a carona, deixando a balada com ele. De longe, a figura sinistra os observava, sorrindo de forma perturbadora.

 

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Capítulo 1 — O Esqueleto de Satã! A Festa! 

 

A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco era famosa não só pela sua história, mas pelas histórias assombradas que a cercavam.

 

Entre os personagens excêntricos do campus, Mestre Leonardo era um nome conhecido. Sempre trajado de preto e envolto em mistérios, ele atraía tanto curiosidade quanto medo. Outro nome frequente nos rumores era Victor, um aluno cuja fama de crueldade ultrapassava os limites do campus.

 

Estela, promotora das lendárias festas universitárias, era outro nome de destaque. Sua beleza magnética e comportamento enigmático a tornavam uma figura influente, atraindo estudantes para eventos cada vez mais obscuros.

      

Num desses eventos, ocorrido há dois meses na Mooca, uma jovem deixou a festa se sentindo mal e nunca mais foi vista.

 

Em outro, há pouco mais de um ano, dois rapazes foram encontrados mortos por overdose de cocaína, desta vez no Itaim Bibi. A Polícia Civil investigava o caso, mas não conseguia estabelecer um nexo causal entre as mortes e o evento, presumia, apenas, que eles haviam 'cheirado demais'.

 

Nos corredores do campus, sussurros inquietantes ganhavam força: "as mortes nas festas seriam parte de uma macabra agenda satânica. Boatos apontavam para um suposto pacto de bruxas que, segundo lendas urbanas, operava secretamente na Faculdade".

 

A verdade, porém, parecia ainda mais obscura. Havia rumores antigos de que essas festas sempre esconderam algo sombrio, mas até agora ninguém jamais havia conseguido provar nada.

 

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Após mais uma noite de aulas, o campus começava a ficar vazio. Já passava das 22h, mas Gabrielle permanecera até mais tarde, terminando algumas anotações em seu caderno. Aos poucos, as luzes começaram a ser apagadas, e o prédio onde ela estava assumia uma assustadora atmosfera fantasmagórica.

 

De repente, Gabi percebeu que estava só. Foi quando sentiu um estranho medo irracional, e um calafrio percorreu sua espinha, fazendo seu peito disparar. Alguém lhe dissera, certa vez, que havia um culto satânico operando no campus, realizando supostos sacrifícios humanos em salas secretas ou subterrâneas, não listadas na planta original do edifício. 

 

A faculdade parecia catalisar o mal e Gabi sentia isto, mas tentou não focar em pensamentos negativos enquanto estava só, mas era inevitável.

 

— Aff! Tudo isso é pura lenda urbana — disse tentando afastar o medo. Em seguida, consultou as horas no celular: 22h59! Levou um susto! — Deus, preciso ir!

 

Quando caminhava apressada pelo corredor escuro, abraçada à sua mochila, "outro susto!" Esbarrou naquela sinistra figura esquálida de preto, que sorria ameaçadoramente para ela, seus olhos parecendo duas bolas negras de obsidiana.

 

— Professor Leonardo... — ela balbuciou, ainda assustada. — Seus olhos...

 

— Mestre Leonardo! — ele a corrigiu, interrompendo-a antes que concluísse sua observação. Seus olhos voltaram ao normal, e ele tirou seu chapéu coco preto, num gesto cavalheiresco,  entregando-lhe um convite com a figura de um esqueleto vestindo um terno vermelho, que dizia em caixa-alta e negrito: “VOCÊ ESTÁ CONVIDADO(A) PARA A FESTA DO ESQUELETO DE SATÔ.

 

— Será nesta sexta-feira. Não aceito um “não” como resposta — Leonardo disse num tom enigmático e persuasivo.

 

— Ok, professor... Verei se poderei ir...

 

— Vá! — ele a intimou, encarando-a com um olhar persistente e estendendo a mão para cumprimentá-la, num gesto de despedida. — Estamos combinados? — Gabrielle hesitou por um instante, sorrindo entre dentes, mas apertou-lhe a mão em seguida.

 

Àquele toque gélido da morte! Sua mão estava fria como a de um cadáver, e ele sorria estranhamente, seus dentes parecendo de tubarão, ou ela estaria vendo coisas?

 

A presença de Mestre Leonardo era quase sobrenatural. Gabi poderia jurar que a sombra dele se movia por vontade própria, contorcendo-se de forma apavorante na parede. Ela se sentiu fraca e tonta... tentou se desvencilhar do contato, mas não conseguiu.

 

Aquele sujeito parecia o diabo e a estava vampirizando, drenando sua energia vital com o toque, como uma entidade famélica das trevas. 

 

Justamente quando ela sentiu que ia desmaiar, Conrado apareceu.

 

— Oh, Conrado! Graças a Deus! — ela disse, vomitando em seguida. Seu corpo sofria uma espécie de catarse, um expurgo em reação ao ataque psíquico que sofrera.

 

— O que aconteceu? Esperei você no carro... — ele disse, atônito, abraçando-a. — Se sente melhor?

 

Mestre Leonardo pigarreou, cortando o clima, e entregou outro convite para Conrado.

 

— Você também, rapaz. Está convidado para a festa — disse, indo embora após resmungar algo do tipo: — Ela está bem, sim, deve estar cansada. Leve-a para casa.

 

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Capítulo 2 — Com mil demônios

 

Os dias que se seguiram mergulharam a população do campus em um estado de inquietação e horror. Os estranhos eventos pareciam prenunciar algo terrível e desconhecido. O ar era opressivo, sufocante, e algo de nauseante impregnava toda a faculdade, como se as pessoas vagassem por um cemitério de covas abertas e corpos em decomposição.

 

Alunos, professores e funcionários começaram a sofrer estranhas convulsões, como se fossem tomados por uma força invisível.

 

Logo depois, uma enchente invadiu os prédios, obrigando a suspensão das aulas e o fechamento do campus para reparos.

 

No canteiro ao redor do obelisco, vermes de cemitério surgiam em profusão, multiplicando-se na terra encharcada e se espalhando pelo pátio como uma praga viva. Enquanto isso, a atmosfera sombria e asfixiante do campus parecia transbordar além de seus limites, irradiando-se pela cidade, como um sussurro terrível em um pesadelo.

 

A cidade, tomada por uma inquietação crescente, adormecia sob um manto de escuridão opressiva, que parecia dilacerar o tecido da realidade com garras invisíveis e acausais.

 

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Conrado havia levado Gabi de carro até o Brás para visitar os pais dela. Na viagem de volta, eles conversavam sobre as "esquisitices" ocorridas nos últimos dias na faculdade.

 

— A festa do “Esqueleto do He-Man” vai ser depois de amanhã — disse Conrado, tentando aliviar o clima com uma piada e fazendo uma careta assustadora.

 

— Hahahaha... Esqueleto de Satã! — Gabi corrigiu, rindo.

 

— É isso mesmo! “Cê” vai? — perguntou ele, fazendo um muxoxo divertido. Gabi o olhou, fazendo um trejeito com os lábios.

 

— Sei lá. Ainda não me decidi — ela respondeu, hesitante.

 

— Ora, vamos! Vai ser legal — insistiu Conrado, piscando de forma provocativa.

 

— Antes de responder, posso te contar uma coisa? — Gabi perguntou, afagando os cabelos dele. Conrado tocou-a na coxa, retribuindo o gesto e concordou.

 

Ela então continuou:

 

— Desde o incidente com o "Professor Léo", passei a investigar a vida dele. Há algo muito estranho com esse homem. Não consigo deixar de pensar no que ocorreu naquela noite... É como se ele drenasse a energia das pessoas. Seu histórico é igualmente estranho. Ele foi detido sob suspeita de assassinato anos atrás, mas foi liberado devido à insuficiência de provas.

 

— Isto é sério? — Conrado perguntou, surpreso e cético ao mesmo tempo.

 

— Tá duvidando de mim? — Gabi olhou para ele, ofendida.

 

— Não é isso. Só acho que talvez você esteja imaginando coisas. Ele pode ser estranho, mas... — Conrado tentou amenizar a situação.

 

Irritada, Gabi pegou seu celular e começou a fazer uma pesquisa rápida. Instantes depois, ela estendeu o aparelho para ele.

 

— Leia para mim, amor. Estou dirigindo — pediu Conrado, com um sorriso gentil.

 

Gabi leu em voz alta o que encontrara:

 

— "Antes de falecer, Patrícia Alencar, cônjuge do professor Leonardo Dante Alencar, buscou o padre Júlio Fonseca para discutir dificuldades no matrimônio... Seu corpo foi descoberto sem vida na banheira de sua residência. Uma visão terrível! A artéria femoral estava seccionada, e a banheira repleta, com água tingida pelo sangue. Leonardo foi detido, porém o processo foi encerrado devido à insuficiência de evidências."

 

— Ok, Gabi. O que você sugere que façamos? — perguntou Conrado, preocupado.

 

— Você é o policial! Devemos conversar com o padre. Ele pode saber de alguma coisa — Gabi sugeriu.

 

— Esse padre ainda está vivo? — indagou Conrado.

 

Gabi relatou que o padre Júlio sofreu um derrame meses depois do falecimento de Patrícia, resultando em sequelas sérias. Atualmente, ele reside em um asilo administrado pela igreja.

 

— Certo, vamos então conversar com ele. Liga para o George e pede que ele reúna o máximo de informações possíveis sobre o caso. Agora você aceita ir comigo à festa? — perguntou Conrado, piscando para ela.

 

Gabi assentiu com a cabeça e imediatamente telefonou para George.

 

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Capítulo 3 — O Pajem e a Alta Sacerdotisa

 

No casarão de Mestre Leonardo, as preparações estavam quase concluídas. A grande cerimônia ocorreria naquela noite. O retorno de sua amada sacerdotisa estava próximo, e seus discípulos mais fiéis, dentre eles, Victor e Estela, já estavam reunidos no salão principal, prontos para dar início aos rituais.

 

Pessoas trajando mantos cerimoniais negros com capuz formavam um semicírculo ao redor de um grande espelho negro, elíptico, fixado em um pedestal de ouro, repleto de inscrições arcanas gravadas em alto-relevo.

 

Irmãos dignos do Grande Abismo Negro! — proclamou Mestre Leonardo, sua voz carregada de uma autoridade quase sobrenatural. — Confrades do Caminho da Mão Esquerda! Hoje nos reunimos para uma ocasião solene. O retorno de nossa Alta Sacerdotisa está próximo... Os sinais cósmicos e espirituais são incontestáveis: a lua de sangue de ontem e o alinhamento astrológico de hoje, determinam o destino deste rito. Além disso, o 'Pajem' aceitou o fardo oculto de seu Ordálio. Alimentem os deuses mortos-vivos, pois sua fome é insaciável. Doem suas energias vitais e fortaleçam a Cadeia Mágica para o Grande Ritual Negro que se aproxima. Agios O Satanás! — bradou o mestre, erguendo os braços em direção ao espelho, que parecia vibrar sob uma luz obscura.

 

— Agios O Satanás! — ecoaram os cultistas, com olhares fixos no espelho negro.

 

Os integrantes do culto iniciaram um cântico sombrio diante do espelho. Com cada verso proferido, a respiração deles se intensificava. Respiravam profundamente, com crescente fervor, até que silhuetas obscuras, semelhantes a sombras de um outro plano, começaram a emergir do interior do espelho.

 

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Capítulo 4 — O Antes...

 

A festa do Esqueleto de Satã já estava em seu auge. A música alta reverberava pelos corredores da casa alugada, enquanto estudantes se entregavam à dança frenética ao som pulsante de trance. O ambiente estava tomado por corpos, fumaça, euforia e o cheiro inconfundível de álcool, cigarro, maconha e drogas sintéticas, como o ecstasy. O caos parecia palpável.

 

Em uma das salas, um grupo menor se dedicava a rituais de bruxaria. Em outro cômodo, os delírios iam mais longe, com alunos envolvidos em orgias. Era um cenário de excessos, onde todos pareciam imersos em suas próprias loucuras.

 

Gabrielle tinha ido fazer companhia a Conrado, mas agora se sentia deslocada. Ligeiramente embriagada, encontrava-se deitada em um sofá, entediada e sentindo o corpo pesar. A música e a atmosfera ao seu redor já não lhe diziam nada. Seus olhos ficaram pesados e ela caiu no sono...

 

Ao abrir os olhos, percebeu que não se encontrava mais no ambiente onde havia adormecido. Seus sentidos foram imediatamente atraídos pelo cheiro forte de sangue. Ela estava posicionada no meio de um círculo escuro desenhado no piso, repleto de símbolos e inscrições demoníacas estranhas. As marcas emanavam uma luz fraca e pareciam ter sido feitas com sangue. Velas escuras queimavam ao redor, projetando sombras ameaçadoras nas paredes do espaço.

 

Victor e Estela estavam ao lado dela, mas havia algo terrivelmente errado neles, pois usavam mantos rituais vermelhos e capuzes que escondiam parcialmente seus rostos. Murmuravam palavras numa língua desconhecida, uma oração que soava como uma canção distorcida e perturbadora.


Gabi tentou gritar, mas sua voz era um gemido baixo. Ela tentou se levantar, mas sentiu-se tonta, como se algo estivesse esgotando suas forças. Enquanto tentava recuperar os sentidos, flashes de sua visão anterior retornaram: figuras sem rosto dançando em uma coreografia sinistra, luzes fantasmagóricas e o toque frio de alguém segurando sua mão. Foi então que ela notou o anel no dedo anular esquerdo. Era preto, frio, com um pentagrama invertido e quebrado gravado nele.

 

— O que vocês fizeram comigo? — tentou dizer, mas as palavras saíram engasgadas e inarticuladas.

 

Com esforço, Gabi se empurrou para fora do círculo, levantou-se vacilante e fugiu dali, cambaleando. Sua mente estava um caos de medo e confusão, e ela sabia que precisava escapar o quanto antes.

 

No salão principal, encontrou Conrado conversando casualmente com uma moça. Esta a encarou com um sorriso enigmático, como se soubesse de algo que Gabi não conseguia compreender. Conrado, por sua vez, parecia completamente alheio ao que havia acontecido.

 

— Vamos embora! — disse ela, agarrando o braço dele com força. — Agora!

 

— O que foi, Gabi? — perguntou ele, surpreso com sua expressão transtornada.

 

— Amanhã... Amanhã precisamos ir ao asilo falar com o padre Júlio — balbuciou ela, ainda tremendo.

 

Conrado, sem entender direito, apenas assentiu.

 

Enquanto caminhavam para fora, até o carro, a lua de sangue brilhava no céu, intensa e ameaçadora, parecendo observar cada passo que davam.

 

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Na manhã seguinte, George estacionou o CR-V  do amigo, em frente ao asilo onde vivia o padre Júlio. Conrado, ainda se sentindo um tanto "bêbado", permitiu que George tomasse o volante.

 

Os três saíram do veículo e adentraram o asilo em busca do padre, que aparentemente possuía mais conhecimento sobre os segredos do Mestre Leonardo do que qualquer outra pessoa. Eles tinham a expectativa de que o clérigo compartilhasse informações cruciais a respeito de Leonardo e Patrícia, bem como sobre a enigmática morte dela.

 

Diante do padre, confinado a uma cadeira de rodas, o trio se esforçava para compreender as palavras incoerentes que ele lutava para expressar. Um derrame havia roubado sua capacidade de falar claramente, porém, ele passou para Gabi um diário. Nas páginas, estavam detalhados todos os conhecimentos que ele possuía sobre Mestre Leonardo e seus obscuros segredos.

 

Gabi segurou o diário reverentemente e olhou ternamente para Conrado. Naquele momento, a expressão dele se alterou, e havia algo em seu olhar que fez Gabi ficar paralisada de medo.

 

Um sorriso macabro se formou nos lábios dele enquanto ele sacava sua arma.

 

— Desculpe, querida — murmurou Conrado, antes de nocauteá-la com uma coronhada.

 

George, perplexo e sem entender o que estava acontecendo, tentou reagir, mas Conrado foi mais rápido. Dois tiros à queima-roupa derrubaram George no chão.

 

Padre Júlio, em estado de choque, foi assassinado com um disparo certeiro na cabeça.

 

Conrado apanhou o diário, jogou Gabi sobre o ombro e se dirigiu à cozinha do asilo. Assobiando uma canção sinistra, ele cortou a mangueira do gás e acendeu a luz. Em instantes, o ar ficou saturado com o odor de gás.

 

Deixando o asilo com Gabi desacordada no ombro, ele lançou um último olhar para o prédio e sussurrou:

 

— Salve, Satã.

 

A explosão violenta destruiu o asilo, e gritos de pavor ecoaram das chamas enquanto ele se afastava, sorrindo diabolicamente.

 

Conrado colocou Gabi no banco traseiro do carro, ligou o motor e sumiu pelas ruas silenciosas da manhã. Depois de um bom tempo, ao passar pela Faculdade do Largo de São Francisco, ainda fechada para reparos, observou as paredes cobertas por um musgo negro e malcheiroso, que pressagiava a morte.

 

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Epílogo

 

Mestre Leonardo acolhia Conrado na biblioteca do seu grande casarão. O ritual de iniciação estava no seu momento mais crucial.

 

— Seja bem-vindo à nossa "Poça de Sangue!", Pajem! — disse o Mestre, lançando o diário do padre Júlio num incinerador de aço.

 

Conrado, agora um membro da confraria, usava o manto negro cerimonial. Com um sorriso macabro, ele disse:

 

— Estou pronto para pertencer a esta seleta irmandade. Agios O Satanás!

 

Agios O Satanás! — repetiram os confrades.

 

Mestre Leonardo segurou Conrado pelo braço e o guiou até uma imensa pintura da Alta Sacerdotisa do Tarô. Ao remover a pintura da parede, desvendou uma entrada oculta para uma extensa rede de túneis subterrâneos, conectando o grande casarão à universidade.

 

Com lanternas nas mãos, eles desceram pelos túneis até chegarem a uma sala circular. No centro do recinto, um altar de pedra sextavado, sustentava dois caixões de vidro, cercados por velas vermelhas. Gabrielle, viva, mas inconsciente, estava em um dos caixões. No outro, estava o esqueleto da mulher morta de Mestre Leonardo.

 

— Chegou a hora do sacrifício. É o momento de trazer nossa Alta Sacerdotisa de volta à vida — disse Mestre Leonardo, entregando uma adaga ritualística a Conrado.

 

Ele abriu o caixão de Gabrielle e a despertou. Por um breve momento, ela sorriu, achando que estava sendo resgatada, mas logo foi atingida pela lâmina mortal. O golpe foi rápido e fatal.

 

O sangue dela foi colhido e derramado sobre o esqueleto de Patrícia, enquanto os cultistas entoavam suas palavras ritualísticas:

 

— Mortem vincamus, animam revocemus. Tenebris adiuvantibus, vita renovetur.

 

Uma névoa preencheu o caixão de vidro, e, quando se dissipou, o corpo de Patrícia estava completamente regenerado.

 

A ressurreição foi completa.

 

Todos caíram de joelhos em veneração à Alta Sacerdotisa, que, agora, renascia com uma aura de poder sombrio. Seus olhos, duas esferas negras, brilharam malignamente enquanto ela se levantava do caixão.

 

Conrado — o pajem, com fervor, foi o primeiro a gritar:

 

— Salve, Satã!

 

 

 

Fim

 

 

 

Temas: Ressurreição e Fome.

 

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L Mandrake
Enviado por L Mandrake em 24/11/2024
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