O Preço da Ambição - CLTS 29
—Vem vovô, por aqui!
—Não me…— SirHalfeld Garma parou de falar ao ver sua neta dobrar o corredor correndo.
—Vem ver vovô…— A criança estava parada mais adiante, em frente a um mostruário de vidro.
Ele fez um gesto para ela se acalmar e foi andando em sua direção respondendo os cumprimentos que recebia pelo caminho. Estavam na exposição anual de espólios de guerra do reino, onde os corredores do castelo do Rei eram enfeitados e ocupados por diversos itens raros, construídos ou conquistados durante séculos de batalhas.
—Você é muito lento vovô.— Ela disse quando ele se aproximou. Tinha nove anos e se vestia finamente, usava uma tiara de brilhantes e tinha os lábios pintados de vermelho.
—Já te falei pra não me chamar de ‘vovô’.— SirHalfeld Garma a censurou em voz baixa. Era um homem corpulento, apesar da idade avançada. Vestia-se ricamente e sobre o ombro direito trazia o símbolo da sua honraria: o manto vermelho com o brasão do reino. Signo dos Cavaleiros da Coroa.— Meu nome é SirGarma!— Tinha uma cicatriz horrenda no rosto, perdera parte do nariz e a bochecha direita na última guerra. O ferimento ainda rasgou o canto de sua boca, desfigurando seus lábios.
A menina o ignorava, estava nas pontas dos pés lendo a placa ao lado da armadura pesada em exposição.
—Olha! É do Rei.— Ela disse animada.
—Errada! É do pai do nosso Rei.— Seus olhos passavam pelas placas de ferro com as marcas de batalha e sua mente revivia seus dias de glória.— Ele só usou essa armadura uma vez, sabia? Ele gostava da antiga…— Foi enterrado com ela, pensou.
—Vem vovô…— A criança avançou pelo corredor.
SirGarma caminhava devagar olhando as peças nas vitrines, reconhecia algumas delas de seu tempo.
—Olha! Tem seu nome aqui. — A menina gritou animada.
SirHalfeld respirou fundo quando se pos de frente a sua armadura pesada completa e sua espada longa. Ambas estavam nitidamente gastas, apesar de limpas e brilhantes. Sentia orgulho enquanto passava os olhos em cada marca de batalha e se lembrava de quase todas elas.
—Vem vê, vovô! Credo… seu nome está aqui também.— Sua neta gritou o tirando de seu devaneio.
Ele se virou para onde ela estava e notou uma certa aglomeração de pessoas numa área com uma grande exposição. Não conseguia ver o que era. Foi até lá e ao se aproximar percebeu alguns rostos familiares se afastando não antes de lhe fitarem com lágrimas e ódio.
—Pelas forças de meus braços!— SirHalfeld exclamou surpreso ao ver o item.
No centro de uma área decorada para parecer como o alto de uma colina verdejante, estava exposta uma espada longa . Um grande estandarte tremulava a imagem dele, um guerreiro exausto: com uma mão apoiada na sua espada longa, fincada no chão. Um de seus joelhos estava dobrado, ele cobria o rosto ferido com o outro antebraço que tinha a armadura tingida de sangue ao mesmo tempo que ensopada de lágrimas.
—A espada de A’gor o 'Amaldiçoado'...— A menina leu em voz alta.— …Lider do exercito Orc morto por SirHalfeld Garma durante a Guerra das Nascentes…— Estava paralisado era uma lembrança que ele não queria ter.—… Mesmo ferido pelo orc, o cavaleiro lutou bravamente…
O nome A’gor ‘O Amaldiçoado’ ecoou em sua mente. Seus olhos esmiuçava a espada de aço escuro. Seu acabamento, ou a falta dele dava um ar sombrio à arma. A empunhadura era um monte de faixa de couro escura de sujeira, não tinha guarda e a lâmina de dois metros e meio era rústica, grossa com apenas um fio de corte. Olhando agora, não passava de uma espada mal feita. SirGarma fechou os punhos com força. Aos poucos sua mente foi transportada para sua tenda, no acampamento avançado, durante a Guerra das Nascentes. Lembrou a primeira vez que ouviu falar daquela arma.
—Senhor!— O soldado entrou sem aviso, estava ofegante.— Tem um sobrevivente…
Estavam em um vale, haviam chegado tarde demais para reforçar uma pequena cidade que estava na rota de fuga dos inimigos.
—Senhor!?— Um jovem ensanguentado foi posto em sua frente. Tinha um ferimento na têmpora com bastante sangue seco manchando todo seu corpo.
Contou que os orcs chegaram rapidamente e as forças da cidade foram superadas como se fosse nada. Ele estava na enfermaria por alguma doença no estômago, por isso não usava sua armadura nem estava entre a guarda da cidade. Saiu de seu leito com a espada na mão depois de ouvir a gritaria e o desespero dos homens. Os civis já tinham sido evacuados. Descreveu com detalhes um pequeno grupo de orcs invadindo pelo portão liderados por um Grande que usava uma espada negra que uivava a cada ataque, e que cortava qualquer coisa que tocava.
—Mesmo à distância, eu conseguia ouvir o uivo da espada maldita.- O homem olhava o nada com olhos cheios de lágrimas.— Era um chamado da morte! O orc nem fazia força, vinha sacudindo a espada e cortando tudo que estava no seu caminho.
SirGarma ouviu assustado. Estava no auge de suas forças aos quarenta anos, mantinha ótimas relações com a família real e a nobreza. Durante a guerra sua fama aumentou drasticamente. E não foi à toa: Era um homem meticuloso e dedicado que passou grande parte de sua vida estudando grandes heróis e seus feitos. Tinha fome de poder. Sabia que a guerra era a oportunidade perfeita para aumentar sua influência e escrever seu nome na história. Por isso, agiu com precisão assumindo riscos calculados e só participando de combates que contribuíssem de alguma maneira para seu objetivo.
Liderava uma divisão com quase duzentos guerreiros e antes mesmo do início dos combates, usou sua influência para ser um destacamento de reforço. Assim evitaria a linha de frente e seria capaz de avaliar as batalhas antes de enfrenta-las. Também aproveitou a confiança de seus homens para manipula-los. Suas tropas chegavam sempre no último momento, prontos para resgatar nobres ou salvar cidades. O caos da guerra dificultava a percepção dos líderes e desta maneira SirGarma aos poucos virava herói.
Seu maior objetivo era matar A’gor, o líder dos orcs do sul. Passou o máximo de tempo possível evitando combate-lo diretamente esperando as tropas aliadas enfraquece-lo. Ouviu vários relatos da selvageria de seu exército, por isso se manteve longe. Até que rumores sobre um possível tratado de paz chegou aos seus ouvidos e ele teve que mudar seus planos. Se pôs no encalço do inimigo.
— Tem certeza que era A’gor? — Não queria errar. Depois de alguns dias seguindo em direção ao último relato que ouvira do exército do orc, finalmente tinha um rastro para seguir.
— Sim, senhor! a ‘espada amaldiçoada’ não me deixa errar…
— Não seja tolo! É só um orc.
— Desculpe, meu senhor. Ninguém é capaz de fazer o que ele fez só com a própria força.
A audiência durou vários minutos, a cada oportunidade o soldado insistia sobre os poderes da arma do orc e o cavaleiro ignorava queria saber sobre as forças do inimigo, seu contingente e níveis de poderes de seu grupo pessoal. Mais tarde, SirHalfeld Garma foi ao campo de batalha com Helmir seu conselheiro fiel e amigo pessoal. Tinham quase a mesma idade mas, o cavaleiro era muito mais sério e a maioria dos fios dos seus cabelos perderam a cor. Por isso o outro o chamava de ‘vovó’. Durante a conversa, SirGarma ouviu vários relatos sobre a ‘espada amaldiçoada’ e percebeu que estava tão imerso em seus planos que deixou passar esse rumor. Entendeu que grande parte do medo que se tinha de A’gor vinha dessas histórias. Ainda duvidava de tudo que ouviu, até que chegou ao campo de batalha. Passou metade de uma hora parado na frente do portão encarando os corpos chacinados. Não conseguia acreditar que aquelas armaduras abertas fossem de metal. Os corpos multilados e os rastros de sangue marcando a distância que suas partes foram arremessadas causaram uma grande impressão no cavaleiro.
Ele estremeceu com a lembrança. A criança continuava lendo, até que um homem entrou no espaço falando em voz alta, chamando a atenção de todos. Era Jenton, um dos organizadores vinha sorrindo com os braços abertos cumprimentando a todos. Tinha um pergaminho fechado na mão e trazia de volta quase todas as pessoas que haviam saído antes. Parou no meio do espaço e olhou em direção ao cavaleiro que estava sem reação.
— SirHalfeld Garma!— Disse apontando para ele. Mais pessoas se aproximaram.— Aqui, diante de nós… um herói!— Algumas pessoas protestaram discretamente.— Sim meus amigos, um herói!
Explicou que desde que virou organizador da exposição tentou fazer uma homenagem ao cavaleiro que sempre negou cordialmente. Mas, esse ano eles tiveram acesso a comunicação oficial e que entre tantas mensagens encontrou uma epístola redigida pelo seu falecido pai, Helmir Garlen endereçada ao rei da época.
— Amado Rei…— Ele abriu o pergaminho e leu em voz alta emocionado.— Perdoe-nos! Estamos perseguindo nossos inimigos a dias e acabamos de receber as boas novas de paz.— SirGarma respirava ofegante, se lembrava de seu amigo escolhendo as palavras cuidadosamente. O organizador continuou lendo.— Nossos corações se encheram de alegria com a ideia de podermos voltar ao nosso lar…— Respirou fundo sufocando o choro antes de continuar.— E abraçar a nossa família… Entretanto, amado rei, nosso status de guerreiro antecede o coração de homem... sendo assim, não somos capazes de permitir que nossos inimigos fujam. Perdoe-nos Rei…
O cavaleiro ouvia a voz de seu amigo relendo a carta antes de voltar ao mensageiro preocupado, primeiramente com sua opinião, depois de ser convincente ao rei. Ambos estavam cuidando da retaguarda quando o mensageiro os alcançou. Depois de Helmir ouvir sobre o tratado de paz, foi tomado por uma alegria que durou até encontrar a carranca de seu líder. SirHalfeld balançava a cabeça irritado. Naquela altura, desejava a espada ‘amaldiçoada’ mais que tudo. Ouvira relatos suficientes para acreditar que a arma lhe daria todo o poder que ele ansiava. O acordo de paz não seria um ponto final à sua escalada. Pediu para o mensageiro aguardar. Demorou duas frases para convencer seu amigo a ocultar a informação do restante da tropa para que continuassem a perseguir o orc. Mais alguns minutos de conversa, fez Helmir ter a ideia de escrever uma mensagem ao rei, tirando toda e qualquer responsabilidade de suas costas.
Depois de despacharem o emissário, foram até a tropa que armava acampamento depois da marcha desgastante. SirHalfeld fez um discurso lembrando que A’gor feriu o rei, ceifou centenas de vidas e agora estava fugindo para sua terra. Aumentou a vontade de seus homens e eles abriram mão do descanso e voltaram a marchar inspirados, cheios de ódio.
Alcançaram a tropa de orcs no início do dia seguinte. Dois guerreiros orcs avistaram os homens se aproximando e foram até o descanso deles avisar aos demais. SirHalfeld Liderava, caminhava ofegante tentando manter a postura para inspirar os demais. Chegou no alto de uma colina e de lá viu as criaturas desmontando o acampamento às pressas. Ficou aliviado quando viu a maioria do exército seguindo marcha, contou apenas vinte orcs e reconheceu A’gor no meio deles. Helmir e a primeira linha de homens se pos ao seu lado. O líder deu algumas ordens sobre a formação e vestiu seu elmo e desceu a colina devagar esperando a reação dos orcs que se colocaram ombro a ombro. Enquanto andava o cavaleiro usou o encantamento da fala, que permitia entender outras línguas e um clérigo o cobriu de magias defensivas. Os orcs fizeram o mesmo, cada magia emitia uma pequena luz ao redor dos soldados. SirGarma vinha ao lado de Helmir, no meio de cem homens. Outros oitenta ficaram ocultos no alto da colina, descansando e prontos.
— O que você quer Humano? Nossos líderes declararam paz!— A’gor gritou de onde estava.
Os homens se entreolharam, Helmir gritou de volta acusações e provocações. Percebendo o medo e o cansaço dos soldados, ele emendou um discurso inspirador. SirGarma tinha o coração palpitando, seus olhos estavam vidrados na espada que o líder orc empunhava. Ignorava tudo mais. A’gor lembrou que a maioria de seu exército estava salvo e se houvesse luta, o dano à honra do rei seria irreversível. Enquanto ele gritava, SirGarma parou. Sacou sua espada longa e ergueu a mão livre. Helmir pos seu escudo no braço esquerdo e sacou a clava com a bola de ferro com espinhos na mão direita. Os orcs se entreolharam com pesar, a maioria estava sem armadura completa e sem encantamentos para o combate. A’gor elogiou a coragem e a disposição deles, agradeceu pela companhia durante toda a guerra e percebendo o óbvio, deu um grito de guerra que inundou o ar, inspirando os seus e gelando os corações dos homens.
SirGarma baixou a mão e uma onda de flechas subiu ao céu. Os orcs correram em direção ao inimigo que também se adiantaram contra eles. O cavaleiro foi o único que ficou imovel. Mais flechas foram disparadas e todos os orcs foram atingidos, mesmo assim nenhum caiu. Na terceira onda, caiu um orc e em seguida houve um estrondo com o choque das tropas. Helmir foi atirado para longe com uma pancada em seu escudo. A’gor atacava com uma brutalidade assombrosa, seus guerreiros tentavam acompanha-lo. O cavaleiro ficou gritando ordens para que focassem no líder. Se empolgou quando viu mais orcs caindo e ignorou as dezenas dos seus que caiam sob o uivo da espada ‘maldita’. O som da batalha era assustador, gritos e urros furiosos rivalizavam com o aço contra aço e o desespero da morte.
Temendo que o restante de seus homens fugissem, SirGarma berrou uma ordem de ataque e eles desceram a colina rapidamente gastando o pouco de energia que tinham. A’gor deixou uma trilha de corpos conforme avançava em direção ao cavaleiro que o encarava apreensivo. Percebeu a aproximação e começou a caminhar de costas gritando para os homens que sobraram focarem no líder. O reforço passou por ele correndo e se pos no caminho do orc. Nessa altura havia uma dúzia de orcs de pé, todos feridos e lutando por instinto. Helmir estava desesperado, viu mais da metade da tropa destroçada e alguns soldados virando as costas para fugir e sendo mortos. Procurava seu líder com os olhos, o encontrou a salvo. Então deu um grito para tentar recompor a ordem e os homens exaustos, se alinharam com ele. Os orcs ficaram no meio de duas fileiras.
Um a um os orcs caíram, A’gor foi o último. Dizimou sozinho mais da metade da companhia. No fim estava sem um braço, cheio de cortes profundos e mesmo assim rugia e sacudia sua arma até que um lanceiro atravessou seu coração e a espada voou de sua mão. Ele caiu mordendo o rosto de seu algoz e finalmente morreu.
Helmir correu até seu corpo tentando salvar o lanceiro, mal conseguia ficar de pé.
— É minha!— SirHelfeld Garma gritou no meio de centenas de corpos erguendo a espada ‘maldita’ para o céu. Ele sorria.
Havia vinte e um soldados de pé, todos extremamente exaustos. Eles encaram seu líder sem entender. O cavaleiro estava limpo, com sua espada embainhada.
— Senhor!?— Um deles chamou, estava chorando.— O senhor não lutou?
O cavaleiro estava eufórico. Jogou sua espada no chão e segurou a de A’gor com as duas mãos, sentiu desconforto pelo tamanho e peso da arma. Falava consigo mesmo sacudindo a espada procurando uma maneira de faze-la uivar como o orc fazia. Helmir estava ferido, de joelhos chorando por todas as vidas perdidas, lamentava grandemente suas escolhas. Olhava desolado ao redor e cada corpo sem vida dos seus amigos pesava em sua consciência.
— Por que?— Perguntou a si mesmo encarando o tapete de cadáveres que forrava a grama.— Senhor!?— Pela primeira vez seus olhos repararam no seu líder.— Senhor?— Chamou em voz alta e mesmo assim era ignorado.— VOVÔ!— Esbravejou.
— Não me chame assim, soldado!— SirGarma se recompôs e tentou disfarçar sua empolgação.— Foi uma luta dura…— Olhou ao redor e foi como se tivesse percebido pela primeira vez o tamanho do massacre.—Temos que…
— Foi por isso!?— Helmir perguntou se pondo de pé com grande esforço.— Vovô, Por favor não me diga que sacrificou todos esses homens por essa arma…
— Não me chame assim!
— Poderíamos estar todos salvos em direção a nossa casa agora…
O segredo foi exposto e uma grande comoção começou entre os sobreviventes, o fato de SirHelfeld não ter sequer lutado revoltou ainda mais todos eles e nenhum lhe deu ouvidos. Os ânimos ficaram descontrolados. Alguns homens se adiantaram contra o cavaleiro que rebatia invocando sua autoridade e se mantendo firme. Helmir fez tudo que podia para acalma-los. Concordaram que eles seriam levados para o rei e que o cavaleiro seria exposto por seus atos.
SirGarma ouviu tudo sorrindo balançando a cabeça. Um soldado se aproximou para lhe tirar a espada e sem pensar ele reagiu o derrubando. Quando percebeu todos eles se preparando para conte-lo se viu sem opção. Enterrou a espada no que caiu e esperou o próximo. Cortou homem a homem, estava descansado e era muito mais ágil que eles. Berrava com ódio a cada golpe, não pela situação em que estava e sim pelo fato da espada se mostrar um monte de aço comum. Não uivava, não lhe dava poder nenhum e sim sugava seu vigor com seu peso e envergadura. Extravasava sua frustração em seus homens.
—Vovô!— Escutava Helmir gritando enquanto lutava.— Vovô!— A voz desesperada ia ficando cada vez mais próxima.
Sua espada parou em seu escudo e a bola de ferro com espinhos acertou seu rosto e ele caiu. No chão sua mão encontrou um cabo de uma espada e ele rolou para o lado na hora que seria esmagado. Helmir gritava e chorava enquanto tentava acerta-lo. SirGarma desviou uma última vez e enterrou a espada em seu amigo.
—Vovó…— Helmir o fitou com olhos cheios de tristeza.— Vo…vô.
— Vovô?- sua neta chamou.— Vovô… Você está chorando?Vovô!
— Não me chame assim!— Respondeu sua neta com raiva.
O organizador pigarrou e ele percebeu todos o encarando. Se desculpou com um gesto.
— Continuando…— Jenton esticou a carta.— Amado rei. Persuadimos SirGarma a nos liderar uma última vez… e sob seu comando vamos vingar nossa raça.
No final da epístola Jenton fez um breve discurso falando do milagre que foi ele ser o único sobrevivente daquela batalha e que sua cicatriz servia de lembrança da sua bravura e do horror do inimigo. Todos aplaudiram o cavaleiro que chorava escondendo seu sorriso com o braço.
Sua felicidade era como um sol nascendo em um campo devastado, brilhante formando sombras longas e pesadas. Seu sorriso deformado não tirava o amargo em sua boca, como se cada gota de alegria estivesse misturada ao sangue derramado. Era como erguer um troféu feito de ossos. Entretanto, o reflexo dos cadáveres não ofuscava sua ambição. Sentia-se o peito inflar com a conquista, os aplausos eram a melodia de seu triunfo.
TEMA: Fome de Poder