EPILOGO

INVESTIGADOR DE PEQUENAS CAUSAS II

Domingo, 2 de dezembro de 2007 – 16:30.

Talvez seja o meu último relatório. Estou correndo grande perigo. O que era aventura e obsessão, agora pode significar minha morte para sempre. Estou com medo, muito medo. Já não confio e não posso confiar em mais ninguém. Todos fazem parte de um plano estabelecido por forças sobre-humanas das quais não sei se estarei a salvo. Minha única esperança é que alguém possa ler este meu relatório e finalmente saberem a verdade sobre...

Vizinho, não vai me deixar entrar!?!...

A senhora Pry não é a inocente senhora que pensei que ela fosse. Ela...

Vamos rapaz, você sabe que essa história toda é uma bobagem. Não invente histórias que você não possa contar.

Maldita, ela e aquele cachorro, Nestor. Mas o que posso fazer? Ninguém acreditaria...

Quero apenas conversar com você. Abra a porta meu jovem!

Quem estiver lendo esse relatório certamente não está acreditando no que está lendo, mas é a mais pura verdade. Minhas atividades de investigador de pequenas causas andavam bem, mas nunca imaginei que a senhora Pry estaria entre nós há tanto tempo...

O que uma idosa como eu posso fazer contra um jovem moço, tão forte e tão inteligente. Quero lhe mostrar uma coisa. É só.

Descobri a verdade quase que por acaso...

Está bem, já que você não me convida para entrar. Vou embora, mas eu volto, viu. Venha Nestor.

Certa tarde, a senhora Pry me convidou para acompanhá-la num chá, ofereceu-me também alguns pedaços de bolo de maracujá e mostrou-me suas fotos da época de namoro, em especial esta foto:

Achei-a muito bonita, fiz até um elogio e assim foi aquela tarde. Mas à noite quando em meu quarto navegava pela internet fiz a descoberta...

Droga Corinthians, mal começou e já toma um gol, porra!

O corpo apresenta duas marcas de perfurações no glúteo direito. Aparentemente o mesmo teve a cabeça decepada por um facão, ou machadinha. Não há marcas de agressões no resto do corpo nem no rosto. O cadáver está sem sangue. Parece que seu sangue foi sugado, mas não há explicações plausíveis para isso. Não há manchas, nem impressões digitais. O que aconteceu aqui aparentemente foi uma morte de um cadáver. A única pista que temos é esse relatório que não diz coisa com coisa.

Chefe! Não sei se é hora, mas o jogo está acabando, gostaria de saber se o corinthians vai cair ou não. Posso ligar a televisão?

Tá liga aí, eu também quero saber, mas liga baixo que eu to lendo o relatório.

Não sei nem como dizer, pois até hoje, apenas sabia de coisas rotineiras das pessoas, se não sabia imaginava e as punha no papel. Essa era minha diversão. Para quem sabe um dia escrever um livro, igual ao Joyce em Dublinenses que em certos contos contava coisas que realmente aconteceram entre os moradores de Dublin. Isso lhe deu má fama, mas depois, enfim, depois, Joyce é o que é. E o mundo o festeja todo dia 16 de junho.

Mas enfim, a senhora Pry para mim era uma velhazinha qualquer que vivia lá sem muitas coisas interessantes para fazer, cuidava do Nestor, recebia alguns parentes e se mantinha graças a sua aposentadoria e a pensão de seu marido.

Ledo engano, e agora... Bem, agora das poucas forças que me restam tenho que tirar alguma coisa para avisar o mundo sobre o monstro que é a Senhora Pry, ou melhor, Elizabeth Bathory.

A história dessa mulher é uma história de sadismo, perversão, sangue e morte, morte de jovens virgens e de sangue no qual aquele monstro se banhava. A esta figura histórica muito se creditou à lenda da existência de vampiros, mas nada é tão real quanto a sua existência nos dias de hoje. O que não esperava é que ela de fato fosse uma vampira e que está viva entre nós em pleno século XXI.

Maldita hora em que meu caminho cruzou com o dela. Maldita hora. Meu Deus!

Arrependo-me amargamente do dia em que fui tomar aquele chá da tarde, um chá que virou sangue em meus lábios e que me transformaram num maldito vampiro. De lá pra cá minha vida foi desejo por sangue, uma fome de viver, um diário de vampiro secreto ao lado dessa rainha dos condenados, que é a senhora Pry, Elizabeth, e suas, quer dizer nossas vítimas.

Não posso narrar os crimes que cometemos juntos, pois ainda tenho um lado fortemente humano que me faz negar todos eles. Mas posso avisar ao mundo que vampiros existem e estão mais vivos, quer dizer, mais mortos-vivos do que nunca.

Por mim, agora a minha única esperança é apodrecer dentro desse meu quarto, sem comida e sem bebida. Contudo essa não será a minha morte, vampiros não morrem facilmente, a maneira mais certa é cortando nossa cabeça, mas quem fará isso por mim?

FIM.

OBS.: Infelizmente a foto de Elizabeth Bathory não colou, então a quem interessar é só digitar o nome dela em qualquer site de busca de imagens que vocês saberão sobre quem estou falando.

abs. Doutor Abreu.

Doutor Abreu
Enviado por Doutor Abreu em 16/01/2008
Código do texto: T820159