A ocasião faz o terror
O fim de semana finalmente havia chegado.
Numa sexta-feira 13, decidi sair para caminhar à noite. Pretendia relaxar um pouco e beber alguma coisa; talvez, até mesmo, conhecer alguém interessante.
Durante a minha caminhada, passei por uma conveniência e comprei uma cerveja. Em seguida, avistei uma praça. Fui até lá e sentei-me em um banco um tanto quanto retirado, para poder esvaziar a minha garrafinha em paz.
Depois de um tempo, estando meio distraído, não vi quando uma bela moça sentou-se ao meu lado. Ou melhor, percebi a sua presença apenas no momento em que me perguntou: “Boa noite! Você teria um isqueiro, por favor?”. Disse a ela que não, que não tinha o isqueiro, pois não fumava. Mesmo assim, permaneceu ao meu lado e começamos uma longa e prazerosa conversa.
Constatei que a jovem estava afim de mim, pelo que falava, pelo jeito que me olhava e pela sua linguagem corporal. Por isso, arrisquei um beijo. Ela não o recusou. Pelo contrário, acredito que era tudo o que ela estava querendo, porque não me deixava mais separar meus lábios dos seus. Foi quando, em meio à nossa pegação, observei que tinha uma cicatriz horrenda no pescoço. Ao questioná-la sobre isso, afirmou, triste e encabulada, que havia sido um acidente. Portanto, evitando magoá-la, não mais toquei no assunto. Logo, dei-lhe um apertado abraço e voltamos a nos beijar.
De repente, em meio ao nosso êxtase, perguntei qual era o seu nome. Ela se esquivou e, por sua vez, me perguntou que horas eram. Eu respondi que faltavam somente alguns poucos minutos para a meia-noite. Sobressaltada com a minha resposta, levantou-se e saiu correndo, gritando que precisava ir embora.
Achei tudo aquilo muito estranho, bem como lamentei não ter tido tempo de pedir mais informações a seu respeito, pois a achei bastante interessante. Enfim, após esse balde de água fria, acabei indo para casa.
No sábado de manhã, assim que me levantei, fui à padaria para tomar um café da manhã bem especial. Pedi um café espresso e um folhado de presunto e queijo a atendente. Sentei-me em um lugar perto do balcão para fazer a leitura do jornal do dia. Apesar do fato acontecido na véspera, eu havia acordado particularmente bem. Contudo, algo no jornal me deixou extremamente chocado. Fiquei branco como gesso e comecei a tremer tanto que derrubei meu café. Na parte baixa da primeira página constava uma nota onde familiares convidavam os leitores para a missa de sétimo dia de falecimento de uma bela moça. Exatamente aquela com quem curti a noite passada, reconheci ao ver a foto.
Estarrecido, peguei o meu celular na mão, escrevi o seu nome completo em um site de buscas e a notícia mais recente encontrada sobre ela era: “Jovem é assassinada por namorado ciumento”. Ao ler o restante do texto, descobri que o assassino arrastara a lâmina de uma enorme faca na veia jugular da vítima e que o crime ocorrera na sexta-feira retrasada, à meia-noite.
Eis aí o motivo daquela cicatriz...