1203-CRIMES EM NOITE DE TORMENTA

SÉRIE INFINITAS HISTÓRIAS

CONTO 1203 - CAP. 3 DA MINI-NOVELA "PERDIDOS NA DIMENSÃO Z"

Capitulo 1 – Tempestade de Areia - conto 1201

Capitulo 2 – Uma velha casa abandonada - conto 1202

Capitulo 3 – Crimes em noite de Tormenta

ANTONIO ROQUE GOBBO

Esfreguei os olhos e apurei os ouvidos. Sim, havia barulho lá dentro. Vozes...? Passos...?

Olhei por uma fresta das tábuas da parede e Ivâ olhou por outra. Sim, havia movimento dentro da sala. A luz de lampião pendente de uma viga revelava as três pessoas lá dentro. Uma mulher loura, magra, esguia, de saia rodada que lhe chegava aos pés lavava qualquer coisa na pia, sob uma torneira. Parecia ter uns sessenta anos. Um homem, velho, talvez setenta ou mais anos nas costas, de barbas e cabelos brancos sentava-se á mesa enquanto outro, mais moço, (quarenta anos?) caminhava de lá prá cá, a esmo, falando e gesticulando, erguendo os punhos e as vezes apontando para o velho.

Roupas velhas e antigas, coisa de muito tempo atrás. Pareciam pessoas normais, mas os olhos... os olhos... que estranho!!! Não vi os olhos, mas apenas uma cavidade, uma sombra. Não tinham olhos que brilhassem á luz do lampião, nem pálpebras que piscassem.

— Credo! Eles não têm olhos! São fantasmas! São zumbís!

Sentí um arrepio pelo corpo, que não era de frio, mas de medo, de terror.

— Num brinca, Ivã. Vamos embora daqui!

Mas não conseguíamos descolar nossas testas das frestas entre as tábuas e olhar curiosamente para a cena fantasmagórica. Nem percebemos que voltara a ventar, e com violência. Olhei para fora , fui até a base da escadinha, e senti o bater forte dos grãos de areia em meu corpo e em meu rosto, que ardeu com o impacto das minúsculas partículas.

— Virge Santa! Voltou o vendaval.

Ivâ veio conferir.

— Puta que pariu! Num dá pra sair com essa ventania de areia!!

Como que num movimento combinado voltamos a observar o interior da sala.

— Será que a gente entra? —Perguntei só por perguntar, pois sabia que aqueles seres alí dentro não eram do nosso mundo, com certeza.

— Tu tá louco, Gobbo? Num vê que eles são...

Não ouvi o resto do que Ivã disse devido ao uivar do vento que aumentou de forma impressionante.

Lá dentro, o homem mais moço andava em passadas cada mais fortes, os gestos aumentando. Parece que os uivos da ventania o impeliam a falar mais alto e a ficar cada vez mais excitado. Estávamos hipnotizados com a cena que se tornava cada vez mais tétrica, pois, se não ouvíamos as palavras do homem que andava de lá prá cá, ouvíamos o uivo do vento, que acompanhava bem o cena dramática que se desenrolava lá dentro.

O velho se levantou e tentou falar mas foi violentamente empurrado, e só não caiu porque se apoiou na parede, perto de onde havia uma porta; ali, escorado na porta, ficou tremendo. Mas parece que gritou com o moço (seria seu filho?).

Haveria uma relação com o aumento da ventania e a raiva do homem lá dentro? O vendaval quebrou galhos de uma arvore na frente da velha casa e fazia estalar a estrutura da casa. E mais areia trazia para o pequeno alpendre onde eu e Ivã acompanhávamos, fascinados o desenrolar da cena dentro da sala.

Já tinha certeza que o homem moço estava irado mesmo, quando ele chegou perto da mulher e pegando uma faca de ponta que estava sobre a bancada, num rapidíssimo movimento, pulou para o lado do idoso e enterrou a faca no seu peito.

O velho caiu de borco no chão, quando o assassino retirou a faca de seu corpo. A mulher levou as mãos ao rosto enquanto emitiu um grito, que não ouvimos devido ao uivar do vendaval.

Ainda com uma agilidade impressionante, o assassino pulou para o seu lado e da mesma forma, num átimo, cravou a faca no peito dela, que caiu de costas, deixando a faca ensanguentada na mão do agressor.

Como uma sequência de cena de um filme de horror, a porta do fundo da sala foi aberta e entrou um homem que, assim que o vi, notei a grande semelhança com o apunhalador, e, ainda que surpreso com o que viu, fez um gesto de agarrar o braço cuja mão segurava a faca. Numa agilidade felina, o louco (pois só podia estar) desviou, e ao mesmo tempo acertou o braço do seu semelhante. Ágil, se colocou por trás do recém chegado, de cujo braço jorrava sangue abundante, e meteu a ponta da faca em sua nuca.

Jamais vi tamanha expressão de dor (ou terror, ou medo, ou sei lá o quê) enquanto ele levou as mãos ao pescoço e também foi ao chão.

Fiquei paralisado de terror. Ivã me pegou pelo braço e sem dizer nada, me puxou para fora do alpendre.

A tempestade era apocalíptica, parecia o fim do.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Lagoa Santa-MG, 10 de julho de 2024,

Conto # 1203 da Série Infinitas Histórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 12/11/2024
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