Dialética

Estava enforcando suas convicções com a corda nodosa de todas as contradições que estão na mesma natureza de nossas mais ilustres teses. Belmiro refestelava-se na cisão inevitável entre o conceito esclarecido de suas certezas e a negação figadal de seus sentimentos.

A calçada era um tapete de lama fina, deixada pela caudalosa chuvaradas que havia se precipitado na noite anterior. O calcanhar de suas botas deixavam no miasma as mesmas marcas que os traumas costumam na alma de quem não já mais tinha uma. Uma fofa onomatopeia deixava a sola toda vez que esta erguia e caía sobre o chão.

Éramos dois amantes enroscados na arapuca que os espíritos sói em condições de amor e romance. Em circunstâncias imperativas do baixo ventre e da alta sensação. Mas, mentiras era mesmo tudo aquilo. Sabia Belmiro, homem crédulo e temente. E, sabia ela que nem o nomeo havemos de ter. Tempo não há. Houve.

Naquela calçada sujismunda, agora imiscuia-se um fio negro e espesso. Ferruginoso, denso. Do vão que a porta permitia, ele escorria fleumático, indiferente.

Naquela noite choveu de novo.

E, no dia seguinte, outro lamaçal deitaria sobre as calçadas. Essa certeza era quase imune a alternativa.