HOSPITAL DAS BONECAS
Na capital de Portugal em Lisboa fica o hospital das bonecas, onde todo tipo de brinquedos são restaurados. Uma parte é reservada ao museu e exibe uma coleção de quatro mil bonecas antigas, autos e locomotivas de metal, cavalos de madeira, navios, e outros brinquedos obtidos por doações ou de clientes que nunca retornaram para buscar os objetos. Foi enviada pelo correio como doação para o museu, uma caixa contendo uma misteriosa boneca com o nome bordado escrito Aneica. A mística boneca vestia um manto estilo indígena feito do fio dourado tecido pela aranha Néfila Clavipes, conhecida como aranha da teia de ouro. O cabelo preto e crespo era verdadeiro, o corpo e rosto feito com ossos dum macaco- prego, tinha na boca dois dentes salientes de cobra jiboia, as unhas dos dedos das mãos eram garras duma coruja, os olhos duas contas de madeira, calçava mocassins de couro dum animal. O corpo era recoberto com uma camada de argila misturada com areia, cinzas e lama do pântano. A horrenda fantoche Aneica transmitia energia ruim, deveria ter sido um artigo maldito usado para Vodu, por algum pajé ou curandeiro duma tribo. A boneca de aparência macabra, foi depositada numa redoma de vidro separada das outras, por ser original e única espécie artesanal de arte manual de nativos.
Na semana seguinte um cliente colecionador trouxe para polir e limpar, um regimento militar de 70 soldadinhos de chumbo armados com carabinas, fuzis, baionetas, mosquetãos e granadas de mão, 20 tanques de guerra, 10 aviões triplanos Barão Vermelho, 5 de caça e 7 bomber ( bombardeio ). Algumas peças eram desgastadas pelo tempo, desbotadas e faltando fragmentos. O restaurador Eiglon cuidava do trabalho do pelotão de soldadinhos e Werner examinava a boneca voduca Aneica. Eiglon foi chamado em outra sala e Werner foi no wc no corredor, ele lavava as mãos quando de repente o espelho que havia perto do lavatório se quebrou, sendo atingido na fronte por um estilhaço.
Ao retornar viu a boneca deitada em cima da mesa no mesmo lugar e posição, ao lado duas canetas quebradas em pedaços. Ele limpou o sangue do ferimento, desinfetou e colocou uma fita microporosa. Olhava a roupa da boneca, escutou um barulho vindo do armário e se virou para ver. A chave na porta se movia girando sozinha, depois caiu no chão. Logo o expediente terminou ele foi para casa, e o hospital das bonecas fechou as portas. Na sala escura onde estava a boneca Aneica, a porta do armário se abria e fechava fazendo um rangido fantasmagórico, no recinto ali perto espectros escronchos de outros brinquedos imóveis e silenciosos, não reagiam vendo os botões de suas roupas sendo arrancados, atirados no chão por algo invisível, como se divertindo.
★ segue no cap. 2