A Magia da Última Maquiagem
A Magia da Última Maquiagem
Em um mundo onde a morte é vista como um fim, Maria encontrava beleza. Maquiadora de profissão, ela trabalhava em uma funerária, dando o toque final à jornada de cada vida. Com pincéis delicados e cores suaves, ela transformava rostos cansados em retratos de serenidade, restaurando a dignidade que a morte, por vezes, parece roubar.
Desde a pequena Maria, sempre fora fascinada pela arte de transformar. A maquiagem era sua tela, e cada rosto, uma obra-prima única. Ao ingressar na funerária, ela encontrou um novo significado para seu dom. A cada corpo que preparava, Maria sentia uma profunda conexão com a vida que se fora.
Lembrava-se da vovó Alice, uma senhora de sorriso fácil e cabelos brancos como algodão. Ao maquiá-la, Maria viu refletido em seus olhos a ternura com que a neta falava sobre ela. Daquele momento em diante, a maquiadora sentiu a responsabilidade de contar histórias através de sua arte.
Houve também o vovô João, um homem de mãos calejadas e olhar sereno. Sua pele, marcada pelo tempo, contava histórias de uma vida dedicada ao trabalho. Maria suavizou as rugas, realçando a força que emanava daquele rosto.
Mas a história que mais a emocionou foi a de pequena Ana, cujo sorriso tímido ainda insistia em aparecer, mesmo em meio à dor da perda. Ao maquiar a menina, Maria sentiu a fragilidade da vida e a importância de celebrar cada momento.
Nos velórios, Maria observava de longe, com um sorriso discreto nos lábios. A satisfação vinha da certeza de ter contribuído para que aqueles momentos de despedida fossem mais suaves. Cada rosto que havia maquiado era uma lembrança viva, um testemunho da beleza que a morte não consegue apagar.
Para Maria, a maquiagem era mais do que uma profissão. Era uma missão. A missão de transformar a dor em beleza, de celebrar a vida em todas as suas fases, e de garantir que cada partida fosse marcada pela dignidade e pelo respeito.