A Sala das Alucinações
Ela acordou novamente na pequena sala de 3x3 metros, sem janelas, portas ou qualquer indicação de onde estava. A única conexão com o mundo exterior era um buraco de 10 centímetros de diâmetro coberto por uma espessa vidraça suja. Os olhos dela se fixavam no buraco, que agora parecia pulsar com uma presença invisível. Lá fora, podia ver apenas sombras distorcidas, como se algo tentasse entrar ou chamá-la para fora. A escuridão era sufocante, e o cheiro de mofo e umidade fazia o ar parecer mais pesado a cada respiração.
As paredes ao seu redor pulsavam, como se fossem feitas de carne viva, e o chão era frio e úmido. Ela não sabia há quanto tempo estava ali. Dias? Meses? Talvez anos. Os momentos se misturavam, e a linha entre sonho e realidade já não existia mais. Cada centímetro daquele espaço exalava um terror que só ela podia sentir, como se a sala fosse uma extensão de sua própria mente.
No começo, ela acreditava que alguém viria salvá-la, mas a esperança havia se esgotado. E a cada dia, o buraco na parede parecia mais sinistro, mais convidativo. Era como se ele a observasse, esperando o momento certo para engoli-la. Ao mesmo tempo, seu próprio reflexo na vidraça era uma visão quase irreconhecível: cabelos desgrenhados, olhos fundos e a pele quase cadavérica.
Com o passar do tempo, ela começou a ter visões. Às vezes, o buraco mostrava cenas da sua vida antes de tudo aquilo. Ela via uma casa simples, um jardim florido, uma infância que agora parecia um sonho distante. Mas essas imagens se distorciam, e, em instantes, ela estava observando cenas de horrores indescritíveis: crianças gritando em um campo deserto, uma mulher presa em uma jaula chorando sangue, uma figura encapuzada segurando algo que se contorcia em suas mãos.
Ela sabia que estava alucinando, mas essas visões eram tão reais que não conseguia afastá-las. Em uma dessas alucinações, ela viu o buraco se expandir e começar a devorar a parede ao seu redor, revelando um corredor longo e estreito. De repente, mãos emergiram das paredes do corredor, estendendo-se em sua direção. Eram mãos macilentas, deformadas, algumas faltando dedos, outras com unhas compridas e quebradas, todas se movendo em um desesperado pedido de ajuda. Ela tentou gritar, mas nenhum som saiu de sua garganta.
As mãos se agarravam às bordas da porta que se formava, e seus dedos batiam incessantemente contra a superfície da parede, deixando marcas vermelhas e sangrentas. Ela recuou, mas sentiu algo tocar seu ombro. Quando se virou, uma mão segurava seu braço com uma força sobre-humana, arrastando-a em direção ao corredor.
As luzes piscavam e as sombras se alongavam, transformando o chão em uma superfície pulsante. De repente, o buraco se iluminou, mostrando a imagem de alguém que parecia ser ela mesma, mas com um sorriso distorcido e os olhos cheios de loucura. Foi então que compreendeu: ela era uma prisioneira de sua própria mente, uma mente que se divertia com seu sofrimento.
O buraco começou a emitir um som ensurdecedor, como o lamento de centenas de almas atormentadas, e a sala começou a encolher. As paredes se aproximavam cada vez mais, como se quisessem esmagá-la. Ela gritou, mas seu grito foi abafado pelo som do vidro se quebrando. Ao seu redor, as mãos das alucinações pareciam agora ter rostos, todos eles a observando com expressões de prazer sádico. Eles queriam que ela visse, que ela sofresse.
Ela tentou escapar, mas as mãos a seguravam firme, cada uma puxando uma parte de seu corpo em direções opostas. Sentiu um estalo quando seu braço se deslocou, e a dor a levou ao limite da consciência.
No entanto, antes que pudesse sucumbir, olhou uma última vez para o buraco. E naquele momento, teve um vislumbre de algo além, uma escuridão que parecia viva e a esperava, faminta.
A sala encolheu ainda mais, e, em um último instante de terror, a parede quebrou com um estalo, absorvendo-a por completo. Tudo se apagou, e o silêncio retornou à sala vazia, onde apenas a vidraça intacta do buraco permanecia, esperando pela próxima vítima.