Quando a Insônia Morre
Madrugada. Já se passava das 3:00. De novo, Thales havia perdido o sono. As crises de ansiedade e insônia eram cada vez mais frequentes. Poucas semanas atrás tinha lançado seu livro de contos de terror, entretanto, sua carreira lhe parecia mais estagnada que antes, e isso o preocupava.
Para piorar, uma tempestade caía ao lado de fora. Uma porta dupla de vidro separava seu quarto do quintal, e uma espessa cortina ficava à frente dela. Thales estava com uma sensação ruim, que evoluiu para um receio desmedido. Como se não bastasse a fúria da chuva, dos raios e dos ventos, prontos para estilhaçar suas janelas e portas, notou uma sombra disforme, muito próxima da cortina. Buscava ser racional, repetindo para si mesmo que eram as plantas. Mas a sombra lentamente se aproximava.
Sentiu uma aura maligna, somada a um odor de enxofre e putrefação. E, para alimentar seu medo abissal, percebeu que algo escuro e incorpóreo atravessava sua porta trancada.
Aquilo então foi se avultando, tomando uma forma ameaçadora e bestial. A tétrica aparição possuía várias protuberâncias na cabeça e nas costas; e braços alongados que tocavam o chão. A figura nefasta chegou mais perto do rapaz, parando a menos de um metro dele. Thales não conseguiu gritar ou correr, estava paralisado pelo terror. E eis que a aparição tenebrosa lhe disse, com uma voz áspera e reverberante:
— Parece que sua carreira vai mal, não é mesmo? Sua vida é pífia, solitária e você segue cada vez mais infeliz... Mas daqui para frente tudo mudará.
Thales por fim desfaleceu, acordando horas depois. Suspirou aliviado, pois obviamente se tratava de um pesadelo. No entanto, enganou-se... No seu corpo havia sinais peculiares — que mais tarde lembrou que já tinha visto coisas parecidas num dos livros de sua biblioteca —, tratavam-se de "sigilos", símbolos ocultistas que representam a declaração codificada de um desejo, bem como, naquela circunstância, um pacto com alguma entidade.
A carreira de Thales deslanchou. Tornou-se um escritor muito bem-sucedido, conquistando uma miríade de bens materiais e até um relacionamento com a mulher que há tempos idealizava. Contudo, ocasionalmente, recebia a visita da mesma figura macabra, que sempre o olhava no fundo dos olhos antes de desaparecer, mas não sem fazê-lo desmaiar. O rapaz ainda não havia se acostumado com aquilo; tremia e chorava ao pensar no que todo o sucesso lhe custaria, visto que sua saúde começava a definhar...
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Thiago S. Sevla