Ecos na Sessão
Dr. Eduardo Monteiro, renomado psicanalista, construíra sua carreira ajudando outros a confrontar seus demônios internos. Ele era firme, sempre racional, e nunca permitiu que as emoções de seus pacientes o afetassem. Porém, nas últimas semanas, uma nova paciente, uma jovem chamada Larissa, vinha desafiando seu próprio senso de realidade. Ela falava de vozes, sombras, de uma presença que a seguia. Eduardo, claro, desconsiderou esses sintomas como sinais de uma psicose clássica. O curioso é que ele começou a perceber essas mesmas presenças em sua própria vida.
Larissa sentava-se em sua cadeira, descrevendo as sensações que sentia à noite. "Eu vejo coisas nos cantos do meu quarto, doutor. Não consigo explicar, mas é como se algo estivesse me observando. Ouço sussurros, mas não consigo identificar o que dizem. Só sei que estão lá."
Enquanto ela falava, Eduardo começou a sentir uma leve pressão na cabeça, como se algo invisível apertasse sua mente. Ele piscou, tentando afastar o desconforto, mas as palavras de Larissa ficaram com ele. "Eu sou o psicanalista", pensou. "Isso não pode me afetar."
Nos dias seguintes, começou a ouvir ruídos estranhos em sua casa. Sons como passos distantes, arranhões nas paredes. "Eu conheço os sintomas de uma mente perturbada", disse a si mesmo, tentando racionalizar o que estava acontecendo. "Estou apenas sendo sugestionado pelas palavras da paciente."
Mas a sensação de estar sendo observado não parava de crescer. Toda vez que entrava no consultório, tinha a impressão de que algo havia se movido enquanto ele estava fora. Objetos pareciam estar em lugares diferentes, as cortinas mexiam levemente, mesmo quando não havia vento. Eduardo começou a suspeitar que Larissa estava implantando ideias em sua mente, mas como isso seria possível? Ele, um psicanalista com anos de experiência, sabia o que era real e o que não era... ou será que não?
Uma noite, quando Eduardo finalmente decidiu confrontar Larissa sobre sua influência em suas percepções, ela riu. Uma risada fria, quase mecânica. "Doutor, por que acha que sou eu? Talvez... seja você que está ouvindo as vozes."
Ele tentou ignorar, mas as palavras dela o seguiram até em casa. Aquela noite, os sussurros começaram. Não mais ruídos vagos, mas palavras distintas. "Nós estamos aqui... sempre estivemos aqui..." Eduardo acordou suando frio, o peito apertado de medo. Levantou-se da cama e foi até o espelho do banheiro. Estava pálido, os olhos fundos. "Isso não pode estar acontecendo comigo. Eu sou o observador, não o observado."
No dia seguinte, durante a sessão com Larissa, ele a confrontou diretamente. "Você está projetando seus delírios em mim, Larissa. Eu estou começando a vivenciar o que você descreve. Isso é impossível!"
Ela o encarou, impassível. "Doutor, você já parou para pensar que talvez não seja eu? Talvez as vozes que você ouve estejam dentro de você. Talvez sempre tenham estado."
As palavras dela soaram como um golpe. Eduardo tentou retomar o controle da sessão, mas sua visão começou a se distorcer. As paredes do consultório pareciam se fechar ao seu redor. Ele sentiu como se estivesse sendo puxado para dentro de sua própria mente, para um lugar onde o racional não existia mais. Tentou focar em algo concreto, mas a voz de Larissa tornou-se um eco distante e ao mesmo tempo presente, como se estivesse em todos os lugares ao mesmo tempo.
Ao olhar para o relógio, percebeu que o ponteiro não se movia. O tempo havia parado. A realidade ao seu redor estava desmoronando, e ele não conseguia mais distinguir o real do ilusório. Foi então que se deu conta: ele, o mestre da mente, estava sucumbindo à mesma psicose que tratava nos outros. O consultório tornou-se um vazio sem fim, e Eduardo percebeu que estava preso naquilo que sempre temera — a incapacidade de controlar sua própria mente.
Agora, ele estava sozinho, ouvindo os sussurros que nunca cessariam, sem saber se eram fruto de sua própria loucura ou de algo muito mais profundo e sinistro.