"Quando uma árvore cai no meio da floresta e ninguém a vê cair, não significa que ela não caiu."

- Provérbio Chinês

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A praça estava quase vazia naquele fim de tarde. As poucas pessoas vagando aqui e ali já começavam a seguir seu caminho para casa. Num dos bancos velhos e descoloridos pelo sol uma garotinha chorava sozinha.

 

  - Onde estão seus pais, pequena?

 

Perguntou o homem de óculos grossos e  calça caqui.

 

  - Eu saí de casa só pra procurar meu gatinho.

 

O homem abriu um sorriso grande demais para alguém que queria apenas ajudar.

 

  - Nossa que pena. Mas me diz, você ainda não achou ele?

 

  - Não moço, ainda não achei.. Eu não sei onde ele foi parar. 

 

Disse ela chorosa, enquanto tentava limpar os olhos com as costas das mãos.

 

  - Pois vamos voltar pra sua casa, eu te levo tá?

 

  - Mas eu ainda não achei o pobrezinho.

 

O homem então se agachou e olhou a menina nos olhos.

 

  - Vamos fazer o seguinte, eu te levo pra casa e no caminho podemos procurar esse gatinho fujão.

 

Os olhos da pequena brilharam ao ouvir aquilo.

 

  - Promete?

 

  - Claro, eu juro. 

 

Disse, quase enchendo a boca d'água.

 

  - Tá bom.

 

Ela deu a mão ao homem e então saíram pela entrada que era caminho do velho parque botânico que quase ninguém visitava. O sorriso sujo do homem mostrava que alguém tinha ganhado um prêmio aquele dia. 

 

Por um tempo houve apenas silêncio entre as árvores e arbustos, depois os gritos, que logo foram abafados até serem novamente cobertos  pelo silêncio da mata. 

 

Pouco antes de amanhecer a polícia foi chamada para recolher partes de um corpo não identificado perto da pracinha. Havia muito sangue no local, fragmentos do que pareciam óculos de grau, assim como partes de uma calça caqui estavam espalhados por dezenas de metros. 

 

  - Que que cê acha que rolou aqui? 

 

Perguntou um dos peritos enquanto olhava para os galhos altos com tripas escuras ainda pingando. 

 

  - Sei lá, até parece que o diabo saiu pra jantar. 

 

Respondeu o colega ainda sem acreditar naquela cena. 

 

Se alguém da equipe da polícia tivesse prestado mais atenção teriam visto uma menina escondida pela vegetação do parque observando ao longe enquanto afagava um pequenino gato preto no colo.