A cada 730 dias elas voltam
Exatamente no entardecer do 730º dia, elas despertam. Seres de carne mole, com olhos vazios e bocas permanentemente entreabertas, como se estivessem sempre à beira de dizer algo importante, mas incapazes de formar um pensamento coerente. Suas garras, apesar de afiadas, tremem de insegurança, e suas vozes ecoam pelas ruas com um tom patético, misto de súplica e ódio. São criaturas frágeis, incapazes de lutar sozinhas, mas sedentas por poder.
Elas se arrastam pelos becos, alimentando-se de promessas vazias e mentiras apodrecidas, sussurrando rancores antigos. Cada uma delas sonha em se tornar mais do que é: quer poderes além da sua capacidade, quer dominar aquilo que nunca conseguiu entender. São fracas, mas cada gesto errático é um lembrete de que, juntas, representam uma ameaça.
As pessoas, apavoradas, tentam se proteger de suas presenças grotescas. Mas elas são persistentes, rastejando por todas as brechas, invadindo mentes e corações, sempre em busca de mais — mais controle, mais atenção e mais força, por mais patéticas que sejam.
Por fim, ao anoitecer do 731º dia, elas desaparecem. Silenciosas, voltam para os buracos de onde surgiram, deixando para trás apenas o medo de seu retorno inevitável. Porque todos sabem: a cada 730 dias, elas voltam.