O perigo vem de cima.
Ele preparava o almoço com cuidado, seu filho mais novo era intolerante a lactose e o mais velho não comia cebola. Ora quem em sã consciência não come cebola? Resmungava enquanto escolhia os temperos prontos de mercado.
- Querido já acendeu o forno?
Rebecca sua esposa, fazia as unhas na sala enquanto passava os reels no Instagram. Seus filhos brincavam lá fora, difícil crianças brincarem mas era uma ocasião especial, estavam de férias na casa de campo deslumbrados com a natureza tão verde, árvores imensas e uma pequena mata fechada ao fundo.
- Já!!
Respondeu num tom áspero visivelmente incomodado por estar fazendo todo o almoço sozinho.
- Pai a gente pode ir ali brincar? *Gritou o mais velho apontando pra mata fechada*
- Falei que não é pra ir ali, vocês não sabem nem diferenciar uma formiga de um mosquito e querem bancar o Tarzan? *Rude e com olhar atento ao forno*
- Não queridos, sabem que podem brincar só aí onde podemos ficar olhando vocês! * Falou Rebecca enquanto não tirava os olhos do celular*
Um estrondo forte, parecendo um raio que caia bem próximo fez com que o casal se assustasse, fazendo ambos olharem imediatamente lá fora à procura dos filhos.
- Meu Deus o que foi isso? Crianças venham já pra dentro! * Pai e mãe gritavam juntos já correndo para fechar a porta*
Mas não havia nada lá fora, somente a bola de futebol velha e rasgada que as crianças brincavam segundos atrás. Rebecca jogou seu celular longe e o pai deixou cair uma tigela de legumes enquanto saia desesperado olhando para todos os lados procurando seus filhos.
- Miguel, Antônioooooo? * Berrava com toda força que conseguia*
O casal corria em direção a mata fechada, com a certeza de que estavam lá nem olharam pra outro lado, mantiveram o foco e correram.
Mas antes de entrar na mata, Rebecca sentiu um calor estranho como nunca havia sentido nem em verões atuais, apenas deixou escapar um leve e sofrido "aí o que?"
O homem olhou pra trás pra pegar nas mãos da esposa e antes de abaixar o braço, notou que não havia Rebecca, ela sumiu como que em um passe de mágica. Voltou alguns metros em direção a casa, perdido olhando pra todo lado na esperança de que estavam fazendo algum tipo de pegadinha de muito mau gosto.
Nada.
Pensava que se nao era uma pegadinha, foram sequestrados, ou então teve um mal súbito e apagou por algumas horas dando tempo da esposa fugir com seus filhos. Espera e se ela colocou sonífero na minha cerveja? E se ela descobriu o caso que tenho com a Fernanda e simplesmente desapareceu da minha vida? Não, não, ela não tem como saber! Isso é uma pegadinha.
Pensamentos e desespero tomavam conta do homem que girava na grama tentando encontrar qualquer vestígio de sua família, quando seus olhos por um segundo miraram o céu.
Estático e atônito, ele não conseguia se mover, não era possível ver o que ele via naquele momento, não conseguia falar e sua respiração ficava cada vez mais ofegante. Ajoelhou se na grama olhando para o céu com o semblante de puro horror.
Uma espécie de nave maior que qualquer prédio ou construção humana, maior que uma pirâmide egípcia pairava sobre ele, imóvel.
Foi quando ele sentiu o calor e viu uma luz.