E foi tudo o que restou...

Ele sabia que não teria como fugir dali, tudo em volta era cinza, o nada era cinza, o vazio era cinza. Sentou numa beirada que parecia ter sido um muro no passado, respirou fundo olhando suas mãos sujas que lhe contavam quantos matou naquele dia, não foram poucos.

Desde o fim, tudo o que importava era sobreviver, mesmo que pra isso significasse matar a si mesmo, matar o homem que foi um dia. Não haviam mais pessoas para impressionar, não havia mais um emprego chato pra reclamar, não haviam mais assuntos inúteis com que se preocupar, não havia nada. Então pra quê? É algo instintivo, não há um porque, não há motivos pra continuar e também pra desistir.

Encostou suas costas se ajeitando de modo que o ferimento aberto na lateral de sua barriga não sangrasse mais, sabia que era ali que ia morrer, mas algo ainda o fazia tentar se proteger, tentava a todo custo tapar o buraco e tentava colocar as entranhas de volta. Oh doce vida que se foi, quanto tempo eu perdi?! Por que fiz aquilo? Por que não fui em frente e chamei ela pra jantar? Por que não pedi demissão e dei um soco na cara daquele f.da.p?

Mas tudo o que restou foi ele mesmo, sozinho e seus por quês.

Pan Murakami
Enviado por Pan Murakami em 01/10/2024
Código do texto: T8164222
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