A ÁRVORE DO ENFORCADO
Não é uma árvore bonita. Seus galhos são disformes e muitas vezes ganham um aspecto estranho. Quando o vento é forte e acoita suas folhas elas balançam de uma maneira que pareceria desagradável a quem se propõe olhá-la.
Certa manhã encontraram um homem morto pendurado em um de seus galhos. Jogado ao chão jazia a pequena escada que ele usou para subir na árvore e cumprir a sua sina. Seu corpo inerte balançava indiferente ao horror que causava.
Quem olhasse para aquele homem perceberia que seus olhos encontravam-se incrivelmente dilatados e pareciam querer saltar das órbitas. Seu rosto arroxeado e o forte cheiro de fezes, que o enforcado expeliu quando seus esfíncteres relaxaram, deixaram as pessoas chocadas e enojadas.
Da janela do meu quarto todas as noites eu me pego olhando para a árvore. Não gosto de olhá-la, porém volta e meia meus olhos a procuram. Quando chove seus galhos parecem adquirir uma deformidade que faz com que esta tenha um aspecto triste e solitário.
A árvore com seus galhos disformes e melancólicos frequenta meus sonhos. Todas as noites eu sinto que uma estranha simbiose vai se formando aos poucos. Seu tronco, seus galhos, suas folhas parecem chamar-me para algo.
Todas as noites eu fico olhando para meu corpo que balança. Meu rosto está disforme, minha traqueia esmagada.
Amanhã novamente eu serei encontrado.
O dia amanhece e meu corpo balança pendurado no galho de uma velha árvore.