Seu Corpo Ainda é Meu

Em uma pequena cidade esquecida pelo tempo, onde as sugestões do passado sinceramente reverberam em cada esquina, havia uma casa antiga, coberta de sombras e mistérios. Essa casa, conhecida pelos moradores como a Residência dos Lamentos, era famosa por sua história trágica. Há anos, uma jovem chamada Beatriz desapareceu em situações estranhas, e desde então seu espírito parecia não abandonar os corredores da propriedade.

A história de Beatriz envolve amor, ciúmes e vingança. Ela havia se apaixonado por Eduardo, um jovem carismático, mas o amor deles não era aceito por sua família. Desesperados para manter a honra, seus parentes forçaram a se separar dele, mas as chamas da paixão eram inextinguíveis. Beatriz decidiu que, se não pudesse ter Eduardo na vida, não o deixaria ir de forma alguma. No que muitos acreditavam ser um ritual de amor eterno, ela desapareceu na noite em que decidiu se encontrar com ele. Na manhã seguinte, somente a lembrança de seu nome permaneceu.

Décadas se passaram, e o mistério ainda cercava a casa. Quando um grupo de amigos decidiu passar um fim de semana lá, a emoção do desafio os animou. Eles eram jovens, destemidos e céticos, e nada poderia os preparar para o que estava por vir.

Na primeira noite, enquanto exploravam o lugar, encontraram um diário empoeirado na biblioteca. As páginas revelavam os pensamentos de Beatriz, seu amor ardente por Eduardo e um texto perturbador que falava sobre a possessão do corpo e da alma. “Seu corpo ainda é meu”, foi escrito várias vezes, como um mantra desesperado.

Um frio cortante tomou conta do ar, e o grupo decidiu que, em vez de assustar-se, fariam uma madrugada de histórias de terror. No entanto, conforme as horas avançavam, um sentimento de mal-estar começou a emparelhar sobre eles. Sons estranhos ecoavam pelos corredores, como sugestões de vozes longínquas. O grupo, inicialmente animado, agora sentia um peso crescente, como se algo os estivesse observando.

Certa altura, Maria, uma das amigas, teve a estranha sensação de que alguém estava segurando sua mão. Ela tentou ignorar, achando que era só imaginação. Mas a sensação foi se intensificando, até que não conseguiu mais. Ao olhar para baixo, suas mãos parecem mais pálidas, menos humanas. “Seu corpo ainda é meu”, sussurrava uma voz melancólica em seu ouvido. Desesperada, Maria pulou, alertando os amigos.

Mas não havia ninguém na sala além deles. Eles perceberam que, um a um, estavam sendo afetados. Lucas começou a agir de maneira estranha, como se estivesse conversando com alguém que não estava lá. A preocupação se transformou em pânico. Eles queriam sair da casa, mas a porta não se abria. Parecia que algo os prendia ali, como se a própria casa tivesse ganhado vida.

A atmosfera sufocante rapidamente se transformou em um pesadelo. Enquanto tentavam encontrar uma maneira de escapar, Maria, possuída pela presença, começou a recitar as palavras escritas no diário. Seus amigos, agora aterrorizados. Os murmúrios aumentavam, e cada vez mais, pareciam emergir das paredes.

Naquela noite fatídica, eles entenderam que Beatriz não era apenas uma lenda, mas uma força que habitava a casa, uma vítima de um amor tão intenso que agora se transforma em uma prisão eterna. “Seu corpo ainda é meu” não era apenas uma frase, mas um juramento de possessão que Beatriz não estava disposta a quebrar, mesmo na morte.

Finalmente, quando a luz do dia começou a invadir as janelas empoeiradas, a presença se dissipou, e com isso, Maria caiu ao chão, exausta. Eles conseguiram abrir a porta e fugiram da Residência dos Lamentos sem olhar para trás.

O que aconteceu naquela noite apareceu como um terror oculto em suas memórias, um segredo que os uniria para sempre. Porém, mesmo em suas novas vidas, uma pergunta pairava no ar: e se Beatriz ainda estava à espreita, aguardando o momento certo para reivindicar mais um corpo?

A cidade contínua com seu cotidiano, mas o eco de “Seu corpo ainda é meu” poderia ser ouvido, às vezes, na brisa noturna que soprava pelas ruas estreitas, lembrando a todos que algumas estórias nunca deveriam ser ignoradas.

Stoff Vieira
Enviado por Stoff Vieira em 19/09/2024
Código do texto: T8155538
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