O Antigo Hotel

Era uma vez, em uma cidade esquecida pelo tempo, um hotel que se erguia imponente nas margens de um lago escuro e profundo. Chamava-se "O Antigo Hotel", e sua fachada, coberta de musgo e trepadeiras, parecia sussurrar segredos a quem ousasse se aproximar. A história do lugar era envolta em mistério e lendas macabras, e poucos se atreviam a passar sua porta. Aqueles que o faziam, geralmente o abandonavam em menos de uma noite.

A lenda mais famosa contava sobre uma mulher chamada Helena, uma encantadora hostess que havia desaparecido misteriosamente décadas atrás durante uma rara noite de tempestade. Desde então, seu espírito supostamente vagava pelos corredores em busca de vingança. Diziam que aqueles que a viam nunca mais eram os mesmos — alguns enlouqueciam, outros desapareciam sem deixar rastro.

Certa noite, um grupo de amigos decidiu desafiar as histórias e se instalar no hotel, curioso para descobrir a verdade. Ana, Tomás, Lúcia e Ricardo eram jovens e audaciosos, e estavam determinados a passar uma noite lá, armados apenas com lanternas e suas risadas nervosas. Ao chegarem, foram recebidos por um gerente inusitadamente cordial, que parecia mais uma sombra da própria construção. Ele os explicou que estavam hospedados no último andar, onde os quartos eram espaçosos e repletos de móveis antigos.

Assim que a noite caiu, o clima descontraído começou a mudar. Ventos uivavam do lado de fora, arrastando as folhas pelo chão, enquanto os amigos giravam em volta da mesa, contando histórias de terror. Um, dos mais corajosos do grupo, desafiou os outros a explorarem os andares mais altos do hotel.

Subiram as escadas rangentes, cada passo ecoando sombriamente no silêncio opressivo. Ao chegarem ao último andar, depararam-se com um corredor coberto de poeira, apenas iluminado pelas lanternas. As paredes estavam decoradas com quadros de expressões sombrias que observavam os visitantes com olhos penetrantes.

De repente, uma porta se abriu sozinha ao final do corredor. Era um quarto não listado no cardápio do hotel. Com uma mistura de curiosidade e medo, os amigos se aproximaram, e Tomás, o mais corajoso, empurrou a porta. Ela rangeu, revelando um espaço em desordem, com móveis envelhecidos e uma cama coberta por lençóis amarelados.

Sentindo um arrepio na espinha, Ana decidiu dar uma olhada mais de perto. Uma fotografia emoldurada na parede chamou sua atenção. Era uma imagem antiga de Helena, a hostess desaparecida, com um olhar melancólico que parecia seguir cada movimento. Enquanto admirava a foto, Ana ouviu um sussurro suave. "Ajude-me...".

Assustada, ela se afastou, chamando os amigos. Mas ao se virar, percebeu que eles já não estavam mais ao seu lado. O corredor se transformara em um labirinto, com portas e sombras dançando ao seu redor. Desesperada, ela procurou por eles, mas cada porta que abria revelava apenas mais escuridão e ecos de risadas distantes.

Quando finalmente encontrou os amigos novamente, já estavam mudados. Olhares vazios a fitavam, e suas vozes tornaram-se ecos das palavras de Helena, a mulher que não encontrara paz. Lúcia, especialmente, parecia hipnotizada pela presença de algo que não era visível, seus olhos brilhavam de um modo que Ana nunca tinha visto. "Nós pertencemos a ela agora," sussurrou Lúcia, com uma voz que não soava como a sua.

Então Ana percebeu a verdade. O Antigo Hotel não era apenas um refúgio de histórias de terror; era uma prisão para almas perdidas, e Helena precisava de companhia. As risadas do grupo se transformaram em gritos silenciosos, enquanto Ana tentava encontrar uma saída, sua luta sendo em vão. O hotel se alimentava do medo e da desesperança, e ela sabia que, se não fugisse logo, seria mais uma sombra vagando pelos corredores.

Foi em uma última tentativa de escapar que Ana desceu apressadamente as escadas. Cada passo soava como um aviso, e o eco dos sussurros se intensificava. No entanto, quando finalmente chegou à entrada, a porta estava trancada. Um frio gélido a envolveu e, no reflexo de uma janela quebrada, ela viu não apenas o seu rosto, mas o de Helena, sorrindo de uma forma que parecia, ao mesmo tempo, convidativa e aterradora.

Ela se virou para encontrar os amigos ao seu lado, agora completamente transformados, encarando-a com aqueles olhares vazios. A sala do hotel ruiu em risos e sussurros, enquanto Ana compreendia que, se não tomasse uma atitude, ela se tornaria mais uma história contada sobre O Antigo Hotel, uma lenda viva entre as paredes empoeiradas, condenada a repetir o ciclo eternamente.

E assim, o hotel continuou a existir, recebendo novos visitantes, enquanto a voz de Helena ecoava nas sombras, pronto para atrair mais almas perdidas para sua sombria eternidade.

Stoff Vieira
Enviado por Stoff Vieira em 19/09/2024
Código do texto: T8154879
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