O gato ladrão

No condomínio aonde eu morei muitos anos atrás. Uma história inusitada que nunca tive coragem de contar pra ninguém, pelo menos até agora. Ela começa com um gato preto de um dos vizinhos.

Parece com a história do gerente de um circo dos horrores de um século atrás, escondido na parte de trás de um dos ônibus, dava ordens a todos, as pessoas só viam a sua guimba de cigarro através da escuridão do seu esconderijo, ele tinha muitas coisas para esconder. Um dia o circo terminou, o gerente simplesmente sumiu na calada da noite, seus mistérios foram preservados, levando a sua lenda adiante por gerações.

O quarto na parte de trás do apartamento, dava para as outras três janelas dos quartos de trás dos outros apartamentos. Eram 4 apartamentos por andar, a reunião do condomínio parecia ocorrer ali. Um desses vizinhos deixava o gato solto que volta e meia entrava pela minha janela pedindo comida, ele andava pelo parapeito estreito, se caísse talvez não fosse um tombo enorme, era no segundo andar.

O outro apartamento eram de duas senhoras solteiras ou viúvas, nunca tive curiosidade de perguntar e a quarta pertencia a uma pessoa super misteriosa que eu nunca vi o seu rosto. não sabia como se alimentava pois nunca topei com ela no prédio e a sua janela vivia fechada, para completar o vidro era revestido com papel alumínio, como que escondendo qualquer coisa importante ou macabra que essa pessoa guardasse ali.

Eu acordava cedo, em um dia qualquer, escutei o gato chorando, abri a janela e ele entrou, reparei sem querer, que tinha uma frestinha aberta da janela da pessoa misteriosa, dei de ombros. ofereci um pouco de leite e o gato ficou feliz da vida. quando ele saiu novamente para explorar fiquei imaginando o que tinha na casa daquela pessoa.

Imaginei sangue espalhado por todas as paredes, ossos fazendo adornos e pendurados pela casa, um pentagrama desenhado no chão, velas coloridas acesas dando um ar de sobrenatural. A partir daquele dia a pessoa misteriosa começou a fazer parte do meu imaginário. Me atacando com feitiços perigosos quando eu caía no mundo dos sonhos, o gato sendo o seu fiel escudeiro, encarregado de trazer mais almas para o seu mundo.

Desde aquele dia da fresta na janela, nunca mais fechou, esses dias estava saindo dali uma fumaça com cheiro de incenso, parecia ser de canela, mas um indício que a pessoa naquela casa estava dando sinal de vida. O gato saiu da sua casa agora, parecia atraído pelo cheiro, ele vinha com o seu bigode balançando, captando odores. Parou na frente da janela, tentou abrir com o focinho e não conseguiu, desanimado seguiu o seu caminho.

No dia seguinte, estava tomando o meu café e fui até a janela dar uma olhada, uma das velhas estava olhando pela janela, querendo chamar o gato que estava li no cantinho, ainda curioso e pensando em uma maneira de entrar naquela casa da pessoa misteriosa, foi quando aconteceu, a pequena fresta se abriu um pouco mais. Até hoje eu fico pensando sem fora algo proposital ou não, um vento forte que abriu, sei lá. Só sei que o gato pulou. em pouco tempo ele saiu correndo de lá com uma pequena caixa retangular na boca, parecida envolvida em um veludo azul, não consegui ver direito, ele pulou na janela das duas senhoras.

Estava de dia, manhã cedo ainda, mas a atmosfera começou a ficar densa, parece que a noite tinha chegado, o ar ficou mais frio e um grito nervoso, não humano, arrepiante saiu do lado da janela, tranquei rapidamente a minha janela e fechei a cortina, mantendo apenas uma pequena fresta para continuar vendo o que quer que tivesse para ser visto. Da janela do apartamento misterioso, um mão cadavérica azulada com dedos ossudos e unhas enormes, assustadora saiu por ali, junto com ela uma fumaça escura e densa, logo a mão se recolheu e bateu a janela.

Durante o dia inteiro não ousei abrir a janela, acompanha pela fresta da cortina se tinha algo mais acontecendo. Acabei tendo que sair para resolver um problema, quando voltei, já estava começando a escurecer e era noite de lua cheia, ela estava linda e brilhante.

A curiosidade começou a apertar o meu peito: “o que havia dentro da caixa?”, “o que era aquela mão, uma fantasia ?” meus pensamentos foram interrompidos por uivos vinda da casa das velhas, o gato correu para a minha janela, estava assustada, o deixei entrar e fechei a janela. ouvi um estrondo de vidro quebrando, gritos, uivos e um baque surdo no chão. Algo tinha pulado a janela, e os uivos se tornaram distantes.

Tentei perguntar ao gato o que tinha na caixa, ele não respondeu, bicho pilantra.

As manchetes do dia seguinte davam conta de dois lobisomens que atacaram a cidade, deixando um rastro de sangue e mortes pela cidade. uma caçada tinha começado na floresta que rodeava a cidade, sem sucesso até então. As autoridades colocaram cartazes pedindo quem tivesse mais informações ligar em tal número. Não ousei ligar, vai que o mão estranha está esperando um deslize meu para me pegar.

Mais tarde o gato saiu da minha casa e entrou em sua casa, deveria estar aproveitando a sua fama temporária. Da janela misteriosa uma fresta se abriu e eu pude notar uma guimba de cigarro acesa, só a pontinha e depois a fumaça tomando conta de tudo. Se a lenda da gerência é real, ele pode estar aqui ao meu lado.

Então, leitores. ao longo dos dias, o rastro de sangue continuou, até o dia em que não foi mais lua cheia e acharam as velhas caídas e mortas em cima de uma pedra no riacho. Pensaram que elas tinha sido atacada pelas criaturas, mas eu sabia que elas eram as criaturas. O conteúdo da caixa de veludo, eu nunca descobri. O gato? ele continuou de vez em quando entrando na casa misteriosa sorrateiramente e roubando coisas esquisitas como um isqueiro, uma caneta e um broche de prata.

Um verdadeiro gato ladrão!!

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Obrigado e bons sonhos!!