13 CONTOS DE HORROR - ESPECIAL SEXTA-FEIRA 13 - CONTO 6 "A redoma"
Nos mudamos para a cidade perfeita de Nova Esperança há cerca de um ano. Helena e eu vivíamos o sonho que sempre desejamos. Casas alinhadas em ruas limpas, vizinhos simpáticos que sorriam a todo momento, segurança, e uma sensação de paz que parecia abraçar a todos nós. Eu trabalhava em uma pequena agência de publicidade local, enquanto Helena havia encontrado um emprego como professora no colégio da cidade. Tudo parecia um conto de fadas moderno.
Mas então, em uma manhã, o pesadelo começou.
Acordei cedo, como de costume, esperando encontrar Helena ao meu lado. Mas sua metade da cama estava fria e vazia. Estranhei, mas imaginei que talvez ela tivesse saído para dar uma caminhada matinal. Levantei, fui à cozinha e fiz um café. O relógio marcava sete da manhã, e a cidade parecia estar em um estranho silêncio. Normalmente, a essa hora, era possível ouvir os sons das crianças indo para a escola, os carros passando, as pessoas se cumprimentando. Mas naquela manhã, tudo estava quieto. Assustadoramente quieto.
Saí para a rua, e a cena me atingiu como um soco no estômago. Todos os homens estavam fora de suas casas, com olhares de confusão e pânico. Não havia uma única mulher à vista. Elas simplesmente haviam desaparecido. Liguei para o celular de Helena, mas foi em vão. O número não estava disponível.
– O que está acontecendo? – perguntou Ricardo, meu vizinho, com os olhos arregalados.
– Não sei. – respondi, sentindo um frio na espinha.
O medo se transformou em um murmúrio coletivo de desespero. Alguém sugeriu que fôssemos até a delegacia da cidade. Um grupo de nós correu para lá, mas encontramos os policiais tão perdidos quanto nós. Eles não tinham recebido nenhum relato de algo estranho acontecendo. Foi como se todas as mulheres da cidade tivessem evaporado do dia para a noite, sem deixar rastros.
Dias se passaram, e os homens da cidade se organizaram para procurar por elas. Patrulhas foram formadas, drones foram lançados para cobrir uma área maior. Nenhuma pista. As notícias sobre nosso "desaparecimento em massa" logo se espalharam para além dos limites da cidade, mas mesmo as autoridades estaduais e federais estavam perplexas.
Então, um dia, recebemos um estranho sinal de rádio. Ele não vinha de nenhum lugar que conhecíamos. Parecia ser uma transmissão amadora, mas havia algo na voz que soava... incomum.
– Se querem vê-las de novo – a voz reverberava na estática – venham para o deserto. Elas estão seguras... por enquanto.
Ninguém sabia ao certo de que deserto ele falava, mas eu sabia. Havia um deserto a cerca de duzentos quilômetros da cidade, uma vastidão arenosa que ninguém visitava. Não era um local turístico, nem um ponto de interesse. Apenas um lugar vazio, onde a natureza se espalhava sem ser incomodada.
Organizamos um grupo para ir até lá. Ricardo e eu lideramos a expedição. Foram horas de viagem até que finalmente avistamos algo no horizonte. Uma estrutura imensa, brilhante, que parecia flutuar no meio do deserto. Uma redoma de vidro ou algum material semelhante, cintilando sob o sol.
Ao nos aproximarmos, vi que dentro da redoma estavam todas as mulheres da cidade. Elas pareciam estar dormindo ou em algum tipo de transe, deitadas no chão, como bonecas jogadas em uma caixa de vidro gigante. Meu coração parou ao ver Helena entre elas.
O homem estava lá. Um sujeito alto, de cabelos prateados e olhos profundos, que parecia assistir tudo com um sorriso divertido no rosto. Ele se aproximou da redoma e falou com a mesma voz que ouvimos no rádio.
– Vocês finalmente chegaram. – disse ele, sem qualquer emoção aparente. – Imagino que estejam curiosos para saber por quê.
– Quem é você? – gritei, o medo misturando-se à raiva. – O que você fez com elas?
O homem olhou para mim, como se eu fosse uma criança fazendo uma pergunta ingênua.
– Eu sou apenas um observador. Elas estavam presas em suas rotinas, em seus papéis... então, decidi libertá-las.
– Libertá-las? – Ricardo bufou. – Isso aqui parece mais uma prisão!
O homem sorriu.
– Uma prisão é relativa. Aqui, elas estão livres das expectativas, das limitações da sociedade. Podem existir em sua forma mais pura.
Olhei para Helena, meu coração se apertando. Ela parecia tão... calma, mas não era ela. Era apenas um corpo, uma concha vazia.
– E agora? – perguntei, tentando manter a voz firme. – Como as tiramos daí?
– Vocês não as tiram. – respondeu ele. – Elas sairão quando estiverem prontas. Quando a essência delas se libertar completamente da forma física que as prende.
Uma sensação de impotência tomou conta de mim. O que ele estava dizendo? Que elas deixariam de ser quem eram? Que se tornariam... o quê? O que aconteceria quando saíssem?
– E se... se elas saírem – comecei, lutando para encontrar as palavras – o que vão se tornar?
– Algo mais. – ele disse, simplesmente. – Algo além do que são agora. Ou do que eram. Vocês queriam respostas, mas algumas perguntas não têm respostas que vocês possam compreender.
O homem começou a se afastar, caminhando pelo deserto, sumindo na areia.
– Espere! – gritei, mas ele não olhou para trás. – Como sabemos quando elas estarão prontas?
Ele parou por um momento, ainda de costas para nós.
– Quando vocês estiverem.
E então, ele desapareceu, deixando-nos ali, encarando a redoma e as mulheres que amávamos, presas em um sono estranho. Ficamos lá, esperando algum sinal, algo que nos desse esperança de que poderíamos trazê-las de volta.
Os dias passaram. Depois semanas. Alguns homens voltaram para a cidade, incapazes de encarar a verdade do que viam. Outros, como eu, permanecemos ali, sentados na areia, observando e esperando.
Foi em uma madrugada, quando a lua cheia estava no céu, que tudo mudou. A redoma começou a brilhar com uma luz intensa. Os corpos das mulheres se ergueram levemente do chão. Sentimos um arrepio percorrer nossas espinhas, e em um piscar de olhos, a redoma explodiu em um clarão de luz branca, cegando-nos por um instante.
Quando a visão voltou, elas estavam de pé, nos encarando. Mas eram diferentes. Seus rostos eram os mesmos, mas seus olhos... os olhos tinham um brilho estranho, uma luz interna que não estava lá antes. Elas caminhavam em nossa direção, uma expressão serena nos rostos.
– Helena... – sussurrei, mas ela apenas me olhou, sem reconhecimento.
Elas passaram por nós, como se não estivéssemos ali, e começaram a caminhar pelo deserto, em direção à cidade. Ficamos ali, sem saber o que fazer, sem saber o que aquilo significava.
O que quer que tenha acontecido naquela redoma, as transformou. Elas eram... algo além. Algo que nós, homens, ainda não estávamos prontos para entender.