O Vestido de Noiva

Em uma pequena cidade, onde o tempo parecia ter parado, havia uma casa de antiguidades que intrigava os moradores locais. A loja, situada à beira de uma estrada sombria, era conhecida pelos seus objetos raros e histórias ainda mais estranhas. A fachada, coberta de musgos e sombras, era frequentemente ignorada, exceto por alguns curiosos que se atreviam a entrar em seus aposentos empoeirados.

Era uma tarde chuvosa quando Lilian, uma jovem apaixonada por antiguidades, decidiu explorar a loja. Ao entrar, o cheiro da madeira antiga e mofo a envolver, e a luz fraca das lâmpadas inspiradas proporcionou um ambiente quase mágico. Ao caminhar pelas prateleiras abarrotadas, seus olhos foram atraídos por um objeto específico: um vestido de noiva branco, elegantemente exposto em um manequim.

O vestido era deslumbrante. Feito de seda fina, com rendas delicadas que parecia terem sido tecidas por mãos de anjos, emanava uma beleza que transcendeu o tempo. No entanto, havia algo inquietante na peça. Lilian sentiu um arrepio percorreu sua espinha, mas sua curiosidade era mais forte do que seu medo. Ela se aproximou para examinar melhor o vestido.

Ao tocar a superfície fria do tecido, uma sensação estranha a permeou. Era como se o vestido estivesse cheio de uma energia invisível. Clara ouviu uma conversa, quase inaudível, que a chamava pelo nome. Assustada, retrocedeu e olhou ao redor, mas a loja estava vazia, exceto por ela e pelo vestido.

No dia seguinte, Clara não conseguiu tirar o vestido da cabeça. Apesar do medo, uma atração irresistível a levou de volta à loja. Quando chegou, a proprietária, uma mulher idosa com olhos que compreendem através da alma, com um sorriso enigmático.

“Você voltou”, disse a mulher. “O vestido que você escolheu, não foi?”

Lilian, intrigada, perguntou sobre a história do vestido. A mulher solta ou uma risada baixa, que ecoou em meio às prateleiras. “Ah, este vestido pertenceu a uma noiva de um casamento trágico. Dizem que, na noite de seu casamento, ela desapareceu sem deixar vestígios, e que sua alma ainda vaga em busca de redenção.”

A cada palavra, Clara sentiu um chamado mais forte. Determinada a saber mais, decidiu que o usaria em uma festa à fantasia que ocorreria em breve. Assim, comprou o vestido e levou-o para casa. Mal sabia que havia despertado algo que levaria consigo.

Na noite da festa, Lilian vestiu o vestido com expectativa. Ao olhar para o espelho, sentiu-se como uma verdadeira noiva, mas algo mudou em seu reflexo. Ela não estava sozinha. Atrás dela, uma silhueta pálida e difusa a observar com olhos tristes. Clara virou-se rapidamente, mas não havia ninguém ali.

O pânico tomou conta dela, mas a euforia da festa logo a distraiu. No entanto, conforme a noite avançava, Clara começou a notar que as luzes piscavam, sinais de algo errado. A música soava como um lamento, e sugestões ecoavam em sua mente. Ela se sentia cada vez mais desorientada, pressionada por uma força invisível.

Quando a meia-noite soou, a festa atingiu seu clímax. Nesse momento, Clara viu que todos os convidados encaravam com expressões de horror. A jovem sentiu seu coração disparar. Ao seguir seus olhares, viu o que os apavorava: uma figura espectral, envolta em um manto de sombras, que pairava atrás dela. O vestido parecia brilhar com uma luz sobrenatural, e Clara sentia cada costura pressionada contra sua pele, como se estivesse sendo puxada para um mundo além do entendimento.

Com um grito abafado, ela tentou se desvencilhar, mas o vestido a mantinha presa. Os sussurros se tornaram gritos agonizantes, e a figura espectral estendeu a mão em sua direção. No momento em que a mão fantasmal tocou seu ombro, Clara sentiu seu corpo esmorecer. Tudo ao seu redor se desfez em uma espiral de luz e sombras.

Na manhã seguinte, a casa de antiguidades estava novamente em silêncio. O vestido de noiva continuava suspenso, reluzente sob a luz fraca. Mas desta vez, havia algo novo em sua aparência: um brilho triste nos seus rendados, como se eternamente guardasse a memória de uma jovem que havia se tornado parte de uma lenda. E, sempre que alguém entrasse na loja, o vestido de noiva chamava a atenção, sussurrando promessas de amor e tragédia, esperando que uma nova alma ousasse vestir o horror que havia sido esquecido.

Stoff Vieira
Enviado por Stoff Vieira em 11/09/2024
Código do texto: T8148810
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