NÃO BATA NAQUELA CASA!

Era o dia mais esperado pelas crianças. Dia de tirar as fantasias da gaveta e fazer a imaginação fluir, da criatividade, tentar surpreender o amigo com a fantasia mais assustadora possível. Dia da famosa frase: “doces ou travessuras”. Voltar de noite para casa com a bolsa cheia de bombons e balas, como é bom ser criança.

As casas do bairro já estavam decoradas com abóboras, esqueletos, monstros e tudo o mais para assustar. as pessoas montaram mesas e cadeiras na rua, uma confraternização nesse revigorante feriado. As crianças reunidas e preparando as suas travessuras para o caso de não ganharem doces.

Rebeca era uma menina tímida, sempre ficava atrás do irmão Plínio, que era um ano mais velho, ele era o líder dos amigos da rua, já tinha mentalmente traçado uma rota dos pedidos de doces. Ele apontou o caminho e as crianças o seguiram, rebeca segurando o Tutu”, um pequeno tubarão de pelúcia que ela sempre carregava para todos os cantos.

As ruas estavam enfeitadas e iluminadas, era difícil enxergar muito além, algumas crianças corriam das travessuras que tinham aplicado, papel higiênico lotava as copas das árvores, um clima muito gostoso de união.

Plínio tocou a primeira campainha, de cara já deram sorte, as crianças receberam um monte de balas de caramelo. plínio dizia que era fácil saber:

- Muitas crianças já passaram por essa casa, estão vendo? não tem nenhum papel higiênico, nenhuma bombinha do mau cheiro, esses donos deram doces.

E as crianças foram seguindo pedindo os doces. Rebeca percebeu que eles pularam uma casa, que era bastante velha e estava caindo aos pedaços, estava todo escura e os vidros das janelas estavam em sua maioria quebrados. Era uma casa rústica de três andares, nos bons tempos deveria ter sido muito linda. A menina se aproximou do irmão e perguntou porque eles tinham pulado ela?

O menino respondeu que era ordem dos pais, o número 8 da rua das margaridas deveria ser evitada, todos os anos aquela casa era evitada pelas crianças, nem para pedirem doces, nem para fazerem travessuras, era um terreno proibido, os pais não contavam os detalhes para não assustar as crianças, mas até aquele dia, nenhuma tinha ousado bater na porta daquela casa, o ar de mansão assombrada assustava até mesmo as crianças mais corajosas.

Rebeca, que além de quieta, era uma criança curiosa, assim que os irmão se afastou com as outras crianças, ela foi andando devagar até a casa e percebeu que tinha alguém na janela do segundo andar a olhando, se fosse outra criança no lugar dela, já tinha saído correndo de medo, mas ela não, qual o mistério teria escondido teria aquela casa, quem era aquela pessoa que estava olhando pela janela? muitas perguntas e ela precisava da resposta.

Ela chegou de mansinho, antes de bater na porta, se abaixou e pegou uma pedra pontuda no chão, não teria forças para fazer nada contra um adulto, mas para ela esse gesto trazia segurança. Bateu na porta duas vezes e esperou que alguém viesse atender. Demorou demais, quando ela estava prestes a ir embora, a porta se abriu e uma mão sombria, muita branca e gelada a puxou para dentro, a menina não conseguiu gritar, fora pega de surpresa.

Muitas décadas atrás, naquela mesma casa, cresceu uma criança reclusa, seus pais eram muito rígidos, alinhados com a crença que o mundo lá fora era terrível e eles prendiam a criança justamente para ensinar valores que eles consideravam puros e que ela não venha a se corromper. O menino recluso aprendeu com os pais tudo sobre português, matemática entre outros assuntos pertinentes.

Toda época festiva era um desespero para o menino. Ele olhava pela janela da casa as crianças correndo, brincando, ainda mais quando era época do dia das bruxas, as crianças vinham pedir doces e seus pais a enxotavam de lá, nunca deixaram seu filho brincar com eles. Ele com um aperto no coração, via de longe as crianças se afastarem brincando, jogando papel higiênico no seu telhado. Sonhava com o dia em que ele poderia estar ali correndo com elas. A primeira vez que contou esse desejo para os pais, acabou ficando no quarto de castigo, mas ele não ligava muito, a vida que levava acabava sendo um castigo.

Mesmo com os anos passando e ele deixando de ser uma criança e se tornando um adulto, ainda mantinha a chama acesa de poder brincar com as crianças do bairro. Em uma noite chuvosa, seu pai acabou morrendo. Ele se viu sozinho pela primeira vez na casa, sua mãe tinha ido resolver os problemas para o enterro, ele não pôde ir, era uma chance de sair de casa.

Alguns anos mais tarde, em uma tarde chuvosa, sua mãe acabou morrendo, sem saber o que fazer, ele enterrou sua mãe no jardim e ficou na dúvida se fugia para o mundo real, mas a sua vida inteira tinha sido recluso, estava com muito medo de sair, não sabia o que o mundo guardava para ele.

Quando o dia das bruxas daquele ano chegou, ele lendo as receitas da mãe, criou uma porção de doces deliciosos: asas de morcego, cascas de barata, olhos de lagartixa, um líquido viscoso doce que encontrou no porão, nham nham nham, a receita dos deliciosos doces estava pronta. Quando as crianças fossem vir bater na sua porta, ele poderia entregar todas as guloseimas que havia preparado. Quando a noite chegou, ansioso, ele esperou as crianças virem pedir os doces, mas pela janela, com desespero, ele viu que toda a criança que se aproximava da casa, ia embora sem tocar a campainha.

Em um ato alucinado, ele abriu a porta para entregar os doces para as crianças, assustadas elas saíram correndo, ele correu atrás delas. Quando estava alcançando uma dessas crianças, acabou tropeçando e caindo em cima dela. O pobre menino acabou batendo a cabeça e vindo a óbito. Um escândalo para a cidade. Depois desse fatídico episódio, nunca mais ouviram falar do antes menino, agora adulto recluso da casa.

Doces ou travessuras, as crianças seguiam batendo a porta de casa em casa, em quase todas recebiam doces, em algumas tinha que apelar para as travessuras. em um determinado momento, um dos garotos virou para o Plínio e perguntou:

- Aonde está a sua irmã?

O garoto olhou assustado para trás, para os lados e nada de avistar a irmã, logo pensou: “meus pais vão me matar” e ordenou que voltassem pelo mesmo caminho que eles tinham vindo. Eles olhavam atentamente para ver se encontravam Rebeca, Plínio gritava a pleno pulmões o nome da irmã, perguntava a qualquer criança que visse na rua se viram uma menina com um tubarão na mão, sem resposta.

Quando a esperança já estava virando a esquina para se esconder atrás da montanha, um dos garotos virou o “Tutu” da menina caído na entrada da casa proibida, os meninos levaram a mão na testa: não é possível. Plínio pediu que corressem nas meses dos adultos e contasse o problema. Na sua mente primeiro pensava na segurança da irmã, em segundo no castigo colossal que ele teria que enfrentar depois.

Os pais teria que entender, as crianças são curiosas, ela quis dar uma olhada na casa justamente por terem falado que era algo proibido, as crianças adoram ultrapassar os limites do permitido, parece que está no seu dna. Soprava um vento gelado e Plínio tinha certeza que estava saindo daquela casa maldita, ela havia engolido a sua irmã.

Quando seus pais junto com outros adultos chegaram na frente da casa, o semblante era de preocupação e ódio, iam arrebentar a porta da casa, um dos adultos sabe lá por qual motivo tinha um machado nas mãos. Ele gritou para qualquer um quisesse ouvir:

- Maldito, devolva a minha filha agora, ou eu vou arrebentar a porta.

E começou uma contagem regressiva, não foi necessário chegar até o final, a porta se abriu, todos ali presentes estavam tensos, com medo do que sairia dela, os adultos em posição de combate, as crianças com medo e curiosas.

Um passo… o ranger da porta… alívio geral…

Rebeca saía da casa carregando uma sacola de doces nas mãos, alegre, comendo um bombom que a primeira vista parecia muito gostoso.

Olhou curiosa para todos e falou:

- Doces ou travessuras!

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