A Presença do Andar de Cima
Parte I
Pedro era um jovem solitário que vivia em um antigo prédio de apartamentos, no centro de uma cidade grande. O edifício, com sua arquitetura desgastada e corredores sombrios, era conhecido por suas histórias sinistras. Muitos diziam que o andar de cima, onde Pedro morava, era o local mais assombrado do prédio. Os moradores antigos sussurravam sobre eventos inexplicáveis e sensações perturbadoras que ocorreram ali. Pedro, porém, era cético e achava que tais histórias eram apenas mitos urbanos.
O apartamento de Pedro era pequeno e modesto, mas ele o mantinha limpo e organizado. A rotina de sua vida solitária seguia um padrão rígido: trabalho durante o dia, jantares rápidos e, na maioria das noites, longas horas de estudo ou leitura. Era um rapaz reservado e pouco se relacionava com os vizinhos, preferindo seu isolamento. Mas algo estava prestes a mudar.
Numa noite particularmente chuvosa, Pedro estava em casa, lendo um livro. O vento uivava e a chuva tamborilava contra as janelas, criando uma atmosfera opressiva. Foi quando ele ouviu um som estranho vindo do apartamento acima do seu. Parecia um arranhar lento e contínuo, como se algo estivesse sendo arrastado pelo chão. Pedro tentou ignorar, convencendo-se de que era apenas o barulho da tempestade, mas a sensação de inquietação não desaparecia.
Página II
Os sons persistiram durante a noite, e Pedro foi incapaz de dormir. A cada hora que passava, o arranhar se tornava mais intenso e perturbador. Ele tentou investigar, mas ao subir as escadas e bater na porta do apartamento do andar de cima, não obteve resposta. O silêncio do outro lado da porta foi ainda mais inquietante.
Na manhã seguinte, Pedro perguntou ao zelador do prédio sobre o apartamento acima. O zelador, um homem de aparência cansada e de fala baixa, respondeu com um olhar furtivo. “Ninguém mora lá há anos,” disse ele. “Os inquilinos anteriores saíram em circunstâncias... estranhas. Nunca conseguiram explicar os barulhos que vinham de lá.”
Pedro sentiu um calafrio. A ideia de que o apartamento estava vazio, mas ainda assim emitia os sons perturbadores, era desconcertante. Ele decidiu que precisava encontrar uma explicação lógica para o fenômeno e ignorou o medo crescente.
Naquela noite, enquanto tentava se distrair com um filme, os barulhos começaram novamente. O som de arranhar era mais forte, e agora havia também um sussurro fraco que parecia chamar seu nome. Pedro estava com a mente bagunçada, tentando encontrar uma explicação racional, mas a crescente sensação de que estava sendo observado não o deixava em paz.
Parte III
No dia seguinte, Pedro decidiu explorar o apartamento do andar de cima. Armado com uma lanterna e um pouco de coragem, ele forçou a porta, que cedeu com um rangido. O apartamento estava em completo estado de abandono. Poeira cobria os móveis antigos, e o cheiro de umidade e decomposição era quase insuportável.
O que mais chamou a atenção de Pedro foi um quadro antigo na parede, coberto por um pano rasgado. Quando ele retirou o pano, revelou uma pintura de uma figura indistinta, com olhos grandes e reluzentes de cor vermelha que pareciam seguir Pedro por toda a sala. Ele não conseguia identificar se era uma pintura ou uma fotografia, mas havia algo perturbador na imagem que o fazia sentir um desconforto crescente.
Enquanto explorava mais a fundo, Pedro encontrou uma caixa trancada em um armário no canto da sala. A caixa estava coberta de símbolos estranhos e, apesar de não ter a chave, Pedro conseguiu abri-la com uma força desesperada. Dentro da caixa havia uma coleção de objetos bizarros: frascos com substâncias misteriosas, velas negras e livros de ocultismo. Havia também uma série de diários antigos, cujas páginas estavam preenchidas com descrições bizarras de rituais e eventos sobrenaturais.
Página IV
Pedro começou a ler os diários e descobriu que o antigo inquilino do apartamento tinha uma obsessão por práticas ocultas. Os registros detalhavam tentativas de invocar espíritos e obter poderes sobrenaturais. A última entrada falava de um ritual que falhou terrivelmente, resultando em uma presença maléfica que nunca deveria ter sido liberada.
À medida que Pedro lia, o ambiente ao seu redor começou a mudar. A temperatura no apartamento caiu abruptamente, e ele sentiu uma presença invisível se aproximando. Os sons de arranhar e sussurros aumentaram, e a sensação de uma força opressiva tornou-se quase insuportável. Pedro tentou sair do apartamento, mas a porta estava agora inexplicavelmente trancada.
No escuro, Pedro sentiu uma mão fria tocar seu ombro. Ele se virou e viu a figura, uma sombra negra de olhos vermelhos, com formato humanoide que parecia estar absorvendo toda a luz ao redor. O medo tomou conta dele, e ele tentou correr, mas a sombra o seguia, seus sussurros distorcidos se transformando em gritos de desespero.
Página V
Pedro conseguiu em fim abrir a porta para saída, ofegante e aterrorizado. Ele correu para seu próprio apartamento, trancou a porta e se encolheu no canto da sala. O arranhar e os sussurros continuaram, mas agora pareciam vir de dentro do próprio apartamento, como se algo tivesse seguido Pedro de volta.
Ele tentou ligar para o zelador, mas a linha estava cortada. A sensação de estar cercado pela presença maligna era infernal, e Pedro não conseguia entender como poderia escapar. A cada minuto, o barulho ficava mais próximo e mais intenso, como se a entidade estivesse se preparando para romper qualquer barreira que Pedro pudesse impor.
Desesperado, Pedro decidiu tentar um ritual de proteção que encontrou nos diários. Ele fez um círculo com sal ao redor de si mesmo e começou a recitar palavras em uma língua antiga, esperando que pudesse repelir a presença. A escuridão parecia se agitar ao seu redor, e a temperatura na sala caiu ainda mais.
Página VI
À medida que Pedro recitava as palavras, a presença começou a se manifestar de forma mais clara. Ele viu figuras fantasmagóricas se materializando na escuridão, e os gritos de desespero eram quase ensurdecedores. A entidade parecia estar se enfurecendo, e o arranhar se transformou em um rugido feroz.
A figura das sombras se aproximou de Pedro, suas formas distorcidas e grotescas. Ele podia sentir a energia negativa e a dor emanando daquela entidade, como se estivesse absorvendo sua própria vitalidade. Pedro lutava para manter o círculo de proteção e continuar com o ritual, mas estava perdendo as forças.
Em um último esforço de esperança, Pedro gritou o feitiço final, e a entidade pareceu recuar por um momento. Mas, ao olhar ao redor, ele viu que o círculo de sal havia se dissipado, e a presença estava novamente se aproximando. Ele caiu de joelhos, exausto e em pânico, com a sensação de que sua vida estava prestes a ser tomada.
Página VII
Quando Pedro acordou, estava no hospital. A última coisa que lembrava era o desespero e a escuridão se aproximando. Os médicos disseram que ele havia sido encontrado desmaiado em seu apartamento, e parecia estar em estado de choque. Não havia sinais claros de ferimentos físicos, mas Pedro estava mentalmente abalado.
O apartamento foi evacuado e lacrado para investigação, e a lenda das entidades malignas se tornou ainda mais conhecida na cidade. Os moradores e o zelador não tinham explicações claras para os eventos, mas muitos acreditavam que Pedro havia liberado algo que deveria permanecer selado. O andar de cima foi fechado permanentemente, e o prédio continuou a ser evitado por aqueles que ouviam as histórias.
Pedro nunca se recuperou completamente do que vivenciou. Os eventos daquela noite permaneceram como um pesadelo constante em sua mente, e ele nunca mais voltou a viver sozinho. O medo e o terror que experimentou se tornaram uma parte permanente de sua existência, e ele passou o resto de seus dias tentando encontrar uma explicação para o que havia acontecido, sempre ciente de que algumas forças ficam melhores deixadas adormecidas e desconhecidas.
P.H.Petters