A Viúva do Diabo

Numa pequena aldeia esquecida pelo tempo, cercada por florestas densas e nebulosas, havia uma construção antiga conhecida como a Casa das Sombras. Os moradores temiam aquele lugar, pois diziam que ele abrigava a viúva de um homem cujo nome era sussurrado com temor: o Diabo. A lenda contava que ele havia sido um mestre das artes sombrias, um homem que vendeu sua alma em troca de poder e riqueza. Sua morte, segundo os rumores, não quis o fim do seu domínio. Ao invés disso, ele deixou para trás uma herança ainda mais terrível: sua viúva.

Maria, uma jovem animada e curiosa, sempre ouviu as histórias sobre a viúva do Diabo, mas nunca acreditou nelas. Ela costumava brincar de desafiar as vozes que ecoavam pela aldeia, desprezando os avisos dos mais velhos. Um certo dia, determinado a desvendar o mistério que envolvia a casa amaldiçoada, decidiu entrar na Casa das Sombras.

A atmosfera dentro da casa era pesada e sufocante, como se o ar estivesse impregnado de dor e tristeza. Maria caminhou pelos corredores empoeirados, cada passo ecoando como um lamento. As paredes pareciam sussurrar segredos e lamentos, e uma sensação gelada começou a envolver seu corpo. O sol começava a se pôr, mergulhando a casa em trevas, mas Maria avançou em frente, iluminando o caminho com sua lanterna.

Foi então que ela ouviu um som vindo de baixo, como uma sussurrada melodiosa e assustadora. Ao se aproximar da escada que levava ao porão, Maria hesitou por um instante. A curiosidade venceu o medo, e, com passos hesitantes, desceu os degraus rangentes. O ar frio e úmido envolve-a, e o sussurro se transforma em uma canção triste, cheia de desespero.

No centro do porão, uma figura esquelética, envolta em um vestido negro e rasgado, estava de pé. Seu rosto, pálido como a lua, ostenta um sorriso triste. Maria sabia que era viúva do Diabo. Os olhos dela, fundos como poços, fixaram-se na jovem com uma intensidade perturbadora.

"Por que viestes, filha do sol?" a viúva disse, sua voz ecoando como um lamento premonitório. "Sabe que aqui, os segredos enterrados são mais profundos do que as almas perdidas?"

Maria, paralisada pelo medo, tentou recuperar, mas a figura se mudou, sua presença emanando um frio que penetrava até os ossos. "Ele me deixou suas correntes, e eu sou a guardiã dos pecados que carrego. Deseja saber o preço que ele pagou por seu poder?"

A jovem, tomada pela curiosidade, calculou que poderia saber mais, mesmo ciente do perigo. Mas o que Maria não sabia era que a viúva não oferecia apenas revelações, mas também uma escolha aterradora. "Para cada segredo revelado, você deve deixar uma parte de sua própria alma. Que tal?"

A visão de rostos contorcidos e gritos ensurdecedores inundaram a mente de Maria. A casa, em sua escuridão profunda, começou a girar e a se contorcer como se estivesse viva, faminta por almas. O cérebro dela forçou-a a correr, mas as paredes claras se fecharam, e no sussurro daquela melodia triste, Maria viu que havia entrado em um jogo mortal.

Com o coração disparado, ela finalmente conseguiu subir as escadas e, em um último esforço, arrombou a porta. Mas ao olhar para trás, a viúva do Diabo estava ali, na soleira, seu sorriso agora se transforma em uma expressão de raiva. "A alma de uma curiosa nunca escapa impune", disse ela, e Maria sentiu seu corpo ser puxado para trás, como se correntes invisíveis a mantivessem presa.

A aldeia nunca mais ouviu falar de Maria. Apenas os ecos de seu nome se uniram aos sussurros que habitavam a Casa das Sombras. E a viúva do Diabo seguiu sua existência, erguendo seu canto triste, aguardando a próxima alma ousada que cruzasse sua porta, aprisionando-a para sempre nas sombras eternas.

E assim, a lenda da viúva do Diabo cresceu, ecoando por gerações. Na aldeia, os ventos gelados sussurravam entre as árvores, e todos sabiam: uma curiosidade poderia custar a própria alma.

Stoff Vieira
Enviado por Stoff Vieira em 03/09/2024
Código do texto: T8143001
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