O SÓTÃO
Abriu a porta e deu uma olhada rápida, com medo de encontrar cobras ou aranhas. “Ué… aquela mulher só queria me assustar… Ou não queria que eu usasse esse cômodo… não tem nada aqui!!”. Era um quartinho, com chão de madeira antiga e nele tinha uma peça com alguns livros, uma máquina de escrever antiga. Alguns discos que com certeza César tomaria pra ele. E um baú.
– Será que tem alguma coisa aí…? – Abriu com cuidado. Morria de medo de aranhas. Usou a lanterna do celular. Dentro do baú havia apenas um livro. Parecia uma Bíblia, mas era um pouco maior e sua capa era vermelha com letras amarelas. “Bíblia esquisita…”.
César abriu o livro e as informações dentro dele, não entraram em sua cabeça, mente, espírito, inconsciente; como nos livros comuns. Uma luz vermelha brotou do livro. Ela era quentinha e César fechou os olhos sorrindo. Segundos depois ele abriu os olhos. Seus olhos estavam totalmente vermelhos da cor do livro. Ele balbuciava palavras numa língua jamais escutada por ninguém – ao menos nos últimos cem anos. Fechou com força e pegou o livro. Abraçou-o com força… abraçou-o com… Amor?
Parecendo hipnotizado ou êxtase, foi se conduzindo vagarosamente ao quarto. Abriu o livro mais uma vez e desta vez o mesmo não emitiu aquela luz vermelha e quente. Mas os olhos de César ficaram em pura brasa. Abriu o livro numa página qualquer no meio. Havia uma fotografia de uma mulher com cabeça e braços de serpente, fazendo sexo anal com um cavalo preto. No lugar do rosto do cavalo havia uma fotografia que parecia ter sido colada ali e que dificilmente sairia. Era um homem. Um homem branco de grandes bigodes. Porém, finos. Ele olhava diretamente para César… que involuntariamente estava se masturbando. Antes que pudesse acabar… A face do cavalo que estuprava a mulher híbrida de humana e cobra, tomou o rosto da velha senhora, dona da casa. César tirou rapidamente a mão da bermuda com um olhar de nojo. Fechou os olhos… Tentou se concentrar e voltar à si. “Meu Deus isso é só um livro… é um liro de artes… de muito mau gosto, diga-se de passagem!”. – Abriu novamente os olhos e estava em outra página. Havia uma mulher presa numa roda da fortuna, com uma maçã na boca. Era sua ex-mulher. César ficou perplexo encarando a pintura. Ela parecia se mover… Em poucos segundos a roda da fortuna estava girando e ele pôde assistir o terrível pânico no rosto dela… César não era um homem vingativo. Ela não queria assisti-la sofrer.
Ouviu uma voz que parecia vir de todos os cantos da casa. Parecia a voz de um robô de gravação de telefone quando você tenta, em vão, reclamar de algum serviço. Mas ao mesmo tempo, a voz parecia vir de dentro dele, e parecia ser a própria voz dele também. Era ensurdecedor…
– ATIRE!!!!! ATIRE NELA!!!!!! ELA TEM TRÊS CHANCES!!!! SEU PULHA! CORNO DO CARALHO!!! ATIRE NELA!!!!!
– César mais uma vez fechou o livro com força, balbuciando enquanto as lágrimas desciam: “Não! Não…! Não…!”. – Afinal conseguiu atira o livro para longe, batendo na parede e caindo como um tijolo perto da porta do quarto. César desmaiou.