Praça dos Mártires - Um conto vampiresco
Na manhã de um domingo, a tranquilidade no passeio público foi quebrada por um grito de horror. Sob a sombra de um antigo baobá, jazia um corpo pálido, sem uma gota de sangue. Dois furos no pescoço da vítima sugeriam um mistério sombrio, deixando os moradores de Fortaleza em um estado de choque e medo. O cadáver, um homem de meia-idade, de barba longa e cabelos grisalhos, vestindo um elegante terno preto, foi motivo de gritos e correria ao redor da praça. Logo, um guarda dispersou os curiosos que cobriam o corpo. ─ “Saiam, saiam, deem espaço, andem logo!” ─ Ao passar pelo tumulto, o guarda ficou petrificado por alguns segundos ao olhar para o cadáver contorcido, com os olhos arregalados, pupilas dilatadas e a boca aberta em um grito silencioso.
No dia seguinte, a população lia nos jornais a manchete: “O cadáver da Praça dos Mártires”. Enquanto as crianças corriam e brincavam, aproveitando o dia ensolarado, famílias conversavam e observavam seus filhos no passeio público. Os mais velhos liam o jornal e falavam sobre o homem de meia-idade encontrado em condições assustadoras. Alguns diziam conhecer a vítima. Segundo eles, era costume ver o homem caminhando pela praça todas as manhãs. Seu nome era José Crispim de Sousa, de 46 anos. Tinha uma vida tranquila e confortável que o dinheiro poderia proporcionar. Era reservado e não tinha herdeiros, como descrito na matéria. A polícia estava fazendo interrogatórios, mas ninguém viu nada e não havia pistas do assassino. Durante dias, esse foi o assunto na cidade.
“Extra!, extra!” ─ gritavam os vendedores de jornais ─ “Mais um cadáver na praça” ─ a população corria para comprar o jornal e ficava horrorizada com mais uma vítima. Dessa vez, uma jovem de 23 anos, nas mesmas condições do primeiro: “Dois furos no pescoço e corpo pálido, sem uma gota de sangue”, informava a matéria. A polícia reforçou as investigações e o inspetor-chefe, Sr. Almeida, ordenou toque de recolher às 19:00 horas. O velório da jovem aconteceu no cemitério São João Batista ao pôr do sol do dia seguinte. A população amedrontada deixou de frequentar o passeio público de Fortaleza. E nada da polícia pôr as mãos em suspeitos pelas mortes. O medo e a insegurança pairavam no ar, enquanto os dias se arrastavam sem respostas.
Na terra do sol, um navio atracou no porto da cidade logo de manhã cedo. Os fortalezenses, ansiosos e cheios de curiosidade, se reuniram para dar as boas-vindas aos marinheiros e turistas estrangeiros que desembarcavam. Entre a multidão, algumas crianças, tímidas e curiosas, se escondiam atrás das saias de suas mães, cobrindo a boca para esconder o riso ao ouvir os visitantes falarem em línguas desconhecidas. Para elas, era fascinante, mesmo com a presença habitual de estrangeiros na cidade. No final da tarde do mesmo dia, marinheiros e fortalezenses se reuniram para jogar futebol. O jogo foi acirrado e disputado com entusiasmo. No final da partida, quando a noite chegou, às 18:00 horas, todos voltaram para suas casas.
William, um marinheiro com rosto bronzeado do sol e de uniforme naval, caminhava sozinho à noite, quando passou pela Praça dos Mártires e resolveu atravessar a praça iluminada pela lua cheia. O vento balançava as folhas que dançavam no ar ao cair. William parou diante do baobá e admirou o seu tamanho e a tranquilidade que as ondas do mar não permitiam. Com um sobressalto, William arregalou os olhos ao ouvir um barulho e um murmúrio vindo do baobá, e um arrepio tomou conta do seu corpo, fazendo-o congelar por um segundo. Ao restabelecer-se, William caminhou para a saída da praça com passos ágeis. E mais uma vez escutou o murmúrio, agora atrás dele: ─ “Eu posso ouvir seu coração” ─ a voz sussurrou. Com tremor e horror, ele olhou para trás e viu os olhos escarlates do vampiro brilharem sob a luz da lua cheia, famintos por sangue. O marinheiro gritou de horror e gelou quando o vampiro, com agilidade sobrenatural, se lançou sobre a vítima. Com voracidade, a fera cravou seus dentes afiados no pescoço do jovem, que deu um grito de agonia que ecoou pela Praça dos Mártires. O sangue alimentava o vampiro, que sugava com voracidade crescente.
Ao amanhecer, um guarda que passava pela praça avistou o corpo do marinheiro, contorcido e com os olhos arregalados, pupilas dilatadas e a boca aberta em um grito silencioso. Mais um cadáver com dois furos no pescoço para a polícia investigar. E os jornais escreviam:
─ “Investigação em andamento: mortes deixam cidade em alerta!”