COM PAUS E PEDRAS
2033 - UCRÂNIA - 5:59 da manhã
A batalha já está prestes a começar, as feições daqueles à minha volta esbanjam medo e desespero, as batidas em meu peito explodem aceleradas. Ouço o som dos tiros cortando o ar, mais a frente, vejo o lampejo das explosões que agora fazem o solo estremecer. Corro em direção ao caos. Minha visão tomba lentamente até encontrar o chão. Não pode ser... não tão rápido... não, não, NÃAAOO!
Um líquido quente escorre da minha cabeça até meus olhos, minha visão é tomada pela cor rubra, o ritmo do meu coração outrora explodindo acelerado, agora breca como uma locomotiva estacionando, tudo escurece…
...
Acordo em uma planície desolada onde neva cinzas, meus olhos se ajustam à claridade me revelando um espaço que se estende sem fim. Me deparo com uma cena mais assombrosa que o próprio campo de batalha: milhões de pessoas caminhando alinhadas fitando o horizonte com uma tristeza profunda e indescritível em seus rostos. São claramente cadáveres errantes. Cambaleio entre as fileiras intermináveis, tentando compreender a magnitude do que via.
— Não se preocupe rapaz, pois nada restou…
Disse um homem com metade de seu crânio à mostra. Ao seu lado, alguns homens com membros faltando, entre eles, um homem esqueleto falando e gesticulando normalmente entre os demais. Eu os reconheço, eram os homens do meu esquadrão, aquele que se dirigiu a mim era o nosso comandante.
— Os relatos que chegam são assombrosos, novas vítimas não param de chegar aqui, os números já beiram os bilhões, a coisa está muito feia lá fora. Parece que a próxima guerra realmente será feita com paus e pedras, não é o que o velho Einstein dizia? Isso se sobrar alguém…
— Booom! — diz o homem esqueleto com uma voz emanando de sua carcaça em puro osso e fazendo um gesto de explosão com as mãos.
— Mas e a vida após a morte? Não deveria ser diferente?
— Esperávamos que sim… — disse o comandante com uma tristeza profunda em seu olho que ainda restava. Olho em volta absorvendo suas palavras. A vida após a morte se revelou ser um espelho implacável das ações humanas e não uma recompensa como idealizamos. Ali, naquele limbo interminável, éramos apenas testemunhas do fracasso da humanidade.
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