ECOS DA UMBANDA - fim
Arlen olhava pela janela do carrohome o vilarejo já adormecido. Lá fora caminhavam alguns texugos, revoava a suidara. No galho duma árvore cantou um acauâ, ave de mau agouro. Aquele som sinistro bastou para reviver dentro dele sua fobia adormecida.
Como alucinado, procurou na caixa de ferramentas no porta-malas uma grande chave de rodas, e foi caminhando até o centro de umbanda. Arrombou a porta, entrou e ficou olhando o altar cheio de estatuetas de orixás. Ele sofria de Eclesiofobia e de Iconofobia, tinha pavor, ódio, verdadeira aversão por imagens sacras. Parecia que as imagens olhavam para ele, com ar acusador. Começou a quebrar tudo, até reduzir em migalhas, não sentia a dor nem se importava com o sangue, que escorria dos ferimentos dos estilhaços.
Um dos moradores escutou o barulho, chamou outro vizinho, juntos foram ver o que era. Notaram os estragos do vandalismo feitos, e conseguiram impedir Arlen de continuar, imobilizando-o com uma corda em volta do corpo.
— Chame Eclecio, avise a polícia !
Pouco depois, auxiliado pelo babalorixá Eclecio, que fez ele beber um elixir, Arlen superou sua crise.
— Eu sofro de distúrbios psíquicos, estátuas me fazem muito mal, tenho ganas de destruir a todas. Irei pagar todos os estragos, ir embora logo ao amanhecer. Participar da reunião dos exus foi uma verdadeira tortura para mim, essa foi a causa da minha crise incontrolável, entrei em surto.
Pouco depois uma viatura da polícia chegou no lugar e Arlen foi transportado para uma clínica de psiquiatria.
O neuro psiquiatra observava a anamnese, ele já havia sido internado por destruir estátuas em cemitérios, igrejas e museus.
Arlen recebeu um tranquilizante, sendo internado em observação num quarto isolado.
Na semana seguinte após receber alta, acompanhado pela polícia, ele retornou ao vilarejo buscar o carrohome.
O babalorixá convidou-o para ir até o centro de umbanda. O altar havia sido reconstruído e as estatuetas dos orixás substituídas por novas.
— Ajoelhe-se perante o altar e peça desculpas para as entidades pelo sacrilégio que cometeu.
Arlen obedeceu e sentiu uma vibração de paz e uma luz celestial tomar conta dele. Era a primeira vez que ele sentia arrependimento, o sentimento de ódio de estátuas havia desaparecido, eram inovencivas, não podem falar nem se mover.
Desde aquele dia imagens de santos e outras esculturas, tornaram-se indiferentes para ele, e a umbanda ganhou mais um adepto, o escritor Arlen Koch, mais um cavalo do seu Tranca Rua das Almas, e novo morador da vila Aruanda.
Seu livro sobre Iconofobia e Eclesiofobia foi um sucesso, na capa havia uma imagem de Yemanjá, a rainha do mar, com seu manto azul igual as marolas do oceano.
Mensagem do conto : " Todo aquele que cometer um pecado e se arrepender, será perdoado de sua dívida e estará curado, perante o senhor "
FIM
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